domingo, 25 de dezembro de 2016

Enquanto isso, em The Man In The High Castle

É uma das melhores adaptações que já vi, do tipo que acrescenta status à obra original, pois realmente entendeu a ideia. Num rápido diálogo, refletiu toda uma forma de pensar do tio Phil. Ele teria adorado essa série só por isso:
— Desculpe, fiquei pensando se você não quer estar aqui ou se nunca está de verdade num lugar. Isso seria um pouco triste, entende?

— Não, explique. 

— Se sua mente está sempre em outro lugar, de certo modo você nunca vive algo de verdade, certo? Nada nunca é real.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Conselho do mago Bayaz

Depois de alcançar o poder, precisamos nos distanciar imediatamente de todos os aliados. Eles sentem que você lhes deve a vitória, e nenhuma recompensa jamais irá satisfazê-los. Em vez disso, você deve agradar a seus inimigos. Eles vão adorar cada pequeno presente, por saber que não os merecem. 
— n'O duelo dos reis, do Joe Abercrombie

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

M&M & Marvel: Visão

Nível 11

HABILIDADES [6p]
Força: 16/36 (+3/+13); Destreza: 10 (+0); Constituição: — ; Inteligência: 20 (+5); Sabedoria: 12 (+1); Carisma: 8 (-1).

SALVAMENTOS [10p]
Resistência: 8/13 (Impenetrável); Fortitude: — ; Reflexos: 4; Vontade: 7.

COMBATE [32p]
Iniciativa: 0; Defesa: 18 (14 Desprevenido); Ataque: 8; Dano: Desarmado 3/13, Raio 13.

PERICIAS [56 graduações, 14p]
Computadores 12 (+17); Concentração 8 (+9); Conhecimento: Tecnologia 12 (+17); Desarmar Dispositivo 8 (+13); Ofício: Eletrônica 8 (+13), Mecânica 8 (+13).

FEITOS [7p]
Bem Informado, Faz Tudo, Interpor-se, Memória Eidética, Tiro Preciso 2, Trabalho em Equipe. 

PODERES [171p]
  • Atordoar 9 (Extra: Afeta Corpóreo [+1]; Falha: Limitado, apenas quando intangível [-1]; 18p) 
  • Compreender Idiomas 3 (Pode falar, entender e ler em qualquer idioma; 3p)
  • Comunicação 9 (Rádio; 9p)
  • Controle de Luz 1 (2p)
  • Densidade 10 (Força +20, Proteção Impenetrável 5, Imóvel 3, Super Força 3; Poder Alternativo: Intangibilidade 4; 31p) 
  • Elo Eletrônico 9 (Rádio, 9p)
  • Imunidade 30 (Efeitos de Fortitude; 30p) 
  • Proteção 8 (Extra: Impenetrável; 16p)
  • Raio 13 (26p)
  • Rapidez 2 (Falha: Tarefas mentais [-1]; 1p)
  • Regeneração 9 (Bônus de recuperação +9; Feito: Crescimento de Membros; 10p) 
  • Super Força 3 (6p)
  • Super Sentidos 6 (Sentidos Ampliados: Detecção [Aguçado, Exato 2]; Sentidos Adicionais: Detecção 2 [Sinal Vital, Energia], Rádio, Ultra audição; 6p)
  • Voo 4 (Falha: Limitado, não funciona com Densidade ativa; 4p)



Habilidades 6 + Salvamentos 10 + Combate 32 + Perícias 14 (56 graduações) + Feitos 7 + Poderes 171 = 240 pontos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

M&M & Marvel: Pantera Negra

T'Challa
Nível 10

HABILIDADES [50p]
Força: 20 (+5); Destreza: 20 (+5); Constituição: 20 (+5); Inteligência: 18 (+4); Sabedoria: 16 (+3); Carisma: 16 (+3).

SALVAMENTOS [14p]
Resistência: 10 (4 Impenetrável); Fortitude: 9; Reflexos: 9; Vontade: 9.

COMBATE [40p]
Iniciativa: 9; Defesa: 20 (15 Desprevenido); Ataque: 10; Dano: Desarmado 5, Golpe 8, Raio 3.

PERICIAS [184 graduações, 46p]
Acrobacia 12 (+17); Blefar 8 (+11); Conhecimento: Ciências físicas 12 (+16), Educação cívica 8 (+12), Negócios 8 (+12), Tática 12 (+16), Tecnologia 8 (+12); Diplomacia 12 (+15), Escalar 8 (+13); Furtividade 8 (+13); Intuir Intenção 12 (+15); Lidar com Animais 8 (+11); Nadar 8 (+13); Notar 8 (+11); Obter Informação 6 (+9); Ofício: Eletrônica 8 (+12), Engenharia 12 (+16), Mecânica 8 (+12); Sobrevivência 12 (+15); Idiomas 6 (Árabe, Espanhol, Francês, Hausa, Inglês, Russo, base: Swahili). 

FEITOS [75p]
Alvo Esquivo, Arremessar Aprimorado, Agarrar Aprimorado, Agarrar Instantâneo, Ataque Acurado, Ataque Defensivo, Ataque Dominó, Ataque Furtivo, Ataque Imprudente, Ataque Poderoso, Bem Informado, Bem Relacionado, Benefício 3 (Autorização de segurança, Imunidade diplomática, Status), Blefe Acrobático, Bloquear Aprimorado, Contatos, De Pé, Derrubar Aprimorado, Desarmar Aprimorado, Equipamento 44, Estrangular, Imobilizar Aprimorado, Iniciativa Aprimorada, Inventor, Luta no Chão, Maestria em Arremesso, Plano Genial, Prender Arma, Rastrear, Rolamento Defensivo.

PODERES [9p]
  • Salto 1 (1p)
  • Super Movimento 1 (Queda lenta; 2p)
  • Super Sentidos (Sentidos Ampliados: Visão [Estendida], Audição [Estendida]; Sentidos Adicionais: Faro, Visão no escuro; 5p)
  • Velocidade 1 (1p)

DISPOSITIVO — Uniforme 9 [45p distribuídos, 36p total]
  • Camuflagem 2 (Visão; Falhas: Limitado somente nas sombras [-1]; 2p)
  • Comunicação 9 (Rádio; 9p)
  • Golpe 3 (Extra: Penetrante [+1]; Feitos: Crítico Aprimorado, Pujante, Sutil; Poder Alternativo: Raio 3; 10p)
  • Imunidade 10 (Impacto; 10p) 
  • Morfar 3 (O uniforme pode assumir qualquer forma, se tornando, inclusive, roupas normais; 3p)
  • Proteção 4 (Extra: Impenetrável [+1]; 8p)
  • Super Movimento 2 (Andar na água, Escalar paredes; Falha: Limitado somente em corrida [-1]; 2p) 
  • Super Sentidos 1 (Rádio; 1p)


Habilidades 50 + Salvamentos 14 + Combate 40 + Perícias 46 (184 graduações) + Feitos 75 + Poderes 9 + Dispositivo 36 = 270 pontos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Ao menos

Sendo a vida o que é, a gente sonha com vingança — e tem que contentar-se com sonhar.
— Paul Gauguin

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Desde criança...

... sempre gostei de uma boa história. Eu acreditava que histórias ajudavam a nos enobrecer, a consertar o que estava quebrado em nós... e nos ajudavam a nos tornar as pessoas que sonhávamos ser. Mentiras — que contavam uma verdade profunda.
— Dr. Robert Ford, na labiríntica Westworld

domingo, 4 de dezembro de 2016

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Qual o segredo para sobreviver a um ataque em massa?

O segredo é não pensar em sobreviver. Você tem que considerar que aquele é o seu último e glorioso momento, e tudo que importa são as histórias que vão cantar depois que você ceifar a primeira e a segunda dezena de inimigos com brutalidade. E, bem, você quer que sejam boas canções, certo? Então, como disse, o segredo é não pensar em sobreviver e apenas se jogar na morte provável. Há um pouco de teatralidade na coisa: se os seus rugidos e golpes nada econômicos forem convincentes o suficiente, a terceira dezena irá hesitar, a quarta abrirá brechas para o seu ataque e a quinta irá pensar que você é tocado por um deus — e esse tipo de gente, gente tocada por um deus, sobrevive.

