sábado, 25 de dezembro de 2021
The last duel, do Ridley Scott
sábado, 18 de dezembro de 2021
A pressa passa — a desgraça fica
Queria algo curto, fácil de narrar e que contasse com poucos personagens e que de preferência com falas breves, dando menos trabalho para os amigos convidados. Dos textos que entraram no meu radar, Nove horas e trinta minutos, do Rubem Fonseca, pareceu a melhor escolha. Um teste, um aquecimento para algo maior. O resultado:
domingo, 5 de setembro de 2021
Reluctant hero, do Killer Be Killed
Herói relutante é aquele que se detém diante da Recusa — ele já foi chamado ou tem uma inclinação inata para a jornada, no entanto algo ou alguém o impede de seguir. Mau das pernas, represa energia sem saber o que fazer. Descobre que a Provação está tanto no ponto de partida quanto nos desafios ao longo do caminho.
Álbum (em alguns trechos) sobre recusa, Reluctant hero é o movimento explosivo de quem deixa de represar energia. Forte destaque para as linhas dos três vocalistas. A dinâmica deles atordoa tal como se fosse um invento inédito — você não memoriza nenhuma faixa, assim, de primeira, mas de alguma forma sabe que tudo foi muito bom e diferente.
Logo de cara "Dream gone bad" e "Inner calm from outer storms" são as faixas que mais criam espasmos involuntários no ouvinte. A que exige audição ativa se chama "From a crowded wound". Numa segunda audição, percebe-se mesmo que as melhores são a faixa título e "Left of center".
sábado, 21 de agosto de 2021
The Green Knight, do David Lowery
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Wrath of man, do Guy Ritchie
quinta-feira, 29 de julho de 2021
Dedicado àqueles que questionam a proibição de cadeiras
Não tem tempo ruim para esses militares. Não tem porta fechada. Eles precisam farejar uma ameaça onde não existe, pois só assim eles próprios conseguem existir. É o mundo como suas vontades; é a crença por cima dos fatos. Atual? De hoje! Exceto que foi escrito em 1976. Conto. Crônica. Sátira. Denúncia imune à censura, pois revestida de arte. Ignácio de Loyola Brandão é um dos meus heróis da literatura nacional, um dos primeiros com quem tive contato, de modo que me senti mais que vivo quando peguei o seu Os homens que descobriram cadeiras proibidas e, junto com amigos, gravei uma leitura dramática. Ficou assim:
domingo, 27 de junho de 2021
Cárcere
Supõe que eu mostrasse que é em prol de si que o povo escolhe um rei, e não em prol dele, para que, graças a seus esforços e empenhos, o povo possa viver em conforto e segurança; que é dever do príncipe pôr o bem-estar de seu povo à frente do seu, da mesmíssima forma que é função de um pastor digno desse nome alimentar não a si, mas a seu rebanho. A experiência mostra como se enganam os que pensam que a pobreza do povo é uma garantia de paz — onde encontrarás mais brigas do que entre mendigos? Quem está mais disposto a subverter as coisas do que o indivíduo mais insatisfeito com seu atual modo de vida? E quem é mais temerário em atacar a ordem estabelecida, na esperança de algum proveito, do que o homem que não tem nada a perder? Se um rei é tão desprezado e detestado por seus súditos que não consegue mantê-los em ordem a não ser intimidando-os com ameaças, extorsões e confiscos, reduzindo-os à mendicância, então melhor seria abdicar do que conservar o trono por meios tais que, ainda que conserve o título, perde toda a majestade de um rei — reinar sobre mendigos não condiz com a dignidade de um rei; ele deve ter súditos prósperos e contentes. É decerto isso que queria dizer Fabrício, aquele homem de espírito íntegro e altivo, ao afirmar que preferia governar os ricos a ser ele mesmo rico; e decerto entregar-se sozinho a luxos e prazeres, cercado pelos prantos e lamentos de outros, não é governar um reino, e sim um cárcere; por fim, tal como é inútil o médico que só sabe curar uma doença infligindo outra, da mesma forma aquele que não conhece outra maneira de melhorar a existência dos cidadãos a não ser lhes tirando as amenidades da vida está admitindo que não sabe governar homens livres.
