segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Qual o segredo para sobreviver a um ataque em massa?

O segredo é não pensar em sobreviver. Você tem que considerar que aquele é o seu último e glorioso momento, e tudo que importa são as histórias que vão cantar depois que você ceifar a primeira e a segunda dezena de inimigos com brutalidade. E, bem, você quer que sejam boas canções, certo? Então, como disse, o segredo é não pensar em sobreviver e apenas se jogar na morte provável. Há um pouco de teatralidade na coisa: se os seus rugidos e golpes nada econômicos forem convincentes o suficiente, a terceira dezena irá hesitar, a quarta abrirá brechas para o seu ataque e a quinta irá pensar que você é tocado por um deus — e esse tipo de gente, gente tocada por um deus, sobrevive.

Só então, talvez, você seja merecedor de uma canção. Mas também não pense que viverá para escutá-las.

domingo, 20 de novembro de 2016

"Atlas, Rise!" salva

Depois de escutar os novos do Anthrax e Megadeth até criar rachaduras nas paredes, acabei achando as guitarradas desse Hardwired… To Self-Destruct meio sem sal. Me parece o tipo de disco que precisa ser escutado algumas vezes pra fazer sentido, mas ao mesmo tempo te dissuade da missão por ser um tanto quanto arrastado. Mas no geral o trampo dos caras tá valendo. Destaque para "Atlas, Rise!", "Now That We're Dead", "Moth Into Flame", "Am I Savage?", "Spit Out The Bone" e alguns momentos brilhantes de "Halo On Fire"

sábado, 19 de novembro de 2016

A vida — como ela realmente é — não se trata de uma batalha entre bom e mau, e sim entre mau e pior. 
— Joseph Brodsky

domingo, 13 de novembro de 2016

A verdade também apanha, de José Candido de Carvalho

Quando chegou em Pipeiras o delegado Nonô Pestana foi aquele zunzum, aquele mal-estar. O delegado veio arrastando enorme palmatória. Era com muito orgulho que Nonô dizia mostrando o instrumento de trabalho:

— Comigo não tem esse negócio de confissão espontânea coisa nenhuma! Comigo todo mundo entra no instrumental. É o único jeito da autoridade saber se o sujeito é criminoso ou inocente.

E bem Nonô não havia arregaçado as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar, nas malhas da lei, o crime de sua lavra:

— Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.

De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:

— É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para um cadeia de trinta anos um pobre inocente.

E soltou o homem.

sábado, 5 de novembro de 2016

Sobre narrar RPG depois de tanto tempo sem narrar RPG

Depois dos primeiros 23 minutos e 32 segundos você já está desidratado, cansado, parece que está perdendo calorias a cada respiração. Você não vê o relógio, mas acha que os ponteiros estão correndo loucos, sabotando o seu timing de quatro horas planejadas. Você acha que está suando muito. Nervoso, esquece de falar a aparência de um dos principais npc's e, pior, mal concede um momento para os jogadores interagirem entre eles. Nota esses deslizes tão tarde que já nem liga, pois aí já está percebendo outras falhas. Você tem uma colinha, um roteiro meia boca anotado, mas nem olha, nem confere, apenas continua narrando enquanto pensa que nunca mais vai narrar, que é trabalhoso demais e você já não tem cérebro para essas coisa, tá enferrujado, mais divertido mesmo é só jogar, interpretar um único personagem e tal. Contar histórias é penoso, dói os músculos todos, afrouxa as cordas na garganta, credo, por que alguém topa ser narrador de RPG? Saí fora! Quando acaba parece que você completou uma corrida ou fez a janta sem sujar a cozinha ou acertou no presente de aniversário de fulano: ufa! Despedida total. Depois dessa você pode se meter numa caverna por uns 54 anos. Acabou. 

Chega em casa, joga as parafernálias rpgísticas por aí, uma delas chama sua atenção, você se lembra da cena, pensa o que poderia ter mudado, é, dava pra fazer assim e não assado, talvez se diminuir o desafio nessa cena pudesse aumentar o tempo de interação naquela outra, alguns limites aqui, escopo mais aberto ali, mais diálogo, mais explicação, sim, dava, e aquela ponta solta poderia ser resolvida assim e assim, verdade, talvez em outra história, é, isso, em outra one shot, um puxadinho dessa, puts, dá pra fazer!, já é, tá tudo ali, só precisa acertar algumas coisas, rascunhar o miolo, eita, boa, boa. 

Corre e tecla pro parceiro de mesa: to com uma nova sessão em mente aí, coisa de quatro horas de jogo, por aí rs. Se pá fds que vem, hm

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Pausa pra pensar alto

Revendo Ironclad (que é, puxa vida, um filme mal feito com um elenco animal — se tivesse ficado de molho por mais alguns anos talvez levasse umas edições preciosas, mais cenas pro Charles Dance e pra Kate Mara, uma Ressurreição e um desfecho melhor para o escudeiro, inteirações secundárias entre os personagens secundários, et cetera) e relendo O poder da espada do bruxo Joe Abercrombie acabei ficando pensativo especulativo. Vontade de disparar um e-mail para o Peter Jackson falando pra ele abrir o olho para os livros do Joe e meter logo as produções cinematográficas e escalar de primeira, sem fazer teste nem nada, o James Purefoy para encarnar Logen Nove Dedos. E, claro, para viver Glokta não existe caretas melhores que as do Mark Margolis, tu sabe quem é Petey: é o tio Salamanca da Breaking Bad. Vish, seria perfeito. Só aqui pensando mesmo.