quinta-feira, 20 de junho de 2013

Revolution: mais uma série pós-apocaliptica que te convida a refletir

De repente você está em casa fazendo aquele download. É tanta expectativa que não dá pra saber se é algo normal se sentir assim, ou talvez seja bom pegar aquele remédio de ansiedade da tia. Tipo, há quanto tempo você aguardava aquilo sair? Nem sabe. O que sabe é que esta baixando. Finalmente. 91%, é isso mesmo? Parece até os 9% mais demorado da história do seu computador. Vai logo! Aí ó; tá quase lá; quase e... acaba a luz. No breu total, você primeiro xinga; depois fecha os olhos para, quem sabe, assim que abri-los tudo volte ao normal e na tela esteja escrito “download completo”; depois, quando percebe que não é uma ilusão, você sente vontade de chorar ou esmurrar alguém, varia muito; e por fim, você pergunta o que aconteceu.

Olhando pela janela de seu apartamento você confirma que acabou a luz geral no bairro. Mas não só isso: estranhamente, numa avenida bem movimentada dentro do seu ângulo de visão, todos os carros pararam. Houve alguns baques, e os automóveis ficaram enfileirados como num ferro velho abandonado. Faróis desligados. Tudo desligado. Estranho. Aproposito, que horas são? Num movimento automático, você saca o celular pra conferir. Deve ser umas 22h, mas você quer conferir por algum motivo que não entende direito. Mas parece que o aparelho esta descarregado. O que é um absurdo, pois estava suficientemente carregado durante a tarde; ora, é impossível ter acabado a bateria em tão pouco tempo. Nem ligar de volta ele liga. E o mesmo acontece com qualquer outro item, de pilha a bateria moderna ─ não importa, é como se estivessem eternamente desligados. Não parece ser algo que dê pra resolver batendo um telefonema para a Eletropaulo, pois não foi somente a energia do bairro que acabou. Estranho.

Daí, um avião cai lá no horizonte. As chamas iluminam as trevas de uma noite sem luz. As pessoas gritam. E você primeiro xinga...

Deu pra pegar bem a ilustração? Pois bem, o seriado Revolution é isso: subitamente, a energia no mundo acaba.

Isso mesmo camarada: bem a cara do que acontece em Guerra dos Mundos, lembra? Mas aqui não foram alienígenas que provocaram isso ─ foi algum cientista que apertou o botão e detonou tudo, mas daí você precisa assistir os 20 episódios da 1ª temporada para compreender direito os motivos (que mesmo ao final da temporada, ainda ficaram obscuros) e como conseguiram “apagar o mundo”.

Um ponto interessante que convida o telespectador à reflexão (ao menos este que escreve) é olhar para o mundo nas condições impostas. O ponto inicial é 15 anos depois do “apagão”. E nesse período, vemos um mundo ecologicamente... melhor. Campos, florestas, clima. Sem energia o homem deixou de produzir, deixou de consumir bens naturais. Resultado: o mundo evoluiu ecologicamente. Cresceu de novo. E isso faz deste mundo pós-apocalíptico um lugar bom de se viver. Há a impressão que as pessoas deixaram as cidades e criaram vilas, comunidades improvisadas em meio a natureza. As famílias passaram a cultivar fazendas, consumindo da natureza somente o necessário e não acumulando mais riquezas (uma vez que o dinheiro perde a função num cenário desses).

O outro lado da moeda é que houve caos politico. A série não explica como os governos caíram, mas aconteceu. E sem governo, as cidades se tornaram terras sem lei onde o mais forte sobrevive. Veio à tona aquele instinto de criatura bárbara que habita no oculto dos homens. E pra por ordem na casa, levantou-se novos sistemas. E nesse ponto, é 8 ou 80: se o novo sistema não fosse uma ditadura, não haveria de fato controle da situação. Então, temos a Republica Monroe, dominando com baioneta, chumbo e espada (pois, sem energia, acabaram as produções de armas modernas, então o jeito foi começar o golpe de estado com a espingarda do vô, a faca de cortar churrasco e a lança do portão do vizinho), perseguindo percursores do caos e pregando a nova ordem politica do lugar antes conhecido como EUA. Una-se e aceite, ou diga suas últimas palavras.

E a minha opinião até aqui é: tanto a ideia como o cenário são lindos atributos da dona Revolution.

Já o desenvolvimento da série não é assim tão perfeito. Os episódios usam flashbacks super informativos de cada personagem, e as cenas de pancadaria são rápidas, sem focar em ferimentos mas mostrando sangue jorrando, com a câmera pulando, dando desfoque que dificulta o entendimento, tal como uma escaramuça de verdade. Mas, há muito dialogo cansativo e mal encaixado, e os personagens, se não são rasos demais (sentimentos e emoções trabalhados em um único episódio, por exemplo) são aclamados demais (“ah, aquele cara ali é conhecido como o ‘Matador’”, diz alguém, e você bota fé no personagem e no fim do episódio ele morre como um qualquer. Legal, hein).

Perto do fim, a coisa toda fica frenética. Mas, ainda assim oscilante: há boas revelações, mas ainda num clima raso, sem aprofundar muito em determinado personagem ou conceito.

Sobre o elenco, o maior destaque é o Giancarlo Esposito (o Gus Fring de Breaking Bad) que interpreta o soldado Tom Neville. Suas expressões faciais são perfeitas, como a parte em que ele mantem um sorriso congelado enquanto faz uma ameaça séria, ou quando ele está muito puto, com o rosto duro que nem pedra, mas falando docilmente. Baita ator, do tipo que melhora os episódio sempre que aparece.

Ano que vem tem mais 22 episódios com a promessa de começar em meio uma nova guerra politica, visto que agora o foco parece ser mais esse do que a falta de energia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário