terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Código Élfico

A pequena cidade de Santo Ossário esconde muitos segredos. Entre os habitantes, Nicole, uma jovem corajosa, descobre estar ligada aos mistérios da cidade, o que a leva a uma investigação sobre o próprio passado. Seu pai foi um famoso assassino que pertencia à ordem de seguidores de uma deusa oculta, sacrificando inocentes em rituais.

Em Arcádia, um mundo paralelo governado pela deusa, vivem os elfos, criaturas perfeitas que há milênios sonham em recuperar o poder sobre os humanos. Finalmente veem a esperança no novo guerreiro Astarte, treinado em arquearia, que deve abrir o portal que liga os dois mundos e exercer o domínio da Rainha sobre a Terra. Astarte, no entanto, é o único que desconhece o seu destino, até o momento de cumprir com a sua sina. Avesso aos interesses do seu povo, o elfo resolve juntar-se aos mortais em Santo Ossário. 

Agora, Nicole e Astarte estão ligados a um mesmo propósito: reunir os habitantes da pacata cidade e derrotar os seres místicos que ameaçam dominar o mundo.


A sinopse não faz justiça. Cria a imagem de uma fantasia adolescente, com esse papo de salvar o mundo, de jovem corajosa. No entanto, o conteúdo d’O Código Elfico é, em sua maioria, denso ─ tal como outros livros do Leonel Caldela.

Caldela tem algumas características marcantes, ao menos para mim: conspirações e as crenças dos seus personagens. Trabalhou essas coisas na Trilogia Tormenta (O Inimigo do Mundo, O Crânio e o Corvo, O Terceiro Deus), com personagens religiosos ou céticos e conspirações que vão desde manipular a população de uma pequena cidade até arquitetar uma grande catástrofe mundial. Sua série seguinte ─ As Profecias de Urag (O Caçador de Apóstolos e Deus Máquina) ─, mostra a guerra de um grupo rebelde contra um poder teocrático opressor, a linha tênue de fé e loucura, a conspiração por trás da Igreja e a verdade sobre Urag (o deus único do cenário criado). Ambas séries se passam em mundos fictícios de fantasia medieval, mas, em relação a esses assuntos (conspiração, crenças), a ficção se aproxima da realidade de forma critica e sarcástica.

Agora, em seu 6º livro, Caldela deixa de lado a fantasia medieval e resolve criar estórias no planeta Terra. Mas suas características permaneceram. Digo, o que se ouve de conspiração, sacrifícios, Illuminati e Nova Ordem Mundial serve de terreno para a atmosfera deste livro. A diferença é que no Código o centro de adoração é uma deusa élfica que habita uma realidade paralela. Então temos: uma seita de assassinos que sacrifica pessoas para a deusa; cultistas de todo o mundo, líderes e influentes e cientistas, que preparam a Terra para a chegada da deusa; mensagens subliminares em programas de TV e discos de rock, que são adoração à deusa.

Daí, Astarte e Nicole.

Astarte é o filho da deusa, um elfo treinado nas melhores artes guerreiras, de domação de feras à combate desarmado, de esgrima a arquearia. Deveria ser o espécime perfeito, o melhor de todos, mas estranhos sonhos lhe perturbam e aos poucos ele começa a questionar a origem daquelas visões. Em paralelo, ele começa a questionar o que lhe é apresentado, o que querem que ele veja. Já Nicole, uma humana, sofre, desde pequena, abduções ─ isto é, de repente ela some para reaparecer outro dia em outro lugar. Para onde vai? Nem ela sabe direito. Mas as recordações de duendes ao seu redor, fazendo experimentos (?) são bem vivas. E, chegada a hora, ela retorna a sua cidade natal, o que coincide com os avanços ritualísticos de alguns cultistas da cidade. Os dois personagens, em suas realidades, aos poucos abrem os olhos para o que há ao redor ─ e essa é a melhor parte do livro, o inicio, o momento das descobertas sobre as conspirações dos devotos servos da deusa. Portas são abertas e perguntas do tipo “qual o objetivo dessa entidade?”, ficam no ar. Ao fim, as respostas são diretas, e até mesmo simples. Os elfos querem dominar o mundo, e isso deve acontecer porque eles podem.

Bela sacada do autor em criar uma cidade fictícia no meio do Brasil ─ a tal Santo Ossário. É a típica cidade de interior, cheia de lendas e costumes, palco perfeito para um misticismo e encontros de seitas. E usar elfos no planeta Terra permitiu que a fantasia medieval participasse; pois poderiam ser alienígenas no contexto do livro, mas então não teríamos tiros de arco, convocações de magias e conhecidas feras místicas.

O Código Élfico é um bom livro, justamente por ser diferente do que o autor já criou. Leonel Caldela é um escritor que recomendo ─ principalmente por ser meu autor preferido e nacional, ou seja, um dos encarregados de tornar a literatura fantástica brasileira tão boa quanto A Guerra dos Tronos.

2 comentários:

  1. O Código Élfico é um bom livro, justamente por ser diferente do que o autor já criou. Leonel Caldela é um escritor que recomendo ─ principalmente por ser meu autor preferido e nacional <- Compartilho totalmente.

    Ótima resenha

    ResponderExcluir