— Thomas More, em Utopia
segunda-feira, 7 de junho de 2021
No Pátio do Dragão, do Robert W. Chambers
Produção pandêmica.
Na mitologia criada por Chambers, há uma peça de teatro chamada O Rei de Amarelo — quem lê essa arte demoníaca, enlouquece. Enlouquece também, hoje percebo, aquele que resolve editar podcast pela primeira vez, hm. Há também um ganho de dor nas costas pelo tempo sentado em frente aos espectros sonoros no Audacity. Fortes chances do conteúdo — um conteúdo que você escuta mil vezes antes de terminar o processo de edição — grudar na sua mente com forças várias, a ponto das falas aparecerem de repente quando você está andando na rua, lavando louça, checando saldo bancário. Não conversa sozinho? Vai começar. Se eu voltarei a fazer isso? Claro que sim. Recomendo.
Com fones, por favor:
Fiz a leitura deste No Pátio do Dragão, que só foi possível graças às letras do Edmundo Barreiros, tradutor d'O Rei de Amarelo publicado em 2014 pela editora Intrínseca. As trilhas eu peguei da biblioteca de áudio do Youtube. Os efeitos, bem, há muitos lugares com sonoplastia gratuita; de todos, fiz do 99Sounds minha morada. As aparições do Rei de Amarelo e do Monsenhor foram colaboração do meu irmão de projeto, Ricardo Augusto.
sexta-feira, 4 de junho de 2021
Escape Of The Phoenix, do Evergrey
Uma catarse sonora completa e necessária. Você pode descobrir energias represadas ao som de "Forever Outsider" na mesma medida em que pode achar nova calma e reflexão com "Stories".
Assim de primeira você sente que é um novo Evergrey: "Where August Mourn" e "The Beholder", esta com participação do James LaBrie, são as diferentonas que se ajustam tão depressa quanto uma roupa nova. Evergrey envelhece bem porque explora outros horizontes — dica pra vida.
Tom Englund cantando pra caralho: destaque para "In The Absence Of Sun" e "Eternal Nocturnal".
E uma outra recomendação, o melancólico Satelities, do Silent Skies.
Em 2018, Tom gravou o bom Long Night's Journey Into Day com o Redemption, conheceu o tecladista Vikram Shankar, e daí projetou o Silent Skies: voz e piano, com algumas cordas de apoio. Toda a experiência com navegação (tempestades internas e externas, a busca por um horizonte limpo, calmarias) somada à separação da esposa, parece o combustível criativo do artista. É tudo muito contemplativo e triste; não existe armadura eficaz contra essas melodias.
sábado, 15 de maio de 2021
O Crânio
quarta-feira, 21 de abril de 2021
Judas e o Messias Negro, do Shaka King
domingo, 28 de março de 2021
Your honor, do Peter Moffat
sábado, 27 de março de 2021
À exceção daqueles que nada sabem
Ross: Aí de mim, uma pobre pátria! Quase treme, só de pensar em olhar para si mesma. Em vez de nosso berço, terá de ser chamada de nosso túmulo. A ninguém se vê sorrindo, nunca, à exceção daqueles que nada sabem. Soluços e gemidos e gritos dilaceram o ar e uma emoção corriqueira. Quando dobram os sinos por algum finado, dificilmente alguém pergunta quem expirou. E expiram-se as vidas dos homens de bem antes de fenecerem as flores de seus chapéus. Morrem antes de adoecer.
