terça-feira, 18 de abril de 2017

Logan descansa

Vi. 

O animal que se importa, agora cansado e indiferente. Está também perdido (como no primeiro X), mas ainda sobre os pés, de algum modo, por causa de seu pai por tabela, Charles — que, também destroçado, ainda consegue ser um mentor para um herói que recusa o chamado, o último chamado. Há um passado oculto ali, com eles dois. Na HQ, Wolverine se aposentou ao assassinar "acidentalmente" toda sua família de mutantes. No filme, talvez Charles, já debilitado mentalmente, tenha sido o infeliz, matando os alunos com uma daquelas rajadas psiônicas, as mesmas que Logan é capaz de resistir — o que justificaria a sobrevivência apenas dos dois, naquele futuro não tão distante e poeirento. Eles se cuidam, mas não exatamente com afeto. É aqui que está o verdadeiro espírito Adulto do filme. Claro que algumas cabeças rolam e as empaladas são boas de matar, mas a violência não é nada perto da química dramática dessa família quebrada, tão bem interpretada: Logan enterrando Charles é eloquente com os olhos, com a boca trêmula, com a falta de ar — para logo depois despejar uma fúria de golpes no carro que não funciona; Logan e Laura, uma discussão atravessada no carro, uma discussão que ela só ganha por ser jovem e ele cansado demais para debater. Ela, aliás, consegue ser muito interessante justamente por ser, mesmo, uma criança (apesar de mortal). E na sua teimosia infantil, faz com que Logan aceite a aventura última — mas ele não vai de boa vontade, é mais como se estivesse dizendo um grande "foda-se" ao ligar o carro e partir. Depois, de novo no meio de uma família (as crianças mutantes), parece que ele recupera um pouco da empatia, o lado humano, o lado que Charles vinha trabalhando nele quando eram uma equipe. Apesar de Logan não mencionar Charles ou qualquer coisa que seja, pequena, mínima, do seu passado, é possível sentir que o passado está lá, com o personagem, mas não causando dor — ele meio que já está imune à dor, mental, física, seja qual for. Ele confessa que sonha com os que matou, mas confessa de forma tranquila, como quem aceita o que é e o que faz de melhor. Esse passado invisível estabiliza o personagem antes dele se jogar no retorno, agora sim abraçando a aventura... Desde o início o estigma da morte o cerca, a questão é como o cerco fecha. Morrer, mas não se matando com uma bala na cabeça. Não! Morrer, sim, mas no modo berserk, no meio do banho vermelho. Ele não tem mais casa ou mulher para retornar, então o retorno aqui é à sua origem assassina — e que genialidade meta o antagonista ser logo um clone selvagem, mais jovem e imparável! Um confronto com o eu, do começo ao fim — e não é assim mesmo em todos os arcos do personagem? 

Agora, finalmente, o confronto acabou. Logan descansa.

QUE FILME!

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