TIPO. Intriga Comum: vou focar apenas no encontro dos dois, então fica como uma Intriga Comum. Mas, se levarmos em conta os diálogos anteriores (Jon e seus suseranos, Dany e seu conselho), que encorajavam ou dissuadiam a reunião deles, aí teríamos um exemplo de Intriga Complexa, com muitos participantes.
LOCAL. Pedra do Dragão: Dany está à vontade, sentada em um trono alto, com dragões voando lá fora e dothrakis fazendo cara feia lá dentro. Uma recepção nada calorosa. Jon, além de chegar e já lhe ser tirado o barco, ou seja, sua liberdade para sair da ilha, está a muitas léguas de distância de casa, acompanhado de poucos homens e sem receber a cortesia de ser chamado Rei — uma situação constrangedora. Portanto, nesse local, Dany ganha +3 em Defesa em Intriga.
PARTICIPANTES e as TÉCNICAS usadas. As técnicas usadas são apenas algumas e todas dentro da Habilidade Persuasão, a Enganação chutada pra longe nesta intriga.
Principais participantes:
Periféricos:
OBJETIVO. Amizade: ambos desejam firmar uma aliança.
Principais participantes:
Daenerys Targaryen
Astúcia 4, Percepção 4 (Empatia 1B), Persuasão 4 (Charme 1B, Convencer 1B, Intimidar 3B), Status 9 (Criação 1B, Reputação 4B), Vontade 4 (Coragem 1B, Dedicação 1B).
Benefícios: Atraente, Sangue de Valyria (Intimidar e Persuasão +2).
Defesa 17 (+3 por causa do local) / Compostura 12
Técnicas de Persuasão: Charme 4D+1B+2, Influência 4
Convencer 4D+1B+2, Influência 4
Intimidar 4D+3B+4, Influência 4
Jon Snow
Astúcia 4, Percepção 3 (Notar 1B), Persuasão 4 (Convencer 1B), Status 9 (Administração 1B, Reputação 2B), Vontade 5 (Coordenar 2B, Coragem 1B, Dedicação 2B).
Benefícios: Carismático (Convencer +2), Fascinante (Influência de Convencer +1).
Defesa 16 / Compostura 15
Técnica de Persuasão: Convencer 4D+1B+2, Influência 6
Periféricos:
Tyrion Lannister
Astúcia 5 (Decifrar 1B, Memória 1B), Enganação 4 (Atuar 1B, Blefar 2B, Trapacear 1B), Percepção 4 (Empatia 2B, Notar 2B), Persuasão 5 (Barganhar 2B, Convencer 2B, Incitar 1B, Provocar 2B), Status 5 (Administração 2B), Vontade 5.
Defesa 14 / Compostura 15
Técnicas de Persuasão: Convencer 5D+2B, Influência 5
Provocar 5D+2B, Influência 4
Missandei
Astúcia 4 (Memória 1B), Idiomas (Vários) 4, Percepção 3, Persuasão 4, Status 4, Vontade 3.
Benefícios: Eloquente.
Sor Davos Seaworth
Astúcia 4, Enganação 3 (Blefar 2B), Percepção 5 (Empatia 1B, Notar 2B), Persuasão 4 (Convencer 2B), Status 4, Vontade 4 (Dedicação 2B).
Benefício: Especialista (Convencer +1D). Desvantagem: Ignóbil (-1D em todos os testes de Persuasão e Status).
Defesa 13 / Compostura 12
Técnica de Persuasão: Convencer 4D+2B, Influência 4
OBJETIVO. Amizade: ambos desejam firmar uma aliança.
POSTURA. Aqui pode ser usado as Posturas Circunstanciais (partindo da Indiferente, por ser o primeiro encontro deles) para concluir que:
Dany: o oponente é um bastardo (-1 passo), o oponente vem de uma terra distante dentro de Westeros (-1 passo) = Inamistosa — VP 6, Enganação +2, Persuasão -4.Jon: a oponente é atraente (+1 passo), a oponente vem de uma terra distante dentro de Westeros (-1 passo) = Indiferente — VP 4, Enganação +0, Persuasão +0.
Dany não aceita o fato de Jon ser Rei. Entra na intriga com a cautela de quem está conversando com um possível futuro inimigo. A menos, claro, que ele dobre o joelho. Curiosamente, encaixa como uma manopla na postura Inamistosa, minha escolha para exemplificá-la na cena, em um ponto da história em que ela levou duros golpes da Cersei e não anda de bom humor, mesmo sem usar as opções de Posturas Circunstanciais.