— No Macbeth, do Shakespeare
domingo, 21 de fevereiro de 2021
Uma noite em Miami, da Regina King
sábado, 20 de fevereiro de 2021
Momento contemplativo = livre-arbítrio
Periodicamente, a humanidade passa por uma aceleração de seus problemas, e com isso conhece uma corrida entre a renovável vitalidade dos vivos e a iminente corrosão da decadência. Nessa corrida periódica, qualquer pausa representa um luxo. Somente então é que se torna possível refletir que tudo é permitido, que tudo é possível.
— Frank Herbert, no Filhos de Duna
domingo, 7 de fevereiro de 2021
Agir dominante
Os governos, se perduram, sempre tendem cada vez mais na direção de modelos aristocráticos. Não se sabe de nenhum governo, na História, que tenha se furtado a esse padrão. E, à medida que a aristocracia se desenvolve, o governo tende mais e mais a agir exclusivamente no interesse da classe dominante, quer essa classe seja a realeza hereditária, oligarquias de impérios financeiros ou a burocracia mais cristalizada.
— No, advinha só, Filhos de Duna, do Frank Herbert
sábado, 6 de fevereiro de 2021
O método de escolha
O bom governo nunca depende de leis, mas das qualidades pessoais dos que governam. A máquina do governo sempre está subordinada à vontade daqueles que administram essa máquina. Portanto, o elemento mais importante do governo é o método de escolha dos líderes.
— No Filhos de Duna, do Frank Herbert
terça-feira, 2 de fevereiro de 2021
Decisões parte 2 (ou: Admoestação repentina da princesa Irulan)
— Digo a vocês que perdemos algo vital. Quando o perdemos, perdemos junto a capacidade de tomar boas decisões. Hoje em dia, caímos sobre as decisões do modo como caímos sobre um inimigo, ou esperamos e esperamos, que é uma forma de desistir, e então permitimos que as decisões de outros nos ponham em movimento. Será que esquecemos que somos nós que disparamos esse fluxo atual?
— No Filhos de Duna, do Frank Herbert
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Decisões parte 1
Conhecimento demais nunca facilita decisões simples.
— No Filhos de Duna, do Frank Herbert
domingo, 31 de janeiro de 2021
Enquanto isso, em um pequeno pesado ensaio filosófico:
sábado, 30 de janeiro de 2021
Hannibal, do Bryan Fuller
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
Notas de um janeiro qualquer
Não existe mudança de um dia para o outro; na verdade, parece que tudo que você faz, em algum grau, não é para você, mas para quem vem depois de você. Legado, posteridade — é assim que justificamos a necessidade de semear ideias, de se reproduzir? Pareço um androide falando. Veja só: o tempo de uma vida não lhe é o bastante. Veja bem: o que não é para a posteridade, a sua porção, aquilo que você consegue aproveitar, acaba depressa, escapa pelos dedos, sopra um vento e apaga a centelha e aí você recomeça a lida em busca de algo mais concreto, em busca de significados; e cansa, escapa, apaga; recomeça, faz diferente, escapa, apaga, aproveita e acaba; é agora, agora vai, escapa, não é para você; centelha tremenda que queima depressa, você então recomeça; sopra um vento na sua porção e você não consegue aproveitar e, não olhe agora, mas aquilo que você tinha por significado concreto acaba de escapar; vai embora a mudança, vai embora um dia para o outro, vai embora as ideias semeadas; fica a lida e os dedos.
Tolice. “Em busca de significados”. Alguém sabe? O da vida que não é o bastante.
Aquele que quer saber, não descobre. Mas se sente realmente vivo ao tentar descobrir. O melhor sempre está na experiência. Produzir é obelisco, o produto é subatômico. Investigar um caso é melhor do que o caso em si. A sensação de coração batendo — e de saber que na verdade você não é um androide — acontece no meio e não no fim.
