sábado, 24 de setembro de 2016

Para contadores de histórias 2

Penso que observação é um terço da coisa. Daí me vem em mente um trio bom pra dissecar, livros que ensinam tanto quanto divertem. Recomendo com todas as forças aos contadores de história.   


Mestre Gil de Ham, do J. R. R. Tolkien
Tem alguns livros menores do Tolkien por aí que são bem divertidos, mas o mais bacana não é a história em si, acredite. Legal mesmo é a edição, que traz mais de uma versão do texto para que o leitor veja as mudanças que o autor fez, do rascunho até a obra final. Mestre Gil de Ham é um desses livros. Além disso, aqui Tolkien é muito mais sucinto que em O senhor dos anéis, quase parece outro autor, a narrativa correndo leve, cômica, universal, pega o interesse de qualquer idade. 

Ratos e homens, do John Steinbeck
O livro preferido do Sawyer, da série Lost. Fui ler, todo curioso, anos depois do seriado terminar. E, bom, é um livro que você não dá muito crédito logo de cara, capa simples, titulo estranho, poucas páginas — o que será que valeu o prêmio Nobel de 1979? Ah... só sei que desde então li Ratos e homens três vezes e não ficaria surpreso comigo mesmo se o pegasse neste instante para uma quarta rodada. A história é boa em sua simplicidade comovente, mas eu daria o Nobel por causa dos diálogos geniais, que são quase como música. Sério mesmo, Steinbeck escreveu um manifesto de agilidade em diálogos disfarçado de pequena história. E exagero mais: vital para a formação de qualquer contador de histórias! 

A música do silêncio, do Patrick Rothfuss  
Ao contrário do Ratos e homens, A música do silêncio não possui lições para diálogos — pois não há um se quer! Em termos de história, deve fazer maior sentindo pra quem leu O nome do vento. Pra quem não leu, tudo bem, fica a observação do texto em terceira pessoa, ponto de vista de uma menina esquizofrênica morando sozinha no subsolo de uma universidade num mundo de fantasia medieval com alguns avanços científicos. Pat Rothfuss dá uma aula breve de como colocar no papel sentimentos e opiniões e pensamentos quaisquer sem nunca dizê-los literalmente, pois a personagem de fato não tem com quem conversar, hm. Texto sugestivo, exige percepção, às vezes consegue gerar mais de uma interpretação. Vale.

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