Peleja com sombras?
Move-se numa espécie de sono?
O tempo escapuliu.
Sua vida foi roubada.
Ocupou-se de ninharias,
Vítima de seu desatino.
— Frank Herbert, no Duna
Peleja com sombras?
Move-se numa espécie de sono?
O tempo escapuliu.
Sua vida foi roubada.
Ocupou-se de ninharias,
Vítima de seu desatino.
— Frank Herbert, no Duna
Qualquer coisa fora de você é o que você enxerga e nisso pode aplicar sua lógica. Mas é uma característica humana que, ao confrontarmos problemas pessoais, as coisas mais pessoais e profundas sejam as mais difíceis de submeter à análise da lógica. Nossa tendência é andar às cegas por aí e jogar a culpa em tudo e todos, menos na coisa profundamente arraigada que de fato está nos roendo.
— Frank Herbert, no Duna
Os caras do Devildriver sabem que o inferno está vazio porque os demônios estão todos aqui, e sabem também que Deus ainda está em Seu sétimo dia e sem previsão pra acordar, então estamos por conta e precisamos saber a etiqueta certa no trato com todo tipo de cães baixos, daí a necessidade desse álbum, obrigado.
"Keep away from me" quase transforma o trampo em um disco de uma música só; numa primeira escutada, ela ofusca todo o resto e reina no repeat; a trilha para a caminhada, para os dentes trincados, para o punho cerrado. Mas um pouco depois você aprende a amar as bonitas "Nest of vipers" e "Wishing", deve funcionar bem com novos ouvintes. E depois de semanas, você percebe que tem ouro escondido na "Vengeance is clear".
Em 2021 chega a parte 2 deste trato. Necessário.
Então aquele silêncio distinto, imenso vazio dentro da tarde, provocou nele primeiro um sentimento de desconforto. Em seguida, veio a insegurança, a dúvida sobre sua situação. Estava na sua própria cidade, ou caíra de repente dentro de um pesadelo? Quando o homem duvida, o seu mundo cai em ruínas, desaparecem os pontos de apoio, os suportes familiares e ele se balança como boneco João-teimoso.
O desconforto surgiu e ele teve vontade de gritar. Mas, se gritasse, iriam achar que ele estava louco. Loucos são eliminados dos grupos normais. Ele queria gritar. O ar que enchia o seu corpo precisava ser expelido. Sentia-se como o pneu que suporta vinte e duas libras e está com trinta e cinco, a ponto de estourar. Os músculos do seu peito, a carne toda, doíam, dentro da tensão. Então, gritou.
— No conto com cara de crônica O homem que gritou em plena tarde, do Ignácio de Loyola Brandão
Agnosticismo em pauta nesse disco.
Meu sangue é pouco: será que tem uma forma de injetar a pesada "The sacrificial flame" nas veias? Bem enquanto descanso meu corpo em decadência e uivo contra um deus que inventou morte, desgosto e dor. Será? Não sei. Divago. Divago de olhos fechados com "Sleepwalkers". Olhos fechados e outros sentidos nublados. Isso porque você não escuta a voz de Heike Langhans com a audição, não mesmo. Quando ela canta, espíritos se dobram.
Forte destaque para "Moon over Sabaoth" e "The sethian".
Susano Correia uma vez disse que a melancolia produz mais arte que a raiva, e talvez seja verdade. E o Draconian não vê problemas em unir as duas coisas.
O próprio homem? A serpente? A árvore? Quem plantou a árvore?
Isso aqui parece um lamento do Caim.
(Quando o isolamento era algo sério) Um grupo caricato combina uma reunião por vídeo chamada no Zoom. Leonardo, o anfitrião, já está na sala online, câmera aberta. Espera enquanto os demais se conectam. Wagner e Hugo são os primeiros a abrirem suas câmeras.
LEONARDO: E aí gente? Parem de timidez! Como vocês estão de quarentena?
WAGNER: Querendo ir no bar. Não dá pra beber álcool em gel, cara.
LEONARDO: E você já tentou?
WAGNER: Beber álcool em gel?!
LEONARDO: Ir no bar!
WAGNER: Ah, já. Rodei de moto por aí. Todos fechados e sem previsão pra voltar.
HUGO: (para Wagner) Querido, eu era assim também.
WAGNER: Lá vem...
