quarta-feira, 1 de novembro de 2017

"O murmúrio das águas é a voz do pai do meu pai"

O presidente em Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra. Mas como pode comprar ou vender o céu, a terra? Essa ideia é estranha para nós. Cada parte dessa terra é sagrada para meu povo. Cada agulha de pinheiro brilhante, cada grão de areia da praia, cada névoa na floresta escura, cada característica é sagrada na memória e na experiência do meu povo. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores são nossas irmãs. O urso, o veado, a grande águia são nossos irmãos. Cada reflexo na água cristalina dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do pai do meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se lhes vendermos nossa terra, lembrem-se de que o ar é precioso para nós e compartilha seu espírito com as formas de vida que sustenta: o vento que deu ao nosso avô o seu primeiro alento recebe, também, o seu último suspiro. 

Sabemos que a terra não pertence ao homem — o homem pertence à terra. Todas as coisas são interligadas, como o sangue que nos une. O homem não tece a teia da vida, ele é apenas um fio dela — o que fizer à teia, fará a si mesmo. 

O destino de vocês é um mistério para nós. O que vai acontecer quando todos os búfalos forem sacrificados? O que vai acontecer quando os recantos secretos da floresta estiverem passados com o odor de inúmeros homens e a vista das colinas verdejantes se macular com os fios que falam? Será o fim da vida e o começo da sobrevivência. Quando o último pele-vermelha sumir com a natureza selvagem e sua lembrança for só a sombra de uma nuvem sobre a planície, essas praias e florestas ainda estarão aqui? Terá sobrado algum espírito do meu povo? 

Amamos a terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe. Então se vendermos nossa terra, amem-na como nós a amamos, cuidem dela como nós cuidamos, preservem na mente a lembrança da terra, tal como ela estiver quando a receberem. Preservem a terra para as crianças e amem-na como Deus nos ama. Sabemos que só existe um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver isolado. No final das contas, somos todos irmãos.    

— Palavras do Chefe Seattle, 1852

Nenhum comentário:

Postar um comentário