sexta-feira, 12 de abril de 2024

Reduzido a uma faixa estreita de coisas atuais

"Narração", dentre outras coisas, é o ato de contemplar, de se demorar diante de algo de modo pensante. É o seu olhar ativo para algo que permite aí uma troca sua com o objeto observado, e nessa troca temos entendimento, temos catarse, temos o vislumbre de utopias, temos narração. Tudo isso é muito difícil de alcançar em uma época de hiperconectividade: instaura-se um certo ritmo de vida que não permite a contemplação; cresce uma certa carência de experiências por causa da ausência de narração. 
 
Tudo ao redor se converteu em informação, em dados. É olhar uma obra de arte e querer saber que tipo de tinta foi usada, apenas. 
 
Quem levanta esses pontos é Byung-Chul Han, em seu bom A crise da narração
"O tsunami de informações de hoje intensifica a crise narrativa, afundando-nos no frenesi de atualidade. As informações fragmentam o tempo. O tempo é reduzido a uma faixa estreita de coisas atuais. Falta-lhe amplitude e profundidade temporais. A compulsão pela atualização desestabiliza a vida. O passado não produz mais qualquer efeito no presente. O futuro se reduz a um update permanente de coisas atuais. Assim, existimos sem história, porque a narração é uma história. Não só as experiências na forma de um tempo compactado, mas também as narrativas futuras na forma de um tempo a ser descoberto se perdem para nós. A vida que se desloca de um presente para o outro, de uma crise para a outra, de um problema para o outro, reduz-se a uma sobrevivência. A vida é mais do que solução de problemas. Aqueles que só solucionam problemas já não possuem futuro. Somente a narração desvela o futuro, somente ela nos dá esperança."

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