Só então, talvez, você seja merecedor de uma canção. Mas também não pense que viverá para escutá-las.

domingo, 20 de novembro de 2016

"Atlas, Rise!" salva

Depois de escutar os novos do Anthrax e Megadeth até criar rachaduras nas paredes, acabei achando as guitarradas desse Hardwired… To Self-Destruct meio sem sal. Me parece o tipo de disco que precisa ser escutado algumas vezes pra fazer sentido, mas ao mesmo tempo te dissuade da missão por ser um tanto quanto arrastado. Mas no geral o trampo dos caras tá valendo. Destaque para "Atlas, Rise!", "Now That We're Dead", "Moth Into Flame", "Am I Savage?", "Spit Out The Bone" e alguns momentos brilhantes de "Halo On Fire"

sábado, 19 de novembro de 2016

A vida — como ela realmente é — não se trata de uma batalha entre bom e mau, e sim entre mau e pior. 
— Joseph Brodsky

domingo, 13 de novembro de 2016

A verdade também apanha, de José Candido de Carvalho

Quando chegou em Pipeiras o delegado Nonô Pestana foi aquele zunzum, aquele mal-estar. O delegado veio arrastando enorme palmatória. Era com muito orgulho que Nonô dizia mostrando o instrumento de trabalho:

— Comigo não tem esse negócio de confissão espontânea coisa nenhuma! Comigo todo mundo entra no instrumental. É o único jeito da autoridade saber se o sujeito é criminoso ou inocente.

E bem Nonô não havia arregaçado as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar, nas malhas da lei, o crime de sua lavra:

— Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.

De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:

— É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para um cadeia de trinta anos um pobre inocente.

E soltou o homem.

sábado, 5 de novembro de 2016

Sobre narrar RPG depois de tanto tempo sem narrar RPG

Depois dos primeiros 23 minutos e 32 segundos você já está desidratado, cansado, parece que está perdendo calorias a cada respiração. Você não vê o relógio, mas acha que os ponteiros estão correndo loucos, sabotando o seu timing de quatro horas planejadas. Você acha que está suando muito. Nervoso, esquece de falar a aparência de um dos principais npc's e, pior, mal concede um momento para os jogadores interagirem entre eles. Nota esses deslizes tão tarde que já nem liga, pois aí já está percebendo outras falhas. Você tem uma colinha, um roteiro meia boca anotado, mas nem olha, nem confere, apenas continua narrando enquanto pensa que nunca mais vai narrar, que é trabalhoso demais e você já não tem cérebro para essas coisa, tá enferrujado, mais divertido mesmo é só jogar, interpretar um único personagem e tal. Contar histórias é penoso, dói os músculos todos, afrouxa as cordas na garganta, credo, por que alguém topa ser narrador de RPG? Saí fora! Quando acaba parece que você completou uma corrida ou fez a janta sem sujar a cozinha ou acertou no presente de aniversário de fulano: ufa! Despedida total. Depois dessa você pode se meter numa caverna por uns 54 anos. Acabou. 

Chega em casa, joga as parafernálias rpgísticas por aí, uma delas chama sua atenção, você se lembra da cena, pensa o que poderia ter mudado, é, dava pra fazer assim e não assado, talvez se diminuir o desafio nessa cena pudesse aumentar o tempo de interação naquela outra, alguns limites aqui, escopo mais aberto ali, mais diálogo, mais explicação, sim, dava, e aquela ponta solta poderia ser resolvida assim e assim, verdade, talvez em outra história, é, isso, em outra one shot, um puxadinho dessa, puts, dá pra fazer!, já é, tá tudo ali, só precisa acertar algumas coisas, rascunhar o miolo, eita, boa, boa. 

Corre e tecla pro parceiro de mesa: to com uma nova sessão em mente aí, coisa de quatro horas de jogo, por aí rs. Se pá fds que vem, hm

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Pausa pra pensar alto

Revendo Ironclad (que é, puxa vida, um filme mal feito com um elenco animal — se tivesse ficado de molho por mais alguns anos talvez levasse umas edições preciosas, mais cenas pro Charles Dance e pra Kate Mara, uma Ressurreição e um desfecho melhor para o escudeiro, inteirações secundárias entre os personagens secundários, et cetera) e relendo O poder da espada do bruxo Joe Abercrombie acabei ficando pensativo especulativo. Vontade de disparar um e-mail para o Peter Jackson falando pra ele abrir o olho para os livros do Joe e meter logo as produções cinematográficas e escalar de primeira, sem fazer teste nem nada, o James Purefoy para encarnar Logen Nove Dedos. E, claro, para viver Glokta não existe caretas melhores que as do Mark Margolis, tu sabe quem é Petey: é o tio Salamanca da Breaking Bad. Vish, seria perfeito. Só aqui pensando mesmo.  

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

sábado, 8 de outubro de 2016

Dran

Estava eu lá jogando um Guerra dos Tronos RPG de boas, meu Draerys 'Dran' Avalyon metido num torneio em Porto Real com conspirações rolando nos bastidores, quando de repente o narrador resolve me alavancar para a final, para enfrentar um certo príncipe Baelor Targaryen (aquele conhecido pela alcunha de Quebra Lanças — você certamente leu O cavaleiro dos sete reinos e O mundo de gelo e fogo,  hm?). O cenário de jogo é depois da Rebelião Blackfyre. A casa do meu personagem, e dos meus camaradas de jogo (que interpretam meu irmão, tio, pai e confidente do pai), é uma casa na pegada dos Targaryen — veio de Valyria antes de dar ruim praqueles lados de lá. Aí nos tempos atuais, os Avalyon lutaram do lado que perdeu a Rebelião, mas o rei lançou um perdão e ficou todo mundo de bem, iniciou um torneio maroto, e lá chegaram os Avalyon pra competir e conspirar.

Tipo essa imagem do mago Marc, só que sem dragões, que morreram tudo, muito antes da Rebelião, hm
Fazia um belo tempo que não escrevia um "reporte de campanha", e o narrador que começou com a ideia, escrevendo um conto da primeira sessão de jogo através do ponto de vista do escudeiro do meu Dran, o pobre Jon. Então entrei na brincadeira e reportei o seguinte:

Aquele era o único momento que ele não pensava em nada. Absolutamente nada. Sua mente se tornava um campo vazio, branco. Tudo que importava era o seu golpe e o golpe do adversário. O restante parava de existir bruscamente. Era um não-momento, então.

Mas depois que quebrou a primeira lança com o príncipe, Dran foi chacoalhado pela realidade impiedosa: estava na final de um torneio — estava na final de um torneio com o futuro herdeiro do trono. Como isso aconteceu? Tinha se preparado para aquilo, óbvio. Aprendeu cavalaria desde cedo com Sor Liam, o mestre de armas dos Avalyon. Lança e escudo foram os seus melhores amigos enquanto crescia. Um torneio era a prova de fogo e ele se achava mais do que pronto para ser uma adversário de respeito e memorável. Mas não esperava por... tanto.

Até parece errado, pensou, ofegante. O bafo quente de quem não comeu nada nas últimas horas embaçou sua visão do mundo. Ou seria lágrimas, suor? Parece errado. Eu. Competindo. Com ele.

Lentamente, como se o mundo tivesse desacelerado, Dran moveu Silencioso no outro lado do cercado. Seus olhos se desviaram para o pessoal que assistia e a sensação inicial foi de vertigem pura. Se segurou firme nas rédeas e sem querer apertou Silencioso com as esporas, para se manter sobre ele. O cavalo nem se quer relinchou, como de costume — apenas moveu a cabeça, contrariado. Dran sussurrou para o cavalo:

— Desculpa.

A voz saiu embargada, como quando falou com Jeyne pela primeira e segunda e terceira vez, meses atrás. Mas Silencioso deve ter escutado e compreendido pois se posicionou praticamente sozinho junto ao cercado.

Jeyne.

Não, não podia pensar nela agora. Ainda ofegante, jogou fora a lança quebrada e pegou outra com Jon, seu escudeiro. O menino olhou para Dran com um rosto difícil de decifrar, admiração e preocupação junto, talvez. E foi aí que Dran sentiu o ombro latejando. Tinha sido atingido, então. Mas no campo vazio que era sua mente quando competia, mal percebera.

Olhou para o príncipe, no outro extremo. Ileso.

Mal encostei em seu escudo, Dran pensou, ainda sem conseguir uma cura para a respiração errada. O campo vazio de sua mente estava, aos poucos, sendo poluído de coisas, interpretações, medos. Sentia que não tinha chance contra o herdeiro, uma rodada da justa já lhe provara isso. Na verdade, uma observação fora suficiente, antes da competição ter inicio: Baelor, montado e portando a lança, já passava muitas informações. Assistir torneios ajudou Dran a ter um bom olho para essas coisas. Era possível reconhecer um exímio cavaleiro só ao assisti-lo montar, na linha reta dos ombros, no jeito em que suas costas se curvam quando começa o trote, na firmeza da lança estendida. Dran viu tudo isso e soube que era muito.

Parecia errado competir com Baelor.

Mas até então, viu grandes qualidades no Senhor Arryn e mesmo assim o derrubou do cavalo com certa... facilidade, na segunda rodada do torneio. Isso podia ser encorajador, mas Dran prezava pela modéstia. Arryn me deixou ganhar. A competição não era importante para ele e ele me deixou ganhar. Era a explicação racional.

Já Baelor... Esse sim tem interesse na competição.

Avançaram. Dran trincou os dentes e cerrou os olhos. Baelor era uma mancha mortal vindo em sua direção. Será que ele, Dran, também era uma mancha mortal aos olhos do outro? Um competidor que poderia significar alguma ameaça, ainda que mínima?

Talvez não: no choque, Dran quase caiu, sua cabeça indo para trás como se arrancada do corpo. Silencioso diminuiu o passo no tempo certo, impedindo que seu dono rolasse pela sela. E, de alguma forma, quando chegou ao fim do cercado, Dran ainda estava montado.

Tossiu, sentindo a súbita leveza da lança em sua mão: partida. Quando Silencioso começou a virar, ele olhou imediatamente para o príncipe, apenas para checar que ele estava ileso e reluzente. Nem a poeira parecia grudar naquela armadura Targaryen. Era como se Dran estivesse quebrando suas lanças no ar e não no escudo ou na armadura do oponente.

O campo branco foi ficando cinzento de raiva.

Dran levantou a viseira — agora um pouco amassada — e buscou Jon, que já chegava com outra lança. O menino olhou estranho de novo, como se houvesse algo de muito errado no rosto de Dran, que resolveu passar alguns dedos na testa. A luva voltou molhada de suor e sangue.

Na multidão, gritos ecoavam num volume baixo, sufocados pelo coração de Dran. Será que eles escutam?, se perguntou, enquanto convencia o ar a entrar nos pulmões, será que escutam meu coração?

Jeyne certamente escutava. Uma cabeça mais baixa que ele, ela sempre escutava seu coração quando se abraçavam. Onde ela estaria agora? Mais de uma semana sem responder as cartas e, de volta à Porto Real, tudo que Dran achara fora um rastro gelado. Jeyne sumira de repente, junto com toda uma equipe de serviçais da corte dos Targaryen. A Rebelião fez isso? A guerra que ele não participou desapareceu com a pessoa que ele descobriu amar?

E onde ele estava quando essas coisas aconteceram?

Escondido em casa, pensou, irritado consigo mesmo. Poderia ter vindo para Porto Real. Poderia ter previsto que, em tempos conflituosos, coisas mudam, coisas acabam. E, no entanto, ficou quieto, se tornando cavaleiro e treinando com Sor Lian, restringido por uma ordem de seu pai de não participar da guerra, enquanto sua amada sumia misteriosamente.

Seu pai. Senhor Viserys Avalyon.

Não dava pra jogar toda a culpa no pai, claro. Dran poderia ter tentado sair, como já fizera em outras ocasiões, com ajuda do Meistre Morgan. Conseguir um barco não seria difícil, e Dran já tinha uma boa relação com os mercantes, de modo que uma viagem clandestina seria fácil e rápida, a ilha dos Avalyon não ficava nem há três dias de navegação de Porto Real. Mandar cartas sempre foi mais seguro — e tinha algo de romântico naquilo que Jeyne gostava —, mas ele poderia, sim, ter se esforçado mais para se encontrar com ela pessoalmente naqueles dias ruins.

Mas não o fez. E agora ela estava sumida, ele tinha poucas pistas do paradeiro dela e cada vez menos tempo para resolver sua busca secreta, dado os planos do pai, de casá-lo com uma nobre da casa Arryn, política coalhada.

Senhor Viserys — algo não estava certo com ele. Era o que Dran já tinha escutado em algum lugar: os senhores da guerra nunca entram em paz, apenas em hiatos onde planejam mais guerras. Não que seu pai fosse causar alguma coisa, mas estava preparado demais, se antecipando demais, buscando alianças com a mente matemática de quem teme algo...

E é exatamente isso que eles querem.

Eles — os donos daquela moeda que vieram entregar no pavilhão dos Avalyon, os donos da intriga que acontecia lentamente ao redor daquele torneio e, agora, envolvia seu pai. Gente pra lá do Mar Estreito tramava com Viserys em tendas fechadas. Dran não teve tempo de investigar, mas algumas opiniões já erigiam castelos em sua mente... Querem que ele pareça suspeito, que se mova em várias direções e pareça desesperado para criar alianças rápidas e convenientes. Todos sabem que os Avalyon lutaram do lado perdedor, não é? Pois estavam jogando e convidando Viserys para ser um dos jogadores principais. E dessa vez não haveria perdão real.

Ou então esse era apenas Dran com rancor das atitudes de seu pai, tentando racionalizar as decisões de casar Dran com uma Arryn, assim como racionalizou a derrota do Senhor Arryn... Vai ver que foi isso que o derrubou da sela. Não minha perícia com a lança, mas a cortesia dele para com o futuro genro.

Mas só havia uma pessoa com quem Dran gostaria de se casar. Sua lealdade já estava comprada e transcendia as necessidades de sua casa. E, afinal, ele nem era o filho mais velho! Que seu irmão participasse dos jogos de poder e fosse o fantoche que Viserys tanto queria ter à mão.

Dran não. Dran faria seu próprio caminho, e nome desse caminho era Jeyne.

E ele não se importava se era bastarda ou o que for que a sociedade gostaria de nomeá-la.

Olhou para a multidão e viu Viserys. Fechou a viseira com força, encerrando a visão do pai nos círculos pequenos do aço amassado.

Então a nova lança na sua mão ganhou um peso a mais — desafio. Por um momento quis que fosse seu pai, e não Baelor, no outro extremo. Ali, longe dos jogos de palavras, poderia derrotar o pai. Não por prazer, raiva ou qualquer outro sentimento estúpido mal resolvido no seio familiar. Não. Derrubaria o pai apenas para provar que podia, que não era mais uma sombra dele, e que estava livre para fazer o que quisesse.

Os contos preferidos que escutava do Meistre Morgan eram sempre aqueles em que os filhos derrotavam os pais.

O campo cinzento de raiva ficou vermelho — e talvez por isso dessa vez acertou Baelor. Um acerto mediano, que não preocupou o outro, mas que pelo menos impediria o príncipe de ganhar aquela competição sem ser pego ao menos uma vez.

Dran quase caiu novamente, mas ainda não era o tempo. Sentia o cansaço como se estivesse lutando por horas. Ombro, cabeça, peito — estava todo dolorido. Sua garganta era que nem lixa, cada respiração fazendo um chiado seco. Podia desistir, certo?

Virou Silencioso no cercado. Pegou outra lança e encarou o adversário. A multidão gritava. Será que os relatos daquela justa chegariam aos ouvidos dela? Se sim, então não poderia desistir.

Quando Dran percebeu, já estava recebendo outro golpe. Esse nem doeu, pois Dran já estava um tanto quanto além da dor. Pensou ter caído, mas ainda estava sobre Silencioso quando chegou no final do cercado. Seu escudo já era ferro entortado ao passo que o príncipe Baelor estava, veja bem, ileso.

Será que ele está ao menos suado?, Dran levantou a viseira, secou o suor, piscou muitas vezes, para espantar aquela vista embaçada que se instalou sem permissão. Não conseguiu.

Agora seria um bom momento para desistir.

Mas se Dran desistisse, o que isso diria sobre ele?

Desafio. Ele precisava continuar. Não queria fama, queria apenas descobrir que era capaz. Precisava provar algo para si mesmo, ali. Um trabalho estava sendo feito em seu espírito obstinado. E era uma mensagem para os outros: não desistiria de alcançar seus objetivos — teria de ser derrubado para isso. Que seu pai entendesse a mensagem. Que Jeyne, em algum lugar, ouvisse falar daquilo e soubesse que a distância que os separava não seria um adversário à altura de Dran.