HUGO: Não, sério. Eu vivia nos bares. Quando encontrei Jesus, me libertei disso. Mas hoje entendo que não era só uma questão de bebida...
WAGNER: Era a irmandade!
HUGO: Isso!
WAGNER: A maior das abstinências, irmão. Bebida a gente vai no mercado e compra. Agora esta manifestação aqui... eu quero muito viver isso.
LEONARDO: Que bom! Convoquei as pessoas certas então!
Karen abre sua câmera.
KAREN: Vocês estavam falando sobre ir no mercado? Eu não paro de ir no mercado! Se fecharem os mercados o povo aqui de casa morre. Eles comem horrores! Sabem aquelas visitas chatas que nunca vão embora? Então.
LEONARDO: Fala pra eles maneirarem. Ficar só em casa, comendo e sem exercício dá ruim pra saúde...
KAREN: Você precisa me ver na cozinha, nunca antes fiz tanto exercício! Ah, tô cansada disso tudo.
LEONARDO: Mas você vai com a gente, né?
KAREN: Claro! É só falar pra família aqui que vou no mercado. É assim que consigo sair sem suspeitas. Mas, sério, posso ir no mercado e comprar algumas coisas complementares...
LEONARDO: A gente tá bem abastecido. Acho que não falta nada.
KAREN: Sempre falta alguma coisa, vai por mim.
WAGNER: O que tá faltando é esse povo entrar na reunião!
LEONARDO: Calma, Wavá.
WAGNER: Eu já queria ir agora!
Eliana abre sua câmera.
ELIANA: Oi, gente.
WAGNER/LEONARDO/KAREN/HUGO: Olá/Bem-vinda/Tudo bom?/Bom te ver...
ELIANA: Tudo bem. Olha, obrigada pelo convite. Eu sempre quis participar de algo assim, mas com a rotina de antes... não tinha como... e... nossa... vocês sabem como me emociono fácil... desculpem...
WAGNER/LEONARDO/HUGO: Não, não chora/Você tem um bom coração/Não fica assim...
KAREN: Eu me emociono também, viu. Sempre que vejo a louça que acumula aqui em casa fico com vontade de chorar.
WAGNER/LEONARDO/HUGO: É a vida/Complicado/Normal/Acontece...
Gisele abre sua câmera.
LEONARDO: (para Gisele) Ei você, bem?
GISELE: Não. Não mesmo. Acho que meu coração parou de bater de tanto tédio.
HUGO: Até um tempo atrás eu era assim também. Mas então encontrei Jesus e --
WAGNER: Meu Pai!
LEONARDO: (para Gisele) Logo você se anima, prometo. Se não acontecer, garanto o seu dinheiro de volta.
GISELE: Não me façam querer cortar os pulsos, hein!
ELIANA: Ai, não fala essas coisas...
WAGNER: Aqui não é rede social. Fica tranquila.
KAREN: Vocês são muito dramáticos. Vão limpar as hélices de um ventilador pra verem o que é difícil de verdade!
...
A artimanha aqui é fazer você terminar de ler esse experimento na página da Influxo, obrigado e até um dia.
A música dessa banda é meio progressiva, você se perde na melodia, não fixa logo de cara. Então acontece uma agradável surpresa quando você pensa ter se acostumado e de repente, na segunda metade da faixa, os versos mudam de um jeito, a atmosfera vira outra, que você não consegue fazer nada que não seja apenas contemplar em paralisia toda aquela passagem que sangra pra fora o veneno e te deixa uma catarse. O resultado é voltar e escutar de novo. E de novo.
Repare em "A Return To The Earth Below" e "To The Sea".
Um novo disco de uma banda que só melhora.
Não é o bom comportamento, mas a atividade lúdica que é a artéria central, o cerne, o bulbo cerebral da vida criativa. O impulso para o lúdico é instintivo. Sem o lúdico, não há vida criativa. Com o comportamento restrito ao "bom", não há vida criativa. Quando estamos sentadas sem nos mexer, não há vida criativa. Quando falamos, pensamos e agimos apenas com modéstia, não há vida criativa. Qualquer grupo, sociedade, instituição ou organização que incentive as mulheres a desprezar o que for excêntrico; a suspeitar do que for novo e incomum; a evitar o que for inovador, vital, veemente; a despersonalizar o que lhe for característico, estará à procura de uma cultura de mulheres mortas.