quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

"Essa droga de viagem no tempo frita o seu cérebro como ovo"


A publicidade nada humilde dizia: “O melhor filme de ação do ano”, ou algo bem parecido com isso. Eu via o raio desse letreiro todo santo dia, estampado num outdoor de uma estação do metrô de São Paulo. Nessa, pensei: “tenho de ver esse tal de Looper, até porque, sou grande fã do Willis e, mais recentemente (graças ao Batman e A Origem), do Gordon-Levitt.

Sou um leitor quase fiel do jornal Folha de S. Paulo e sempre estou de olho nas críticas recentes que alguns analistas fazem das novidades da sétima arte. Então, todo precavido, antes de pensar em ir ao cinema, lá estava eu vendo primeiro o que a crítica achava de tal filme. Influenciado, acabei sem ir ver uma sequencia de produções agendadas na minha nota mental: O Vingador do Futuro, Os Mercenários 2, O Legado Bourne ─ todos bem destrinchados e tachados como filmes abaixo da média; logo, fiquei desanimado e não fui ver nenhum deles.

Daí estreou Looper ─ Assassinos do Futuro. E ─ advinha só! ─ as criticas falaram bem do filme! Pela primeira vez em muito tempo eu lia um texto falando que sim, Looper era um bom filme. Ainda que não fosse incrivelmente brilhante, era um bom filme. E se a tão confiável e influenciável crítica da Folha me dizia isso, então eu só tinha um pensamento rondando minha nota mental.

“Tenho de ver esse tal de Looper”.

E vi. Demorei, mas vi.

Uma sinopse diz assim:
Em 2072, quando a máfia deseja se livrar de alguém, eles enviam a pessoa de volta no tempo, época em que assassinos armados esperam para executar os alvos. Os especialistas que eliminam os inimigos da máfia são os "Loopers". Entre os tantos assassinos está Joe (Joseph Gordon-Levitt), um sujeito que já entende as regras do jogo e faz muito bem seu trabalho. Acontece que agora a máfia quer fechar o ciclo (Loop) e como fazer isso? Eles enviam o Joe do futuro para o Joe do passado eliminar.

Então uma agência do crime no futuro manda ao presente (ou passado?) os “pacotes” que devem ser eliminados. Fazem isso, pois, no futuro, é um tanto difícil se livrar de um corpo e como inventaram a viagem no tempo eles veem nisso o jeito mais fácil de assassinar alguém sem deixar vestígios ─ mandando a pessoa para o passado (ou presente. Ainda não sei). Então o Loop vai ao ponto certo e aguarda com o dedo no gatilho, pronto para chumbar o individuo que aparecer. Feito. Depois eliminam o corpo e desfrutam do pagamento ─ que vem acoplado às costas da vítima, e trata-se de um punhado generoso de barras de prata.

A rotina muda quando a vítima surge com barras de ouro ─ e não de prata. Isso, na linguagem da agência, significa a aposentadoria do Loop. E esse último serviço executado, essa última pessoa morta, é a própria versão do assassino, enviada do futuro.

Confuso hã? Pois é, “essa droga de viagem no tempo frita o seu cérebro como ovo”.

Só que de repente muitos Loop estão entrando em aposentadoria. Do futuro estão vindo, um a um, para morrer nas mãos de suas versões mais jovens. Algo não parece certo. E é ai que o Willis entra: vem do futuro, mas não da forma convencional, e surpreende seu alter ego ─ o Gordon, que até modificou o rosto com próteses para chegar próximo a aparência de um Willis jovem.

Willis tem uma missão a cumprir e Gordon quer matar ele, pois é o seu serviço. E em meio a isso, temos um choque moral (como bem acentuou o crítico da Folha) onde podemos nos perguntar: o que eu faria ao encontrar minha versão mais velha, ou, pior, minha versão mais nova?

Willis quer deixar uma lição, dizer que o destino é inexorável. Gordon é cético, fala que a vida dele é uma coisa e a vida do careca a sua frente na mesa do bar, é outra. E esse encontro que não deveria ter ocorrido gera toda uma nova realidade na vida de ambos. Aquela coisa de outra linha temporal onde o passado que houve muda e o futuro que deveria existir nunca acontece. É, frita o cérebro.

Então, ótimo filme. Gordon arrebenta até mesmo em algumas expressões faciais, negociando na mesa com os caras da agência, quando gira os olhos e bate na mesa com os dedos. Fez um ótimo “Bruce Willis mais novo”. E o Willis tem o seu momento nostálgico, onde saca uma arma e manda bala freneticamente num pequeno grupo de mal-encarados. Uma cena animal, de tão hilária, bem filme de máfia antiga mesmo. O final é confuso, ou não, depende. Eu curti, mas depois fiquei pensando como o ciclo do tempo seria possível... se aquele menino era quem o filme aponta que é, como que sua versão do futuro não é o Willis? Ou será que o menino não era quem pareceu que era, e as cenas de raciocínio do Gordon fosse apenas uma alusão do que poderia acontecer com o menino, no futuro?

Tenso.

Ótimo filme.

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