Esse era o único poder que realmente existia, e por ele, somente por ele, valia a pena guerrear. Era por causa desse poder que, dessa vez, ele derrubaria o príncipe. Dran avançou, armado de amor.

Mas algo deu errado, Dran não derrubou o príncipe. Ao invés disso, sua cabeça finalmente saiu — foi exatamente essa a sensação quando o elmo voo longe, ao ser atingido pela lança de Baelor. E ele não viu mais nada depois do choque. O campo voltou a ser branco, muito branco.

Estava, novamente, no não-momento. Seu último pensamento foi para...

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sobre o novo da Emma Ruth Rundle

Dureza parar de escutar esse aqui. Emma é uma feiticeira.



terça-feira, 4 de outubro de 2016

Tesouros de Curitiba e outras histórias, de Valter Cardoso

Foi presente. Fiquei encabulado, até demorei para encontrar as palavras. Achei numa hora dessa: 

Valter Cardoso tem um jeito especial de contar histórias com os olhos no final, na revelação de algo. O que acontece na maioria dos contos dessa antologia é uma pincelada dos detalhes te preparando para alguma coisa, detalhes que passam a fazer maior sentindo quando o oculto se revela e o conto termina. A dica na orelha é importante: "Fugindo do óbvio, tento trazer ao leitor uma experiência nova e inédita em cada conto. Alguns ficam mais evidentes em uma segunda leitura".

Tesouros de Curitiba é uma exceção, o foco aqui está na jornada. Um grupo veterano faz um tipo de caça ao tesouro por uma Curitiba futurista. Nem precisa ser de Curitiba para curtir, mas se for, melhor para sua leitura. Mas o mais legal é o imenso iceberg do cenário atual do mundo, que o autor faz questão de revelar só uma ponta, brincando com a imaginação alheia. Rolou uma guerra, hackers no fronte, e agora internet é proibida. As pessoas voltam a entrar em bibliotecas para descobrir coisas. E tem alguns andarilhos sequelados por causa de conexões mentais clandestinas, tipo um Matrix que deu ruim para eles. Coisa de louco. 

Eu tenho uma queda por essas narrativas que conversam com o leitor, daí fico inclinado a deixar Presas na paixão no pódio. Ao lado cabe Previsão do tempo, ficção científica da boa que vai entortar sua mente, como toda viagem no tempo costuma fazer, melhor ainda quando a história é contada apenas com diálogos. E para o conto Fita de Moebius tá valendo uma exploração no Google do que raios é Fita de Moebius — eu fiz depois da leitura e o sentido da coisa toda caiu sobre minha mente como bigorna pesada.

Tesouros de Curitiba e outras histórias joga com 12 contos no total, histórias com situações que podem lhe ser comuns só que vestidas no camisão bacana da ficção científica. Um belo presente. 

sábado, 1 de outubro de 2016

Quando formato e história dão muito certo, o nome que se dá para isso é Mr. Robot


Na primeira era aquela coisa de controle, tomar o poder de volta, bem Projeto Desordem e Destruição. Agora, na segunda temporada de Mr. Robot você aprende que controle é uma ilusão, controle das situações que crescem para além do alcance de suas mãos, controle de si mesmo. A paranoia noir é tão bem feita — legado da primeira temporada —, que você suspeita que aquele e esse personagem não são quem são, e sim projeções inconscientes (controle é uma ilusão) do Elliot, o protagonista à altura de Tyler Durden. Aliás, me pergunto se Chuck Palahniuk assiste esse show, contemplo os screenplay e a trilha ruidosa pesada e questiono para o meu zíper o que David Fincher tá achando disso tudo. Será que Ridley Scott assistiu o episódio 11 e curtiu aquele teste de empatia? — certamente Philip K. Dick teria aplaudido de pé. 

Seriado monstro.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

"Canção de Cassilda" em O Rei de Amarelo, ato I, cena 2

O mar quebra pela orla, vago,
Os sóis gêmeos afundam sob o lago,
As sombras se alongam
Em Carcosa. 

Estranha é a noite em que estrelas negras sobem,
E estranhas luas o céu percorrem
Mas ainda mais estranha é a
Perdida Carcosa.

Que morra inaudita,
Onde o mando em retalhos do Rei se agita;
A canção que entoarão às Híades na
Obscura Carcosa. 

Canção de minh'alma, minha voz é finada;
Morra sem ser entoada, como lágrima jamais derramada
Seca e morta na
Perdida Carcosa. 
— em O rei de amarelo, do Robert W. Chambers

sábado, 24 de setembro de 2016

Para contadores de histórias 2

Penso que observação é um terço da coisa. Daí me vem em mente um trio bom pra dissecar, livros que ensinam tanto quanto divertem. Recomendo com todas as forças aos contadores de história.   


Mestre Gil de Ham, do J. R. R. Tolkien
Tem alguns livros menores do Tolkien por aí que são bem divertidos, mas o mais bacana não é a história em si, acredite. Legal mesmo é a edição, que traz mais de uma versão do texto para que o leitor veja as mudanças que o autor fez, do rascunho até a obra final. Mestre Gil de Ham é um desses livros. Além disso, aqui Tolkien é muito mais sucinto que em O senhor dos anéis, quase parece outro autor, a narrativa correndo leve, cômica, universal, pega o interesse de qualquer idade. 

Ratos e homens, do John Steinbeck
O livro preferido do Sawyer, da série Lost. Fui ler, todo curioso, anos depois do seriado terminar. E, bom, é um livro que você não dá muito crédito logo de cara, capa simples, titulo estranho, poucas páginas — o que será que valeu o prêmio Nobel de 1979? Ah... só sei que desde então li Ratos e homens três vezes e não ficaria surpreso comigo mesmo se o pegasse neste instante para uma quarta rodada. A história é boa em sua simplicidade comovente, mas eu daria o Nobel por causa dos diálogos geniais, que são quase como música. Sério mesmo, Steinbeck escreveu um manifesto de agilidade em diálogos disfarçado de pequena história. E exagero mais: vital para a formação de qualquer contador de histórias! 

A música do silêncio, do Patrick Rothfuss  
Ao contrário do Ratos e homens, A música do silêncio não possui lições para diálogos — pois não há um se quer! Em termos de história, deve fazer maior sentindo pra quem leu O nome do vento. Pra quem não leu, tudo bem, fica a observação do texto em terceira pessoa, ponto de vista de uma menina esquizofrênica morando sozinha no subsolo de uma universidade num mundo de fantasia medieval com alguns avanços científicos. Pat Rothfuss dá uma aula breve de como colocar no papel sentimentos e opiniões e pensamentos quaisquer sem nunca dizê-los literalmente, pois a personagem de fato não tem com quem conversar, hm. Texto sugestivo, exige percepção, às vezes consegue gerar mais de uma interpretação. Vale.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

— Que lhe parece que possa ter matado aqueles homens, Gered?

— Foi o frio — disse Gered com uma certeza férrea. — Vi homens congelar no inverno passado e no outro antes desse, quando eu era pequeno. Toda a gente fala de neve com doze metros de profundidade, e do modo como o vento de gelo chega do norte uivando, mas o verdadeiro inimigo é o frio. Aproxima-se em silêncio, mais furtivo do que o Will. A princípio estremece-se e os dentes batem, e bate-se com os pés no chão e sonha-se com vinho aquecido e boas e quentes fogueiras. Ele queima, ah, como queima. Nada queima como o frio. Mas só durante algum tempo. Então, penetra no corpo e começa a enchê-lo, e passado algum tempo já não se tem força suficiente para combatê-lo. É mais fácil limitarmo-nos a nos sentar ou a adormecer. Dizem que não se sente dor alguma perto do fim. Primeiro, fica-se fraco e sonolento, e tudo começa a se desvanecer, e depois é como afundar num mar de leite morno. Como que pacífico. 
— George R. R. Martin, n'A guerra dos tronos

sábado, 17 de setembro de 2016

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O melhor

Pensa no melhor disco de metal progressivo concebido nesse brutal 2016. Pensou? Então, ele se chama Theories Of Flight e tem essa música aqui, ó:

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

GdTRPG: Brynden Rivers, o Corvo de Sangue

Vou usar esse personagem como mentor numa aventura futura e acabei estipulando a ficha dele em três períodos diferentes de sua longa existência, hm. Ficou assim:

Corvo de Três Olhos (época atual, final d'A dança dos dragões)
Planejador/Especialista Venerável

Habilidades: Astúcia 7 (Decifrar 2B, Lógica 4B, Memória 6B), Conhecimento 7 (Educação 3B, Pesquisa 3B, Manha 3B), Enganação 4, Idiomas 4, Lidar com Animais 4 (Treinar 1B), Percepção 7 (Empatia 3B, Notar 5B), Persuasão 5 (Barganhar 1B, Convencer 3B, Intimidar 1B), Status 1 (Administração 1B, Criação 1B, Reputação 1B), Vigor 3, Vontade 7 (Coragem 3B, Dedicação 6B).