Os jogos de poder não fazem o menor sentido para Jon. Tudo que importa é peitar o que vem chegando do norte. Então ele se mantém neutro a todo o resto, numa postura Indiferente.
Quanto aos periféricos, prefiro interpretá-los assim:
Quanto aos periféricos, prefiro interpretá-los assim:
Tyrion: ele tem uma boa memória de Jon Snow, uma certa empatia. Sua postura é Amigável — VP2, Enganação -1, Persuasão +3.
Davos: ele tem o decoro de não guardar mágoas da batalha contra Tyrion e ainda troca uma ideia ligeira com Missandei, como quem está apenas viajando e respirando novos ares. Sua postura é Afável — VP 3, Enganação +0, Persuasão +1
Note que o sistema vai além, permitindo que essas posturas sofram alterações iniciais com a opção de Reconhecimento (página 182). Outra coisa é que irei assumir uma única Postura para cada personagem, quando o certo seria, por exemplo, Tyrion ter uma Postura para Jon (Amigável) e outra para Davos (Afável, talvez), o que pode dar dor de cabeça e confusão nas anotações de qualquer narrador, argh, daí minha opção de usar uma única Postura por encontro, ao menos nesse exemplo. Vamos seguir.
INICIATIVA. Vou estipular a seguinte ordem: Missandei, Dany, Jon, Davos e Tyrion.
AÇÃO. Você, que já assistiu a cena outra vez ou que tem a memória do John Silver, deve estar se perguntando: Missandei fala uma única vez, por que diabos adicionar ela!? Bem, por mais que ela não participe da intriga, considerei a longa apresentação da Rainha não apenas isso, uma apresentação, mas sim um tremendo falatório intimidador, como se logo de cara a própria Missandei quisesse dizer "do-bra-o-jo-e-lho!". Então incluí ela para ilustrar o uso da seguinte ação:
9º Turno. Dany levanta, sinal de impaciência. Desce os degraus enquanto fala grosso, narrando a fé em si mesma. Diz que irá comandar os Sete Reinos, em alto tom, como se alguém ali na sala tivesse dito que ela não merece ou que não irá conseguir... É, então, uma afirmação para si mesma. De modo que ela não consegue direcionar o argumento de uma forma nova e persuasiva para cima de um Jon heroicamente calmo, que já escutou aquele ponto de vista antes na mesma conversa e continuou imune à ele. Jon, à exemplo de Dany, ignora toda a crônica de vida Targaryen para dizer que o importante mesmo é a treta no norte.
RESOLUÇÃO. A intriga não acabou ali, claro. São dois personagens com alta defesa, não muito acostumados a resolver as coisas na base da conversa, daí a envergadura de 10/11 turnos. A verdadeira resolução demora à vir (se é que realmente há uma resolução, hm). Tyrion provavelmente vence Dany, convencendo ela a ser boa gente com o nortenho, dar um voto de confiança. O próximo encontro dos principais é mais casual, Dany cedendo mesmo sem acreditar no Rei da Noite, tudo para poder melhorar a Postura do outro à seu respeito (quando a própria Postura dela já aparenta uma melhora). Jon também tenta algo ao levar ela até a caverna, um ambiente de sua escolha, onde pôde, talvez, fazer Dany acreditar, mesmo sem aceitar o reinado dele. E por aí vai, até o 704.
A dificuldade do sistema, me parece, está no fato de ter muitas coisas para se levar em conta. Postura, Técnicas, ações, variáveis como local e posturas circunstâncias, até mesmo o uso de Pontos de Destino... são vários números e possibilidades para se ter em mente e isso pode ser intimidador. Mas, como tudo, com o tempo melhora, se torna habitual. Hoje, mais acostumado com o sistema, penso que em um cenário inspirado em Westeros, onde o combate social tem tanta importância quanto aqueles resolvidos na lâmina, é mais do que justo ter um conjunto de regras que encorajam você a não resolver as conversas importantes com um único teste de Carisma.
