quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Você quer escrever mas seus vizinhos não deixam

Como de costume, você viaja. De noite, todo mundo dorme e você imerge na dimensão do silêncio e pensa: é agora, meu! Então começa, antecipando o glorioso resultado de um belo capitulo, quem sabe dois, por que não três? Vai ser um estouro. 23 caracteres depois você escuta um

rhairauraurauraurau

rasgando a dimensão sem aviso e sem modos. Você pensa: é a Rita da Elisa, e a imagem daquela chihuahua invade sua mente concentrada em escrever. É como se ela soubesse que você está na noite insone diante do word 2013 aberto. Bicha má.

Logo depois o Ralf da Maria responde, pensativo

rauraurau... raurau... rau

e outro que você nem sabe como é não fica de fora. Parece um maldito maníaco com o seu

rrrRhauffrrrRhaufrrrRhaufrRrrrRrrrRrrr

Rita e Ralf replicam e treplicam. 42 caracteres e você pensa: de boa!

auauouou, au

Esse aí foi aquele miúdo, do Zé Carlos, rua de baixo, alcance homérico apesar do tamanho. Você pensa: tranquilo!

 http://iruntheinternet.com/lulzdump/images/gifs/men-in-black-tommy-lee-jones-shaking-dog-pug-1355861251B.gif?id=

Mas no fundo, lá no interior preto da sua mente, você se imagina chacoalhando ele que nem o Tommy Lee no MIB. São 88 caracteres agora e você escuta um bem econômico no discurso

rhai, rhai, rhai

e depois aquele do Chico que tem fôlego curto

uauaouou, ah, uauaouou, ah

que te faz querer saber: você seria considerado uma má pessoa se desejasse a morte rápida e indolor e silenciosa, principalmente silenciosa, deles todos?

RrrrRrrrrrr

rhairauraurauraurau

uauaouou, ah, uauaouou, ah

Engraçado como de dia não fazem esse concerto sinfônico. 

Meia lauda depois você olha para o relógio e ele está uma hora adiantado, não é possível. Você levanta, caminha pra lá, volta pra cá, come alguma coisa, considera desistir e eles param, um a um. Deus é bom. Corre, senta pra escrever e aí não vem. Não vem. Sumiu. Cadê? A Musa se foi. Você para, observa a escaleta da sua história rabiscada no caderno, estuda os rascunhos mil, mas mesmo assim nem sinal do fio de Ariadne e você pensa: puta!

E pensa: e agora?

Dormir? Não! Não, Deus, não! Então o quê? O que vier. O importante é escrever. Começa. Em algum momento, termina. Dorme, acorda com sonhos estranhos, dorme outra vez. De manhã alguém pergunta como foi e você comenta, assim, meio por cima, sobre algo novo. Resumindo, assim, bem por cima mesmo, é uma história sobre um sujeito viajante de realidades alternativas, dimensões, você não decidiu direito, perseguido por criaturas sobrenaturais. Você tem até algumas sugestões de nomes para as criaturas e já decidiu que todas se comunicam com latidos abissais. Vai ser uma história bem pesada, é.  

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