terça-feira, 12 de julho de 2016

O homem que se endereçou, de Ignácio de Loyola Brandão

Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua treze, nº 21. Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Exame médico admissional

São 15h06 e você entra. Um deles pede para colocar o braço aqui, por favor, e começa a medir a sua pressão. O outro risca a papelada, pergunta se você fez alguma cirurgia dia desses, se toma remédio. Pergunta qual é o trabalho — um interesse descartável pra preencher o silêncio. Então risca a papelada e risca a papelada. E carimba. O outro diz que a pressa(o) tá boa, doze por oito. Pronto, você está apto para o trabalho. Obrigado. São 15h07 e você sai.