segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Líder

Não é difícil ser um senhor, um jarl ou mesmo um rei, mas é difícil ser um líder. 

A maioria dos homens deseja seguir, e eles exigem prosperidade de seu líder. Damos anéis, ouro. Damos terra, prata, escravos, mas isso não basta. Eles devem ser liderados. Deixe os homens de pé ou sentados por dias e eles se entediam, e homens entediados criam problemas. Eles devem ser surpreendidos e desafiados, devem receber tarefas que acreditam estar acima de sua capacidade. E devem temer. Um líder que não é temido deixará de governar. Mas o medo não basta. Eles também devem amar. Quando um homem é levado a uma parede de escudos, quando um inimigo rosna em desafio, quando as lâminas se chocam nos escudos, quando o solo está para ser encharcado de sangue, quando os corvos voam em círculos aguardando as entranhas dos guerreiros, um homem que ama seu líder vai lutar melhor que um homem que meramente sinta medo dele. Nesse momento somos irmãos, lutamos uns pelos outros, e um homem deve saber que seu líder irá sacrificar a própria vida para salvar qualquer um dos seus comandados. 

Guerreiros da tempestade, do Bernard Cornwell

sábado, 13 de janeiro de 2018

Medo

Mesmo antes de as paredes de escudos se encontrarem, alguns homens se cagam. Eles tremem de medo. Bebem hidromel e cerveja. Alguns se vangloriam, entretanto a maioria fica em silêncio até que se juntam num cântico de ódio. Alguns contam piadas e a risada é nervosa. Outros vomitam. Nossos líderes de batalha discursam para nós, falam dos feitos dos nossos ancestrais, da imundície que é o inimigo, do destino das nossas mulheres e crianças se não vencermos. E entre as paredes de escudos os heróis se pavoneiam, desafiando-nos ao combate um contra um. Vemos os campeões do inimigo e eles parecem invencíveis. São homens grandes, de rosto sério, cobertos de ouro, reluzindo em sua cota de malha, confiantes, cheios de desprezo, selvagens. 

A parede de escudos fede a merda, e tudo que os homens querem é estar em casa, em qualquer lugar que não nesse campo, se preparando para a batalha, mas nenhum de nós vai virar e fugir, caso contrário será desprezado para sempre. Fingimos que queremos estar ali, e, quando enfim a parede avança, passo a passo, e o coração bate ligeiro como as asas de um pássaro, o mundo parece irreal. O pensamento voa, o medo reina. Então é gritada a ordem de acelerar a carga, e você corre ou tropeça, mas fica na sua fileira porque esse é o momento pelo qual passou uma vida inteira se preparando. E então, pela primeira vez, ouve o trovão das paredes de escudos se encontrando, o clangor das espadas, e começam os gritos.   

O Portador do Fogo, do Bernard Cornwell