Por último, esse exemplo é interessante para ver dois personagens voltados para outras coisas, menos intriga, interagindo. Não são negociantes estrategistas como Tywin, Mindinho, Doran. No entanto, foi necessário que o momento acontecesse, e que fossem eles no fronte. É uma consideração que qualquer narrador/jogador de GdTRPG deveria ter: por mais combatente e líder de homens que o seu personagem seja, o narrador pode (e digo que deve) conduzir um sessão (inteira?) como essa — Jon por dois episódio em Pedra do Dragão, tentando ganhar uma luta não com Lâminas Longas ou Machados, mas com Convencer.
Até.
- Com o benefício Eloquente, Missandei age primeiro em qualquer intriga. Sua ação é Tagarelar, contra Jon. Seria um teste de Persuasão contra o passivo de Vontade do alvo (20). Interpreto como uma falha, já que Jon se manteve na mesma, sucinto, sem se atrapalhar nem nada na sequência da intriga.
- Usando Charme, Dany tenta fazer uma boa recepção. Por causa de sua Postura Inamistosa, recebe -4 no teste, provavelmente não superando a defesa do Jon. Na sequência, a ação do Rei do Norte é Repensar.
- Davos e Tyrion usam a ação Auxiliar. Ambos tendo sucesso, concedem um bônus de +2 no próximo teste feito por Jon e Dany.
- A Rainha mantém sua Postura Inamistosa e usa a técnica Convencer, com o +2 do Auxiliar do Tyrion, menos o redutor da Postura, daria: 4D+1B. Ainda assim, digamos que não consiga um resultado satisfatório, capaz até de superar a Defesa do Rei, mas sem conseguir graus de sucesso para superar a VP dele com sua Influência 4.
- Mantendo-se Indiferente, a ação de Jon é Recuar. Com o Repensar, do turno passado, ele ganha +2B em um teste de Vontade em que o resultado será sua nova Defesa até o fim do próximo turno. +2 do Auxiliar do Davos e pronto: o resultado do teste pode ser uma defesa do tamanho do Montanha, por algum tempo.
- Davos e Tyrion usam a ação Ler Alvo, em que, com um teste de Percepção contra o passivo de Enganação do alvo, é possível descobrir a Postura e a Técnica dele. Ambos possuem uma boa Percepção (Empatia se aplica, no caso do Tyrion) ao passo que tanto Dany quanto Jon não são bons em mentir (passivo de Enganação dos dois = 8). Logo, o sucesso nessa ação concede à Davos e Tyrion um bônus de +1D em Persuasão/Enganação até o fim da intriga. Bacana, né?
- Dany mantém-se Inamistosa, mas agora sua Técnica é Intimidar: 4D+3B. Jon corta ela (o que irei interpretar como uma Defesa bem sucedida contra o teste da Rainha) e, ainda incrivelmente Indiferente, usa Convencer, que de igual modo, é rechaçado pela alta Defesa da Dany.
- Davos e Tyrion usam a ação Repensar.
- Dany enfim diminui sua Postura, de Inamistosa para Desgostosa (VP 5, Persuasão -2), antes de usar Charme. O teste dela, aqui, seria: 4D+1B+2-2 contra a Defesa do Jon, que voltou ao normal de 16. É um teste equilibrado, mas interpreto que sem dúvida Dany teve algum sucesso. Para garantir isso, nessa rolagem, ela poderia gastar um Ponto de Destino para transformar 1B em 1D, jogando então 5D+2-2. Aí sim, digamos, ela conseguiria um sucesso de ao menos dois graus e causaria 8 de Influência, menos VP 4 do Jon = 4 subtraído da Compostura, agora 11 — enfim o primeiro "dano" da intriga.
- O Rei usa a ação Repensar.
- Diria que ambos usaram a ação Repensar de novo. Já que não há regra que impeça o acúmulo de DB nessa ação, então, ao fim deste turno, eles estão com um bônus de +4B no próximo teste que fizerem.
- A Rainha testa Convencer. Falha.
- Jon testa Convencer, e mesmo com +2B do Repensar do turno passado, falha. Rola tudo 1, rs.
- Repensar para os dois. +6B no próximo teste.
- Ela ainda se mantém Desgostosa e torna a usar Intimidar: 4D+3B+2. Com dois graus de sucesso, por exemplo, ela conseguiria Influência 8 contra VP 4 do Jon = "dano" 4. Jon, agora, fica com Compostura 7.