Pontos de Destino: 1.
Benefícios: Companheiro Animal (Corvos e Cervos), Especialista (Memória), Foco em Conhecimento (Histórias e Lendas, Magia, Natureza), Memória Eidética, Sangue de Valyria, Sangue dos Primeiros Homens, Sinistro, Sonhos de Warg, Troca Peles, Visão Verde, Warg.
Desvantagem: Bastardo, Frágil, Marcado.

Defesa de Combate 7 / Saúde 11
Defesa em Intriga 15 / Compostura 21
Movimento 4 / Corrida 16


Senhor Comandante da Patrulha da Noite (cerca de 50 anos antes do inicio d'A guerra dos tronos)
Líder/Planejador Velho

Habilidades: Agilidade 4, Astúcia 5 (Decifrar 1B, Lógica 3B, Memória 1B), Atletismo 3, Conhecimento 4 (Educação 3B, Pesquisa 3B, Manha 3B), Enganação 4 (Disfarce 1B, Blefar 2B), Guerra 4 (Comandar 3B), Idiomas 4, Lidar com Animais 3 (Cavalgar 1B, Treinar 1B), Luta 4 (Lâminas Longas 1B), Percepção 5 (Empatia 3B, Notar 3B), Persuasão 5 (Barganhar 1B, Convencer 3B, Intimidar 1B), Pontaria 4 (Arcos 1B), Status 6 (Administração 2B, Criação 1B, Reputação 5B), Vigor 3, Vontade 6 (Coragem 3B, Dedicação 3B).

Pontos de Destino: 3.
Benefícios: Autoridade, Companheiro Animal (Corvos), Esquadrão de Elite (Dentes de Corvo), Famoso, Foco em Conhecimento (Magia), Herança (Irmã Negra), Irmão da Patrulha da Noite (Intendente), Líder de Homens, Maestria em Arma (Arco), Preciso, Respeitado, Sangue de Valyria, Sangue dos Primeiros Homens, Sinistro, Sonhos de Warg, Traiçoeiro, Visão Verde, Warg.
Desvantagem: Bastardo, Defeito (Agilidade), Marcado.

Defesa de Combate 5 / Saúde 11
Defesa em Intriga 16 / Compostura 15
Movimento 3 / Corrida 9

Arco Longo Superior: 4D+1B+1, dano 7, desajeitada, duas mãos, longo alcance, perfurante 1.
Irmã Negra (Espada Bastarda de aço valyriano): 4D+2, dano 5, adaptável.
Placas: valor 10, penalidade 6, volume 3.


Mestre dos Sussurros / Mão do Rei (cerca de 100 anos antes do inicio d'A guerra dos tronos)
Líder/Planejador de Meia Idade

Habilidades: Agilidade 4, Astúcia 5 (Decifrar 1B, Lógica 2B), Atletismo 3, Conhecimento 4 (Educação 3B, Pesquisa 2B, Manha 3B), Enganação 4 (Disfarce 1B, Blefar 2B), Furtividade 3, Guerra 4 (Comandar 3B), Idiomas 4, Lidar com Animais 3 (Cavalgar 1B, Treinar 1B), Luta 4 (Lâminas Longas 1B), Percepção 5 (Empatia 3B, Notar 2B), Persuasão 5 (Barganhar 1B, Convencer 3B, Intimidar 1B), Pontaria 4 (Arcos 2B), Status 9 (Administração 2B, Criação 1B, Reputação 5B), Vigor 3, Vontade 5 (Dedicação 2B).

Pontos de Destino: 5.
Benefícios: Autoridade, Companheiro Animal (Corvos), Contatos (Porto Real), Esquadrão de Elite (Dentes de Corvo), Famoso, Foco em Conhecimento (Magia), Herança (Irmã Negra), Líder de Homens, Maestria em Arma (Arco), Preciso, Respeitado, Sangue de Valyria, Sangue dos Primeiros Homens, Sinistro, Sonhos de Warg, Traiçoeiro, Visão Verde, Warg.
Desvantagem: Bastardo, Inimigo (Aço Amargo), Marcado.

Defesa de Combate 6 / Saúde 11
Defesa em Intriga 19 / Compostura 15
Movimento 3 / Corrida 9

Arco Longo Superior: 4D+1B+1, dano 7, desajeitada, duas mãos, longo alcance, perfurante 1.
Irmã Negra (Espada Bastarda de aço valyriano): 4D+2, dano 5, adaptável.
Placas: valor 10, penalidade 6, volume 3.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Kung fu

Se você, um dia, voltar ao Ocidente, o que dirá sobre estas estranhas palavras, "kung fu"? Dirá que significa lutar — ou dirá, como um monge de Shaolin, que são usadas para convocar o espírito do grou e do tigre? Kung fu significa "habilidade suprema pelo trabalho duro". Um grande poeta alcançou kung fu. O pintor, o caligrafo, pode se dizer que eles têm kung fu. Até o cozinheiro, o que varre os degraus ou um servo com perícia podem ter kung fu. Treino, preparação, repetição sem fim: até que sua mente esteja esgotada e seus ossos doam. Até que esteja cansado demais para suar, acabado demais para respirar. Esta é a forma, a única forma, de ter kung fu. 
— Texto dado ao monge Cem Olhos, personagem da ágil Marco Polo

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

"Cozinha do inferno" origens

Foi no finalzinho do século 19, virada do século e tal. Na época, toda esta parte da cidade... esta rua mesmo, na verdade... vivia uma franca e contínua guerra de gangues. Era gangue pra todo lado. Elas mandavam aqui. A versão mais comum da história diz que esse policial... um policial famoso... como era o —? Ah, sim... Fred Holandês. Um veterano. Ele tinha um parceiro novato, e os dois estavam observando um tumulto maluco que explodiu. Um banho de sangue e fogo no meio da rua. Dizem que o novato viu aquilo e falou algo tipo "isto aqui é o inferno!". Aí o Fred Holandês responde: "O inferno tem um clima agradável. Aqui é a cozinha do inferno"
— Lá na HQ do Demolidor, aquela escrita pelo gênio Bendis 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Sonho contínuo

Parece que o pião vai parar de girar no final do A Origem. Mas se, por um acaso, ele não parar, significa que Cobb está sonhando. E se ele está sonhando, alguém o pegou no avião do Saito? Não, impossível, a companhia área inteira foi comprada pelo empregador do grupo de heróis... Então foi antes. Teria sido a Cobol Engineering, a organização pra quem Cobb trabalhava no início do filme e que passou a persegui-lo depois que falhou na extração de ideias do Saito? Sim, poderia ser eles. Mas quando? Quando Cobb procurou um químico em Mombassa e, no porão dos eternos sonhadores, provou de um forte sedativo que o fez sonhar pesado com a Mal... daí acordou num susto, correu para o banheiro, molhou a cara e catou o pião-totem, girou, mas o danado caiu no chão e antes do protagonista poder girá-lo outra vez, Saito apareceu perguntando se estava tudo certo e Cobb, passando muito mal, fez que sim, tá tudo certo, e não tornou a girar o pião pra checar se estava ou não no mundo real... de modo que ele poderia estar sonhando o restante do filme a partir dali, é isso?

Será que a Cobol encontrou o time, matou todo mundo e resolveu, numa sentença irônica, manter Cobb num sonho contínuo?

