quinta-feira, 25 de julho de 2013

Aí ouço sobre o monitoramento dos EUA...

... E na hora penso que estão falando de Person Of Interest.

É isso que gosto em um seriado moderno: fazer entretenimento com situações pé no chão, um simulador da realidade, um meio descontraído de lançar ideias que, vai ver, já estão tramitando faz tempo na modernidade.

Na série quem faz o trabalho de vigia é uma máquina na rede: uma inteligência artificial que monitora tudo, relaciona informações e por fim deduz chances de atos terroristas. Ela informa o governo disponibilizando, em mensagens criptografadas, um número de CPF que pode ser do próprio terrorista ou de alguém relacionado ao futuro ato de terror. Previamente informada, as inteligências secretas conseguem abater a ameaça antes mesmo dela se revelar uma ameaça. O problema é que a máquina se mostrou mais ampla do que deveria ao não detectar somente supostos atos de terrorismo ─ ela também percebe crimes menores, contra pessoas normais. Observando os meios de comunicação da pessoa, a máquina acha a intenção de “causar mal”. Então, solta o CPF da pessoa que pode ser o infrator ou a vitima de algo prestes a acontecer. Essa parte do programa, que cuida de crimes menores, foi descartada. Afinal, a segurança do todo é mais importante do que a do individuo. Pessoas morrem todos os dias. Não dá para salvar a todos.

Harold Finch pensava assim no inicio. Ele, o criador do programa, mudou seu ponto de vista assim que um camarada morreu numa tragédia, num “crime menor” que ele mesmo descartou (claro, sem antes ver que o número de CPF era do tal camarada). Desde então Finch adotou pra si a responsabilidade de cuidar dos casos irrelevantes que a máquina detectava. Algo como um ato em memória de seu falecido amigo. E esse é o Finch mostrado na primeira temporada, até o momento em que, nos últimos e explosivos episódios, o cara é sequestrado por alguém que deseja ter domínio sobre a máquina onipresente.


Então, a segunda temporada: mais 22 episódios oscilantes, algo entre flashbacks bacanas e ação repetitiva. Há boas cenas que surgem vez ou outra, cenas que acreditam na capacidade do telespectador pegar as coisas no ar. Mas há uma quantidade enorme de falação, muitas vezes necessária para introduzir um caso, mas que cansa toneladas.

O forte da temporada está nos flashbacks do próprio Finch que antes de tudo isso tentava ter uma vida pessoal comum. Já John Reese, o outro protagonista, (o cara que ajuda Finch a salvar vidas, ativo, da linha de frente, que lidera perseguições, derruba capangas e se infiltra em tudo que é lugar) continua batendo recordes de invulnerabilidade. Digo, o cara dificilmente é atordoado. Vendo a primeira temporada não percebi isso, mas há uma lógica no personagem: ele, como ex-militar e ex-assassino veterano, é muito superior a qualquer criminoso de cidade. Daí, ele espanca todo mundo, atira em todo mundo, quebra móveis e vidro com todo mundo. Com o tempo me acostumei com este perfil imbatível, até o momento em que ele levou bala, foi espancado e beijou o chão pra acordar noutro dia ─ e essa é a parte que realmente surpreende: um ex-assassino profissional em apuros. Diferente de outras séries com personagens do tipo, em Person Of Interest, quando o protagonista está com problemas, pode acreditar, ele realmente está com problemas.

Até a própria máquina parece estar com algumas falhas técnicas. E a consequência disso é os protagonistas deixando de salvar algumas vidas, não chegando a tempo, cometendo equívocos. O que é outra coisa legal: tirar o padrão de, em todo final de episódio, a dupla conseguir resolver os problemas e salvar vidas. Não mais. Ao menos não com tanta frequência. 

Sobre temas atuais da modernidade que pululam na série: as facções e máfias que disputam poder nas cidades, a corrupção dentro da policia, a forja de crimes, a forja de criminosos, líderes do crime que atuam de dentro da cadeia, disputas empresariais, disputas por herança, disputa por informação, lavagem de dinheiro em cassinos. Enfim, da pra ter um estudo social bacana em 22 episódios de quarenta e tantos minutos.

Recomendo só para aqueles que têm fôlego de acompanhar uma longa saga (que poderia ser resumida em menos episódios) de investigação, meios inovadores de monitoramento e comunicação, tiroteio, explosões, sacrifício e vingança. Não é aquela série perfeita que prende e empolga logo de primeira; é mais do tipo que vai melhorando aos poucos, caminhando devagar mas sempre chegando em seu objetivo.


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