- Jon usa Repensar. Davos usa Apaziguar para ajudar Jon. Com um teste de Persuasão (dificuldade 12), pode recuperar 4 pontos da Compostura do Jon, +1 por grau de sucesso. Sua rolagem seria 3D (teste normal da Persuasão) +1D (bônus do Ler Alvo) +2B (bônus do Repensar, perdendo, por exceder a habilidade, outros 2B acumulados) = 4D+4B. Com, digamos, três graus de sucesso, ele recuperaria 7 pontos da Compostura do Jon. O Rei agora está com 14 de Compostura.
- Tyrion, Amigável, usa Provocar. Como Davos na ação anterior, ele desperdiça alguns DB, ainda assim conseguindo uma poderosa rolagem de 5D+5B+3. Com dois graus de sucesso, causa Influência 8 contra a VP 3 do Afável Davos = 5 de dano. Davos saí dessa provocação com Compostura 7.
- Todos mantém suas Posturas e usam Repensar. Jon = +4B no próximo teste, outros = +2B.
- A Rainha usa Repensar. +4B em seu próximo teste.
- Jon testa Convencer. Ao todo, um bom 4D+4B+2, com perigosos 6 de Influência. Mas nada de vencer o 20 de Defesa dela.
- Repensar, de novo, para os dois. +4B.
- Ela usa a ação Tagarelar. É um teste de Persuasão contra o passivo de Vontade do Jon (20). O teste dela, mais os bônus de Repensar acumulados, menos redutor da Postura, seria 4D+4B. Não funcionou.
- Tyrion usa Auxiliar. Com um sucesso, concede um bônus de +2 ao próximo teste da Dany. Gastou aqui os bônus guardados da ação Repensar.
- A ação do Davos é Tagarelar, mais os bônus de Ler Alvo e Repensar: 5D+4B contra 16 de Vontade passiva da Rainha. Com um sucesso, ela perderia Astúcia na Defesa, ficando com 16.
- Rei, Rainha e Sor usam Repensar. Tyrion tenta Convencer. Seu teste, mais Ler Alvo, mais bônus da Postura, é ótimo: 6D+2B+3. Com um sucesso, digamos, de dois graus, ele causa Influência 10 contra VP 4 do Jon. O rei leva 6 de dano em sua Compostura. O Rei estava com 14, agora fica com 8 de Compostura, ainda no jogo.
RESOLUÇÃO. A intriga não acabou ali, claro. São dois personagens com alta defesa, não muito acostumados a resolver as coisas na base da conversa, daí a envergadura de 10/11 turnos. A verdadeira resolução demora à vir (se é que realmente há uma resolução, hm). Tyrion provavelmente vence Dany, convencendo ela a ser boa gente com o nortenho, dar um voto de confiança. O próximo encontro dos principais é mais casual, Dany cedendo mesmo sem acreditar no Rei da Noite, tudo para poder melhorar a Postura do outro à seu respeito (quando a própria Postura dela já aparenta uma melhora). Jon também tenta algo ao levar ela até a caverna, um ambiente de sua escolha, onde pôde, talvez, fazer Dany acreditar, mesmo sem aceitar o reinado dele. E por aí vai, até o 704.
A dificuldade do sistema, me parece, está no fato de ter muitas coisas para se levar em conta. Postura, Técnicas, ações, variáveis como local e posturas circunstâncias, até mesmo o uso de Pontos de Destino... são vários números e possibilidades para se ter em mente e isso pode ser intimidador. Mas, como tudo, com o tempo melhora, se torna habitual. Hoje, mais acostumado com o sistema, penso que em um cenário inspirado em Westeros, onde o combate social tem tanta importância quanto aqueles resolvidos na lâmina, é mais do que justo ter um conjunto de regras que encorajam você a não resolver as conversas importantes com um único teste de Carisma.
Por último, esse exemplo é interessante para ver dois personagens voltados para outras coisas, menos intriga, interagindo. Não são negociantes estrategistas como Tywin, Mindinho, Doran. No entanto, foi necessário que o momento acontecesse, e que fossem eles no fronte. É uma consideração que qualquer narrador/jogador de GdTRPG deveria ter: por mais combatente e líder de homens que o seu personagem seja, o narrador pode (e digo que deve) conduzir um sessão (inteira?) como essa — Jon por dois episódio em Pedra do Dragão, tentando ganhar uma luta não com Lâminas Longas ou Machados, mas com Convencer.
Até.
Ótimo post. Obrigado.
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