Você está nos meios, no meio, em meio, a meio. Tentando segurar firme, tentando proteger a centelha. Quando conseguir sua porção, pronto, um fim e ponto final, um fim para justificar os meios. Um fim que você define ali na hora e já era. É o momento, você sabe quando ele surge, quando ele surgiu. Sua intuição — que nunca cansa, escapa, apaga — presta para isso, presta para te dizer: você levantou o obelisco e investigou o caso. A mudança, o significado, se houve, aconteceu pela experiência e não pelo legado. Não de um dia para o outro, mas apenas em um momento, um momento que é como um coração tipo centelha, tipo vento. Se a posteridade aproveitar algo da lida dos seus dedos, ok, bom. Quanto a você, a satisfação nos meios, no meio, em meio, a meio, é a sua porção.
E agora? Recomeçar? Por que não?
Devaneio. Insights de 2021.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Moment, do Dark Tranquillity
Esse momento que o disco fala... seria aquele momento em solitude, em repouso auto imposto, em ócio depressivo, aquele momento em que você tem algo para fazer, mas ainda está descobrindo como fazer? Aquele momento de observação em que é possível entender o universo em uma folha caindo de uma árvore? É o Valis. O Alpeh.
Destaque para
"Identical to none", que toca num tema constante para a banda, o "ser nenhum";
"The dark unbroken", a trilha sonora de um 2020 cheio de insights inúteis;
"Eyes of the world" e "In truth divided", pois os vocais limpos do Stanne estão maravilhosos.
sábado, 16 de janeiro de 2021
Conseguir alguma coisa
A maneira zen-sunita de encarar o parto é esperar sem outro propósito no estado de mais elevada tensão. Não lute com o que está acontecendo. Lutar é preparar-se para o fracasso. Não se deixe prender pela necessidade de conseguir alguma coisa. Desse modo, você conseguirá tudo.
— Frank Herbert, no Messias de Duna
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Diferença de grau
O enunciado intrincado dos legalismos desenvolveu-se em torno da necessidade de esconder de nós mesmos a violência que temos a intenção de dirigir uns aos outros. Entre privar um homem de uma hora de sua vida e privá-lo de sua vida existe só uma diferença de grau. Foi cometida uma violência contra ele, foi consumida sua energia. Eufemismos elaborados podem disfarçar a intenção de matar, mas, por trás de todo e qualquer uso do poder para afetar outra pessoa, resta o pressuposto supremo: “eu me alimento de sua energia”.
— Frank Herbert, no Messias de Duna
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Em um trem desgovernado, um bandido discursa antes de pular fora
Como é que é? Ninguém mais quer se mexer? Tá todo mundo com medinho de morrer? Mas vai morrer! Porque o trem não vai parar e ninguém vai ter peito de saltar dele andando. Me dá até vontade de rir. Vocês passam a vida esperando pela morte dentro dessa geringonça. Esse trem não para, seus bestas. Tá sempre andando com vocês. Vocês pensam que entram e saem dele todo dia, mas estão enganados! Vocês já nasceram aqui dentro. E tão sempre nascendo pra encher essa lata velha que carrega vocês. (Ri.) Vocês estão sempre resmungando que essa lata não presta, tá sempre atrasada e isso e aquilo, mas tão só enchendo a lata, nascendo e enchendo ela com a cara de vocês, com a covardia de vocês, o suor fedorento e a merda de vocês. Até que um dia ela arrebenta! E vocês resmungando da porra do atraso. Seus merdas. Esse trem não tem que obedecer horário nenhum. Não sabem disso? Não sabem? Aqui dentro não tem tempo. Que que vocês são: tu é pedreiro, velho? Constrói casa, edifício, constrói? Constrói merda nenhuma. Tu nunca saiu daqui. Tuas paredes são essas. Tu levantou elas e elas te fecharam. Sai daqui, pedreiro, sai. Sai nada, pensa que sai. Num pensa que é saltando direitinho nas estações que você se livra das paredes, não. Elas vão atrás de ti. Lugar de macho na briga é brigando dentro dela pra sair com a vida nos dentes. Tem que furar caminho. Saltar do trem em movimento.
— n'O último carro, do João das Neves