quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Azincourt

A batalha de Azincourt, travada em 25 de outubro de 1415, Dia de São Crispim, é uma das mais importantes da História britânica. Tornada célebre na peça Henrique V, de Shakespeare, foi uma vitória inesperada dos ingleses e uma das primeiras batalhas a triunfar pelo uso do arco longo. 

Azincourt, de Bernard Cornwell, é um relato vívido, de tirar o fôlego e meticulosamente pesquisado sobre essa grande batalha e suas consequências. A partir do ponto de vista de nobres, camponeses, arqueiros e cavaleiros. Cornwell retrata habilmente as horas de luta implacável, o desespero de um exército mutilado pela doença e a coragem excepcional dos soldados ingleses.

Finalmente, conheci a batalha de Azincourt. Cansaço e disciplina, chuva e barro, viseiras fechadas de um lado e flechas voando do outro, homens morrendo com sangue coagulado em suas garganta cortadas, homens morrendo com flechas plantadas em seus olhos e com as pontas saindo na nuca. 

Conheci também o costume dos arqueiros ingleses usarem braçadeiras no pulso esquerdo, o que segura a arma, para assim evitar o "raspão" da corda do arco quando esta é retesada e solta, chicoteando a flecha pra longe.

Aprendi também que para se fazer um flecha incendiária usava-se um tecido parecido com lã, que prendia o fogo tão bem a ponto de mantê-lo vivo mesmo com a flecha voando em grande velocidade. E aqui pude ver que nenhum arqueiro dispara uma flecha incendiária com precisão. Há um pouco de desespero nesse ataque, pois ao puxar a corda do arco com a flecha posicionada você deve soltá-la logo, antes que queime seu pulso esquerdo. O disparo, então, não tem como ser preciso. Geralmente mirados para o céu, a flecha caindo em arco depois de um tempo. Geralmente com o objetivo de destruir alguma proteção inimiga que seja incendiaria e grande ─ de modo que não dê para errar pela falta de mira.

Também aprendi um pouco mais sobre a Guerra dos Cem Anos, sobre o rei Henrique e sua Inglaterra cheia de arqueiros e sobre uma França dividida e confusa. É História; cheia de detalhes mínimos que faziam a diferença numa batalha, contada de um jeito impossível de não admirar. A história da Inglaterra passa a ser algo especial depois que se lê Bernard Cornwell.

Subliminarmente, há outros eventos escondidos, algo que só comprova a profunda pesquisa do autor. No caso, há um tipo de cisma que a Igreja enfrentava naquela época. Isso resultou em piras sendo acesas para queimar hereges que até ontem eram irmãos na fé mas que resolveram questionar a importância de alguns sacramentos e dogmas que, curiosamente, não estão na Bíblia. O livro começa assim, com fiéis que discordam de algo da Igreja sendo queimados e enforcados. O foco não está ali, a queima dos hereges é apenas uma pintura na parede do salão de festa, mas o leitor que acidentalmente conhece o fato histórico é brindado.

Já cansei de falar que o autor tem domínio pleno em descrever batalhas. Essas aqui são batalhas vencidas a distância, com arcos, catapultas e canhões. Essas aqui são batalhas perdidas por causa de um terreno traiçoeiro que atrapalha a marcha ou de uma montaria mal protegida contra as flechas inimigas ou da fraqueza causada pelo cansaço ou mesmo doença. Mas tão bom quanto as batalhas são as cenas da morte de um personagem mais importante, geralmente uma morte suja, com intriga envolvida, algo revoltante, algo com a cara de uma época medieval em que a justiça pende para o mais religioso ou o mais rico. E, pior, há os estupros. Batalhas e mortes não são nada perto da forma como o autor descreve um estupro, ainda na primeira parte do livro. Tudo na cena é perfeitamente revoltante, desde os personagens envolvidos ao intervalo de tempo escolhido para o ato. É, a época medieval passa a ser algo podre depois que se lê Bernard Cornwell.

Azincourt é mais um homem de arma que deve estar nas fileiras dos admiradores de história medieval. E dá pra testar a qualidade inicial do soldado AQUI.

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