terça-feira, 7 de maio de 2013

The Following: um livro para escrever e pessoas para matar

De início, me lembrou Clube da Luta: um sujeito pirado que inspira uma galera e um tempo depois o que era um pequeno grupo se torna algo grande e um movimento social começa a ganhar vida. Tipo, de encontros de luta nos fundos de um bar até a distribuição de missões de vandalismos cidade à fora.

Mas Tyler Durden queria lutar contra o capitalismo, gerar um caos no sistema e em seus usuários filhos de uma geração ridícula. Já em The Following, o ator James Purefoy que faz Joe Carroll (que seria algo como o Tyler) quer apenas prestar homenagem à um autor antigo, expor uma filosofia ao mundo e saciar seu fetiche.

O autor que ele deseja homenagear é Edgar Allan Poe, um mestre da literatura gótica. Sua filosofia, inspirada por Poe, é que na morte há salvação, que a morte é algo belo. E seu fetiche é matar pessoas.

E assim começa a série: um ex-professor de literatura que, em determinado momento de sua carreira, descobriu dentro de si o potencial para matar e o prazer no ato, adotando Poe como um deus e adotando seus livros sobre a filosofia da morte como guias de lazer, de modo que escolheu minuciosamente suas primeiras vitimas: 14 de suas alunas.

Foi preso. Fugiu. Foi preso de novo. Mas estava tudo planejado. Joe, antes mesmo de matar sua primeira aluna, já tinha tudo em mente. Ele queria escrever um livro, mas um livro diferente dos habituais que já tinha feito. Ele queria uma literatura gótica livre de clichês, mas fiel aos clássicos do Poe. Uma história com experiências que colocasse em cheque a ficção e se aproximasse mais da realidade. E talvez ele tenha percebido que o único modo de desenvolver tal estória seria vivendo ela. Então, começou a matar ─ e a escrever. E como um escritor que já tem o esboço de toda a história em mente, Joe estipulou como seria sua vida, como seriam seus passos, o que seria dele anos à frente. Se deixou ser preso. E nessa época, ele já conquistara muitos adeptos. Como? Ora, ele era um bom professor e tinha bons círculos de amizade, de modo que muitos resolveram seguir ele em sua causa de assassinar pessoas. Pois esse parece ser um instinto mais comum do que se imagina, e bastou um líder, um planejador eloquente e filosófico para que admiradores fizessem de Joe uma razão de vida. Alguns já tinham um instinto assassino, outros gostariam de ter, outros simplesmente perderam tudo na vida e precisavam ser aceitos por alguém. E aqui percebemos como é impressionante a influência de uma pessoa sobre a outra, a ponto de um “seguidor” se matar para não vazar informações sobre Joe para o FBI. Insanidade, amor, devoção; é tudo um bolo de emoções e condutas que dão aos seguidores algo que os tornam perigosos demais: eles não têm nada a perder. E mesmo que morram, estão contentes com a promessa de estarem presentes no livro do Joe, como personagens da trama, quem sabe ganhando um capitulo inteiro.

"Mas matar por matar?", você me pergunta. E é bem isso mesmo. Joe é abastecido por seus atos de morte, atos que lhe dá a inspiração necessária para escrever seu livro. E ele quer ser um autor diferenciado e memorável, quer chocar a população ─ tanto com as mortes, como com seu livro.

Então Joe Carroll forma um tipo de seita. E mesmo estando na cadeia, sua seita age perfeitamente bem do lado de fora, conforme um plano já traçado. O inicio da série é o celebre assassino serial em sua solitária, sendo interrogado pelo seu rival, o cara responsável pela investigação dos assassinatos: Ryan Hardy (Kevin Bacon). Ryan, quando fazia a investigação sobre Joe, acabou se apaixonando pela mulher do mesmo e Joe ficou cabreiro: seu inimigo, o cara que lhe prendeu, estava se relacionando com sua mulher ao passo que ele definhava na cadeia. Então, adotou Ryan como personagem principal de seu livro; fez planos de sequestro contra sua mulher e seu próprio filho, tudo para que Ryan pudesse fazer o papel de herói e resgatasse-os, tudo para ilustrar sua criação literária. Assim, o agente é o protagonista da série, embora Joe Carroll, o antagonista, seja muito mais interessante ─ pois The Following é uma série em que o mal é charmoso, fazendo o bem parecer ultrapassado.

Confesso que o miolo da série é fraco, ao menos considerei assim. Talvez pelo fato dos polícias estarem sempre três passos atrás dos planos dos assassinos. E isso fica meio chato, repetitivo. “O FBI não ganha uma”, é o pensamento que surge. Mas depois, com importantes vidas em risco, Ryan e companhia começam a deitar bala em suspeitos; sabe, dão aquele alerta de “mãos para o auto!”, mas se o cara faz um gemido contrário leva tiro na mesma hora. E isso melhora um pouco as coisas, dão um desespero maior em que o agente pensa “dane-se o interrogatório, eu vou matar esse pulha!”. E quando chegam os últimos 4 episódios o nível dramático vai no céu, em todo episódio morre no mínimo uns 4 e não se sabe mais como a estória irá acabar ─ ou seja, no fim, a série recupera o bom nível que teve de inicio, o puro caos. 

Foram 15 episódios de assassinato, personagens bem feitos com direito a flashback, referências literárias, motivações que um homem pode ter e um show de interpretação de James Purefoy, com seu sorriso debochado, seu olhar frio que parece ser capaz de enxergar o interior das pessoas e seus desequilíbrios emocionais.

Vale o seu tempo.

2 comentários:

  1. Bem bacana o seu artigo sobre a série. Eu fiz uma pequena adaptação para da série para o RPG Dust Devils. Se vc e seus leitores quiserem conhecer está neste link: http://www.rpgnailha.org/2013/04/the-following-para-dust-devils.html

    Um abraço.

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