sábado, 1 de julho de 2017

Sobre heroísmo

É um fato existirem homens decididos a não se contentarem com a realidade. Aspiram a curso diverso para as coisas; negam-se a repetir os gestos que o costume, a tradição e, em resumo, os instintos biológicos querem impor-lhes. A homens assim chamamos heróis. Porque ser herói consiste em alguém ser si mesmo. Se resistimos a que a herança, a que o circunstante nos imponham ações determinadas, é porque almejamos assentar em nós mesmos, e só em nós, a origem dos nossos atos. Quando o herói quer algo não são os antepassados nele ou os usos presentes que querem, mas ele mesmo. Este querer ser si mesmo é o heroísmo. 

— José Ortega y Gasset, em Meditações do Quixote

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Achar um escrito desses — numa modernidade em que a origem dos atos está sempre no outro, na circunstância, na crença, o si mesmo simplesmente batido numa massa social, perdido no bolo, talvez morto — é um colírio.

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