quinta-feira, 26 de julho de 2018

Um dia depois

Desaprenda a escrever 1000 palavras por dia (foi mal, King). Escreva 100. Escreva microcontos, só. Aquele romance de um ano e alguns meses e 250 e páginas mais ou menos organizadas, deixe-o pra lá bem pra lá. Volte à produção de contos e nunca termine a tempo de enviar para os concursos literários. Requente velhas histórias e se considere um sortudo por ao menos ter alguma coisa para requentar. 

Tenha o propósito de ser escritor e falhe em parcelas com juros. 

Nessa jornada, tenha um início péssimo porém inspirado. Melhore a técnica com o tempo. Perda inspiração com o tempo. A criatividade, parece, envelhece. Entropia, como tudo. Piora com pensamentos ruins, diabos noturnos, diabos que te pegam na janela do transporte público. Você tem um estigma, aquele do Guts do Berserk, é isso.

Nessa jornada, encare a tela branca do note. Tente um heavy metal para acompanhar, discos novos, velhos, afunde no doom, no melodeath. Tente no ônibus, no metrô, com o celular. Experimente ao som de trilha sonora, Hans Zimmer, é lógico. Experimente acordar bem cedo e voltar ao papel e caneta. No silêncio, tente escutar a sinfonia desarranjada da sua mente bicameral. Tome muito café, vinho branco suave e barato, e dê um bem-vindo às dores no estômago. E mesmo assim, se arraste em míseras 100 palavras.

Entregue-se ao capitalismo, livros e séries e HQ's, consuma as histórias dos outros e esqueça das suas.
 
Comece a escrever sobre escrever. Apague. Recomece. Pense em postar, seja lá o que for, no dia do escritor, mas acabe por postar um dia depois, depois muito depois, tempo, fora do tempo, sem um final, apenas um acorde sustentado reverberando até não reverberar mais. 

Aguarde os diabos, Guts.

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