Hm.   

sábado, 27 de agosto de 2016

Sonho real

Morpheus, o deus dos sonhos — que já no primeiro filme te disse que o real não precisa ser necessariamente o que você sente, cheira, vê, escuta; percepções estas que acontecem também durante um sonho mas que você só descobre ser tudo falsidade quando desperta —, ganha dos irmãos Wachowski um paradoxo fenomenal na forma da seguinte fala, bem no fim da guerra:
— Eu sonhei a vida inteira com esse momento. Será que é real?
— Lá no Matrix Revolutions

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Episódio do inimigo, do Jorge Luís Borges

Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde.

Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse.

— Pensamos que os anos passam apenas para nós — disse-lhe —, mas passam também para os outros. Aqui nos encontramos, por fim, e o que aconteceu antes não tem sentido.

Enquanto eu falava, ele desabotoara o casaco. A mão direita estava no bolso do paletó. Assinalava-me algo e senti que era um revólver.

Disse-me então com voz firme:

— Para entrar em sua casa, recorri à compaixão. Agora o tenho a minha mercê e não sou misericordioso.

Ensaiei algumas palavras. Não sou um homem forte e só as palavras podiam salvar-me. Atinei a dizer:

— É verdade que há tempos maltratei um menino, mas você já não é aquele menino nem eu aquele insensato. Além disso, a vingança não é menos fátua e ridícula que o perdão.

— Justamente porque já não sou aquele menino — replicou-me — tenho de matá-lo. Não se trata de uma vingança, mas de um ato de justiça. Seus argumentos, Borges, são meros estratagemas de seu terror para que eu não o mate. Você não pode fazer mais nada.

— Posso fazer uma coisa — respondi.

— O quê? — perguntou-me.

— Acordar.

E foi o que fiz.

Peguei do Arimateia.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Mentira, cicatrizes e andróides

Sobre essa antologia de contos, digo que:

Sabe a escada da arte de capa, essas boas de cair e quebrar a cabeça numa explosão seca de neurônios cor de rosa? Pois é: pra quem ainda não tem medo de uma escada assim, basta ler o conto Mentira, da Ana Karina Dantas, para sentir, daqui pra frente, vertigem ao descer por uma engenharia maldita dessas. Principalmente, digamos, num dia em que você tenha contado — sem querer, sabe como é — uma mentira por aí, de leve...   

Sabe aquela coisa de metalinguagem, o livro dentro do livro falando sobre o livro, igualmente próprio para explodir sua cabeça enquanto interpreta o texto? Pois bem: isso aparece de uma forma bem bacana lá no conto A união faz a ponte, da Eliana Machado. E o Amor além da escrita, do Pedro Karam, além de te fazer rir de estranhamento, vai te dar uma interpretação diferente da metalinguagem a cada nova leitura do conto. Loucura da boa.

Agora pensa numa narrativa rápida e bem humorada que o Chuck Palahniuk poderia ter escrito e o Quentin Tarantino poderia ter dirigido como o sonho febril de algum dos seus personagens. Pensou? Então: se chama Goodbye Sunshine, da Thaís Scuissiatto. É exatamente aquele tipo de texto gostoso de ler em voz alta — com o tom de voz certo aparecendo naturalmente — numa audiência, pra checar as reações dos ouvintes.

E por um acaso você já ouviu falar que o conto deve ganhar por nocaute, tipo, derrubando o leitor no chão? Então veja bem: se aqui houvesse uma medida do soco mais pesado, O tatuador de cicatrizes, da Gisela Lopes Peçanha, levaria o cinturão. O conto te dá um ponto de vista e você vai junto, compreendendo, sentindo, tudo numa boa e de repente BAM na sua cara e você tem de se abaixar pra recolher os dentes.

E, pode falar, você já escutou alguém dizer que a forma em que a história é contada deve ser mais importante que o conteúdo dela? Então: o charme d'O grande truque do homem desalmado, da Letícia Copatti Dogenski, é a melodia de palavras regionais do sul que flui ágil na narrativa e nos diálogos como se a coisa toda fosse poesia antes de ser conto. E o mais legal do Memória, do Edson Amaro de Souza, é justamente a forma trincada de se contar uma história com 561 referências históricas/literárias dentro do texto (Obs: só achei 561 referências, mas suspeito ter mais 440 escondidas no conto, totalizando um arábico número de mil e uma referências que faria qualquer Sherazade concordar que sim, a forma é mais importante que o conteúdo, hm).  

Essas e mais oito histórias de temática fantástica figuram nas páginas de um livro que tem duração de no máximo dois dias de leitura — o conteúdo influenciando nesse tempo mais que a forma de 160 páginas. 

Vale.

Onde tá? AQUI! 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Sabedoria popular do Tender Branson

As pessoas não querem consertar a própria vida. Ninguém quer resolver os próprios problemas. Seus dramas. Suas distrações. Resolver suas histórias. Consertar suas confusões. Porque, nesse caso, o que sobraria? Apenas o grande e assustador desconhecido. 
— em Sobrevivente, do Chuck Palahniuk.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O homem que acordou e voltou a dormir

Sonhou que estava dormindo e sonhando, e tentou lembrar do que se tratava o sonho no sonho dormindo de novo.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Gillian sabe que o início deve fisgar o leitor

Eu não parei de bater punhetas porque não era boa nisso. Parei de bater punhetas porque era a melhor. 

Durante três anos, batia a melhor punheta da região. O segredo é não pensar demais. Se você começa a se preocupar com a técnica, analisando ritmo e pressão, perde a natureza essencial do ato. É preciso um preparo mental antecipado em depois, tem que parar de pensar e deixar o corpo assumir. 

Basicamente, é como uma tacada de golfe. 

Eu fazia homens gozar seis dias por semana, oito horas por dia, com um intervalo para almoço, e minha agenda estava sempre lotada. Tirava duas semanas de férias por ano e nunca trabalhava em feriados, porque punhetas em feriados são tristes para todos. Então, durante três anos, calculo que tenha totalizado cerca de 23.546 punhetas. Portanto, não dê ouvidos àquela cadela da Shardelle quando ela diz que eu saí porque não tinha talento. 

Saí porque, quando você bate 23.546 punhetas em um período de três anos, a síndrome do túnel do carpo se torna uma realidade. 

— começo do conto Qual é a sua profissão?, da Gillian Flynn, presente na antologia O príncipe de Westeros e outras histórias.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

N, B, E

Novamente bem emboscado numa bonitona esquecida no balcão encardido naquele bar entupido. Ninfa bandida, esperando. Nova bebida encomendada. Nome bonito, Elisa. Nona bebida entornada. No beijo enrolado, noite boa esperada. 

Noivo barrigudo entrou: notório brigão esquentadinho, nem buscou explicações!

Naquele barraco estourado, nariz brutalmente esmagado, nocauteado, balançando embriagado, novamente bem emboscado numa briga endemoniada. Noite boa estragada.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Curso superior, de Marcelino Freire

O meu medo é entrar na faculdade e tirar zero eu que nunca fui com de matemática fraco no inglês eu que nunca gostei de química geografia e português o que é que eu faço agora hein mãe não sei. 

O meu medo é o preconceito e o professor ficar me perguntando o tempo inteiro por que eu não passei por que eu não passei por que eu não passei por que fiquei olhando aquela loira gostosa o que é que eu faço se ela me der bola hein mãe não sei. 

O meu medo é a loira gostosa ficar grávida e eu não sei como a senhora vai receber a loira gostosa lá em casa se a senhora disse um dia que eu devia olhar bem para a minha cara antes de chegar aqui com uma namorada hein mãe não sei. 

O meu medo também é do pai da loira gostosa e da mãe da loira gostosa e do irmão da loira gostosa no dia em que a loira gostosa me apresentar para a família como o homem da sua vida será que é verdade será que isso é felicidade hein mãe não sei. 

O meu medo é a situação piorar e eu não conseguir arranjar emprego nem de faxineiro nem de porteiro nem de ajudante de pedreiro e o pessoal dizer que o governo já fez o que pôde já pôde o que fez já deu a sua cota de participação hein mãe não sei. 

O meu medo é que mesmo com diploma debaixo do braço andando por ai desiludido e desempregado o policial me olhe de cara feia e eu acabe fazendo uma burrice sei lá uma besteira será que vou ter direito a uma cela especial hein mãe não sei.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Avis rara, de Rogério Guimarães

O único hétero da sala. No primeiro dia de aula, curtiu. Concorrência zero, vou me dar bem. Fantasiou que seria disputado pela mulherada, escreveu lista de prioridades. Não rolou. Uma a uma, suas investidas malograram. Enfim, percebeu: não havia parceira disponível. Era o único hétero da sala.

