terça-feira, 16 de agosto de 2016

Gillian sabe que o início deve fisgar o leitor

Eu não parei de bater punhetas porque não era boa nisso. Parei de bater punhetas porque era a melhor. 

Durante três anos, batia a melhor punheta da região. O segredo é não pensar demais. Se você começa a se preocupar com a técnica, analisando ritmo e pressão, perde a natureza essencial do ato. É preciso um preparo mental antecipado em depois, tem que parar de pensar e deixar o corpo assumir. 

Basicamente, é como uma tacada de golfe. 

Eu fazia homens gozar seis dias por semana, oito horas por dia, com um intervalo para almoço, e minha agenda estava sempre lotada. Tirava duas semanas de férias por ano e nunca trabalhava em feriados, porque punhetas em feriados são tristes para todos. Então, durante três anos, calculo que tenha totalizado cerca de 23.546 punhetas. Portanto, não dê ouvidos àquela cadela da Shardelle quando ela diz que eu saí porque não tinha talento. 

Saí porque, quando você bate 23.546 punhetas em um período de três anos, a síndrome do túnel do carpo se torna uma realidade. 

— começo do conto Qual é a sua profissão?, da Gillian Flynn, presente na antologia O príncipe de Westeros e outras histórias.

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