terça-feira, 4 de abril de 2017

Enquanto isso, no final de Black Sails

O que fazer com os indesejados?, os homens que não se enquadram, que a civilização deve podar de sua videira para proteger o sentido do ser. Toda civilização, desde a mais antiga, tem sobrevivido desta forma: definindo-se pelas coisas que ela exclui. Enquanto houver progresso, sempre haverá restos humanos em seu rastro, do outro lado, observando. E cedo ou tarde alguém deve responder a questão: o que acontece com eles? Em Londres, a solução é chamá-los de criminosos. Jogá-los em um buraco profundo e escuro e esperar que nunca tenham um fim. Eu argumentaria que a justiça demanda que façamos melhor. Que a civilização não é julgada por quem ela exclui, mas por como ela trata os excluídos. 
— prólogo do último episódio 

Eles pintam o mundo cheio de sombras e dizem às crianças para ficarem perto da luz — a luz deles. Suas razões, seus julgamentos. Porque na escuridão, há dragões. Mas não é verdade. Podemos provar que não é verdade. No escuro há descobertas. Há possibilidades. Há liberdade... no escuro.
— Flint

O conto é verdadeiro. O conto é falso. Quanto mais o tempo passa, isso importa cada vez menos. Os contos que queremos acreditar são os que sobrevivem, apesar da agitação, transição e progresso. São esses contos que moldam a história. E o que importa se são verdadeiros ou não? Eles encontram a verdade em sua maturidade, que é uma virtude em um homem, e não deve ser menor que as coisas que o homem cria. 
— Rackham

Black Sails pode ser uma série de violência, de nudez. Pode ser uma série de rebeldia contra um sistema, uma série sobre como forjar lealdade em meio à ladrões, sobre o choque entre objetivos coletivos e individuais. Pode ser um show de retórica mais explosiva que os canhões chovendo fogo e os cascos dos navios estilhaçando e rangendo. Ela é o conto, maleável — e isso significa que pode ser o que você quiser interpretar. 

Pra mim, Black Sails é sobre como o conto — essa narrativa que o homem cria — pode moldar toda uma forma de viver, uma crença, uma comunidade. Fatos e ficção se juntam num redemoinho para que um objetivo na sociedade seja alcançado. A verdade não importa, a verdade é para poucos. A verdade é a escuridão onde há dragões, a escuridão que deve ser combatida, a escuridão que define... a luz. Na luz, há tudo o que é preciso para viver bem, para viver do jeito "correto" — e quem liga se o que há na luz, se o que nos é contado, é verdade ou falsidade? 

Black Sails é sobre como uma história pode se tornar História.

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