Peguei daqui.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Pausa pra pensar alto

Acontece às vezes: to curtindo aquele som não-pesado e imaginando como ele ficaria na mão de uma banda brutal e rápida, ou na voz de x vocalista. Depeche Mode, por exemplo: não consigo escutar as músicas dessa banda sem imaginar elas numa versão metalizada. 

Recentemente me detive na incrível "In Chains", imaginando ela cheia de riffs e rugidos, algo que o Machine Head poderia fazer dar certo. Ou então na voz do Jorn Lande, Tom Englund, Roy Khan. Quem sabe um cover futuro para o Russell Allen rasgar, junto ao Adrenaline Mob. Seria animal. 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Pra quem quer escrever

Você vai na oficina de literatura bem na moral pra ver como é que é e de repente saí de lá com três mini contos, uma lição de casa que você na hora já soube como fazer e uma estrutura de narração que deve virar algum conto no futuro, desde que sente pra trabalhá-la. Faz mais de um ano que não tenho um momento tão criativo no espaço de apenas duas horas! E isso porque foi apenas o primeiro encontro!

Se você é de São Paulo e escreve e tem as noites de terça e quinta livres até o meio de setembro, corre lá. Hoje (terça) rolou o primeiro encontro, mas estão admitindo gente até terça que vem, 16. 

Você vai ser jogado na fogueira — pois é tudo muito prático e rápido. Produção sem pausa para o café. E todo mundo vai criticar o que você escreveu, na cara de pau mesmo — mas no final todo mundo se abraça, relaxa.

Mais informações é só KLIKAR.  

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Trinta e poucos minutos de farofa

Dentre outras coisas, Pretty Maids é especialista em executar aquelas baladas quatro por quatro meladas de romantismo uma ou duas vezes em cada álbum. Mas aí você está conferindo a discografia dos caras mais a fundo até chegar no glorioso 1993 e descobrir Stripped: um disco 85% acústico e 98% rock farofa, o bastante pra fazer você pensar nela por uns trinta e poucos minutos. Um dos discos que mais deu certo no portfólio deles, hm.

Obs: Ronnie Atkins, amigo, se estiver lendo isso com ajuda do translate do seu navegador dinamarquês, considere o meu pedido: não espere pra vir ao Brasil só com o Avantasia, na próxima turnê, daqui 191 anos mais ou menos. Não! Venha mais cedo, com o Pretty Maids, fazer todo mundo cantar em coro a "Please Don't Leave Me". Valeu aí. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

O homem que se endereçou, de Ignácio de Loyola Brandão

Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua treze, nº 21. Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Exame médico admissional

São 15h06 e você entra. Um deles pede para colocar o braço aqui, por favor, e começa a medir a sua pressão. O outro risca a papelada, pergunta se você fez alguma cirurgia dia desses, se toma remédio. Pergunta qual é o trabalho — um interesse descartável pra preencher o silêncio. Então risca a papelada e risca a papelada. E carimba. O outro diz que a pressa(o) tá boa, doze por oito. Pronto, você está apto para o trabalho. Obrigado. São 15h07 e você sai.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Coisas boas não deveriam durar pouco

Passando só pra dizer que esse novo do Rival Sons merece ser tocado em alto volume, sem medo dos vizinhos. Uma pena todo esse potencial ter menos de 40 minutos de duração — quando você percebe, acabou. Mas aí é só dá play de novo e de novo, canseira igual à zero. 

domingo, 26 de junho de 2016

Descobri que todas as pessoas fracas...

...compartilham uma obsessão básica: elas se fixam na ideia de satisfação. Em qualquer lugar a que você vá, homens e mulheres são como corvos atraídos por objetos brilhantes. Para alguns, esses objetos brilhantes são outras pessoas — e seria melhor ser viciado em drogas. 

Algo se torna muito agradável, muito consistente, e antes que você perceba, está atraído. 
— em Galveston, do Nic Pizzolatto.

sábado, 25 de junho de 2016

Delirium, do Lacuna Coil

Cris Scabbia sempre foi a principal arma do Lacuna Coil. Mas nesse novo disco, quem tá ditando o tom é o Andrea Ferro e sua voz sinistrona, além desses pedais duplos maravilhosos. Belo disco, o melhor da banda.



sábado, 18 de junho de 2016

Para contadores de histórias

Dos grandes — faz tempo que não posto algo extenso assim sem que Troia, Joe Carroll, Walter White ou Bernard Cornwell estejam envolvidos. Mentira: estão envolvidos sim. Todas as histórias já contadas fazem parte do assunto a seguir, pode apostar.

Acontece que em algum momento deste blog eu teria de falar sobre a Jornada do Herói. Saca o que é?

Imagina uma estrutura narrativa que possui estágios presentes em TODAS as histórias já contadas pela humanidade! Você pode olhar para um poema épico grego, para um conto fantástico do folclore russo, para um livro do Stephen King e para um filme do Tarantino e lá estarão esses estágios! Às vezes em ordens diferentes ou então manifestados de maneiras diferentes — mas sempre com os mesmos propósitos para a história. Não é necessariamente uma cópia, Tarantino copiando King que copiou Homero. Não. Tá mais para um entendimento inato e inconsciente sobre como as histórias são contadas, de como formar narrativas, algo psicológico do ser humano.
A título de bibliografia: Joseph Campbell é o cara que enxergou esse lance psicológico, traçando várias semelhanças entre mitos e contos e escrevendo um livro chamado O herói de mil faces, listando os estágios padrões que ele observou nas histórias. Depois outro crânio, Christopher Vogler, pegou a ideia d'O herói e escreveu um guia, mais voltado para cineastas e escritores, chamado A jornada do escritor, retrabalhando alguns pontos antes apresentados por Campbell. São os dois livros que vão falar da Jornada do Herói. Dois livros que vão explodir sua cabeça, sem brincadeira.

Pois de repente você descobre que contar uma história não é apenas ter inspiração, ter uma ideia original ou depender de alguma outra magia. Entendendo a Jornada do Herói, você saca que contar uma história é algo sistemático e não aleatório. E essa percepção ajuda toneladas na hora de pensar em como iniciar a história, o que acontece a seguir, que tipo de personagem usar nesse ponto da narração, como terminar e várias outras coisas.

Mas é apenas um esqueleto, que fique claro. A planta da casa — aí você enche as colunas, enche a laje, decora como quiser, de modo que faz a história ser sua, só que com elementos universais.

Então irei comentar resumidamente os estágios da Jornada, citando exemplos aleatórios pra que fique bem fácil de visualizar a estrutura universal presente nas histórias. É uma sugestão que sem dúvida será útil para contadores de histórias, seja você escritor(a), educador(a), pai, mãe, narrador(a) de RPG, e por aí vai.

Enquanto isso, vá pensando no último filme/série que assistiu, na última peça de teatro que prestigiou, no último livro/HQ/mangá que leu, e tente identificar os estágios da Jornada nessas obras. Esse exercício de observação é animal de se fazer.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Os Wachowski e Philip K. Dick

Há uma certa relação entre Matrix e O homem do castelo alto. Mas acho que, além desse livro, os irmãos cineastas — que mais recentemente geraram a série Sense8, veja bem — têm na cabeceira outro livro do tio Phil, aquele que experimenta um esquisito conceito de "comunhão":

— Vai descobrir que é uma sensação esquisita — Norm Schein disse a ele — ver-se habitando um corpo com três outros companheiros. Todos teremos que concordar sobre o que queremos que o corpo faça, ou pelo menos uma maioria dominante tem que se formar, senão ficamos simplesmente empacados.  
— em Os três estigmas de Palmer Eldritch, do Philip K. Dick.

Lá existe uma droga que "transporta" as pessoas para um ambiente especifico onde compartilham do mesmo corpo. Louco, hm.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Falta adjetivo pra descrever os solos do Paul

I Can Destroy, do Paul Gilbert, está nas torrentes da internet desde o ano passado, mas parece que foi só há algumas semanas que foi de fato lançado. E que coisa bonita, bem feita. E assustadora — com alguns solos que não são desse mundo, não é coisa de ser humano.

Apesar do conjunto bacana, esse disco, pra mim, é um disco de uma música só: "One Woman Too Many" — aquela que não canso de escutar. Pois, francamente, como que esse cara consegue solar tão [encaixe aqui um adjetivo apelão] assim?   

terça-feira, 7 de junho de 2016

Heavy Rock Radio, do Jorn

Redundância falar do novo disco do Jorn: baita trampo, como de costume. Pra quem gosta de uns covers metalizados, é só colar nesse cara. Jorn é mestre em regravar música dos outros. Nesse álbum tem Journey, Maiden, Sabbath, uma do Purple requentada do disco Lonely Are The Brave. Dentre outras.

Ademais, é sempre interessante perceber as influências de outros artistas nas melodias do Jorn. O melhor exemplo que me vem em mente agora é a "Spirit Black" do disco de mesmo nome, um reflexo parcial da "Master Of The Moon" do Dio. Nesse novo trabalho, escutando "Killer Queen", do Queen, na voz do Jorn, tive a vaga ideia de onde saiu a inspiração para a "Kisses From You", do Masterplan.

E será impressão minha ou a "Blacksong" tem alguma coisa de "Running Up That Hill", da Kate Bush?



segunda-feira, 6 de junho de 2016

M&M & Marvel: Falcão

Samuel Thomas 'Sam' Wilson
Nível 8

HABILIDADES [22p]
Força: 16 (+3); Destreza: 14 (+2); Constituição: 14 (+2); Inteligência: 12 (+1); Sabedoria: 14 (+2); Carisma: 12 (+1).

SALVAMENTOS [12p]
Resistência: 6; Fortitude: 6; Reflexos: 8; Vontade: 4.

COMBATE [32p]
Iniciativa: 6; Defesa: 18 (20 Planando/Voando, 14 Desprevenido); Ataque: 8 (10 Planando/Voando); Dano: Desarmado 3.

PERICIAS [72 graduações, 18p]
Acrobacia 12 (+14), Conhecimento: Manha 4 (+5); Diplomacia 4 (+5); Escalar 8 (+11); Furtividade 4 (+6); Intuir Intenção 8 (+10); Investigar 4 (+5); Lidar com Animais 8 (+9); Procurar 8 (+9); Nadar 4 (+7); Notar 8 (+10).

FEITOS [20p]
Agarrar Aprimorado, Ambiente Favorito 4 (Planando/Voando), Ataque Imprudente, Ataque Poderoso, Atropelar Rápido,  Bloquear Aprimorado, Derrubar Aprimorado, Desarmar Aprimorado, Estrangular, Iniciativa Aprimorada, Parceiro 6 (Falcão de 30p [Asa Vermelha]), Trabalho em Equipe.

PODERES [8p]
  • Compreender Animais 2 (Falha: Tipo Amplo [aves] [-1]; 2p)
  • Comunicação Mental 3 (Extra: Área [+1]; Falha: Limitado à pássaros [-1]; 3p)
  • PES 3 (Visão; Falha: Limitado à presença de pássaros na área [-1]; 3p)

DISPOSITIVO — Uniforme 2 [10p distribuídos, 8p total]
  • Proteção 4 (4p)
  • Voo 3 (6p)


Habilidades 22 + Salvamentos 12 + Combate 32 + Perícias 18 (72 graduações) + Feitos 20 + Poderes 8 + Dispositivo 8 = 120 pontos.

domingo, 5 de junho de 2016

M&M & Marvel: Ossos Cruzados

Brock Rumlow
Nível 8

HABILIDADES [24p]
Força: 18 (+4); Destreza: 14 (+2); Constituição: 16 (+3); Inteligência: 14 (+2); Sabedoria: 12 (+1); Carisma: 10 (+0).

SALVAMENTOS [13p]
Resistência: 7; Fortitude: 8; Reflexos: 7; Vontade: 4.

COMBATE [36p]
Iniciativa: 6; Defesa: 19 (14 Desprevenido); Ataque: 9; Dano: Desarmado 4.

PERICIAS [100 graduações, 25p]
Conhecimento: Manha 8 (+10), Tática 8 (+10); Desarmar Dispositivo 8 (+10); Dirigir 8 (+10); Escalar 8 (+12); Furtividade 4 (+6); Intimidar 8 (+9); Intuir Intenção 8 (+9); Nadar 8 (+12); Notar 4 (+5); Obter Informação 4 (+5); Pilotar 8 (+10); Prestidigitação 4 (+6); Procurar 4 (+5); Sobrevivência 8 (+9).

FEITOS [37p]
Agarrar Aprimorado, Agarrar Instantâneo, Ataque Furtivo, Ataque Imprudente, Ataque Poderoso, Bloquear Aprimorado, Contatos, Derrubar Aprimorado, Desarmar Aprimorado, Estrangular, Equipamento 22, Imobilizar Aprimorado, Iniciativa Aprimorada, Maestria em Arremesso, Prender Arma, Rastrear.

EQUIPAMENTOS [110pe] 
Colete tático (Resistência +4; 4pe)
2 Faca (Dano +1, crítico 19-20, 3m; 8pe)
Besta (Dano +3, crítico 19-20, 9m, 7pe) 
2 Pistola pesada (Dano +4, 12m; 16pe)
Fuzil de precisão (Dano +5, crítico 19-20, 75m; 12pe) 
Fuzil de assalto (Dano +5, 15m; 15pe)
+48pe


Habilidades 24 + Salvamentos 13 + Combate 36 + Perícias 25 (100 graduações) + Feitos 37 = 135 pontos.

sábado, 4 de junho de 2016

M&M & Marvel: Escorpião

MacDonald 'Mac' Gargan
Nível 9

HABILIDADES [34p]
Força: 24 (+7); Destreza: 18 (+4); Constituição: 24 (+7); Inteligência: 10 (+0); Sabedoria: 10 (+0); Carisma: 8 (-1).

SALVAMENTOS [6p]
Resistência: 10; Fortitude: 9; Reflexos: 7; Vontade: 1.

COMBATE [26p]
Iniciativa: 4; Defesa: 18 (14 Desprevenido); Ataque: 5 (9 com Golpe); Dano: Desarmado 7, Golpe 6.

PERICIAS [24 graduações, 6p]
Blefar 4 (+3); Conhecimento: Manha 8 (+8); Intimidar 4 (+3); Notar 4 (+4); Obter Informação 4 (+3).

FEITOS [2p]
Ambidestria, Ataque Furtivo.

PODERES [11p]
  • Salto 1 (1p)
  • Super Força 3 (6p)
  • Super Movimento 2 (Escalar paredes, Queda lenta; 4p)

DISPOSITIVO ─ Uniforme 5 [25p distribuídos, 20p total]
  • Golpe 6 (Feito: Acurado 2, Alcance Estendido 2; Extra: Penetrante [+1]; Poderes Alternativos: Corrosão 5 [Feito: Alcance Estendido 2], Desintegração 3; 18p)
  • Membro Adicional 1 (Feitos: Agarrar Instantâneo, Alcance Estendido 2; 4p)
  • Proteção 3 (3p)
 
Habilidades 34 + Salvamentos 6 + Combate 26 + Perícias 6 (24 graduações) + Feitos 2 + Poderes 11 + Dispositivo 20 = 105 pontos.

sábado, 28 de maio de 2016

S-tool

A boa notícia do dia é que Ville Laihiala é imparável. Deixou o Sentenced na ponta do obelisco finlandês, na década passada, baita referência de música pesada no país maravilhoso. Aí o Sentenced acabou, um crime da natureza, mas Ville deu sequência no Poisonblack e seus riffs matadores. Lançava disco com frequência, turnê frenética ano sim, ano não. Tinha de tudo pra evoluir, chegar onde Sentenced chegou. Aí Poisonblack também deu ruim, os caras se separando e tal e deixando no ar o luto por mais uma banda promissora quebrada e sem esperanças de retorno.

Meio ano depois Ville ressurge da caverna onde se meteu pra pensar na vida. E traz consigo a pedreira chamada S-tool.



Vida longa (ao menos desta vez, por favor)!

terça-feira, 10 de maio de 2016

Provérbio do senhor Durden

— Reciclagem e limite de velocidade são besteira — Tyler diz. — É como alguém que para de fumar no leito de morte.
— no Clube da Luta do Palahniuk

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O arquivo, de Victor Giudice

No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.
João transformou-se num arquivo de metal.

Copiado do site Releituras