domingo, 19 de maio de 2013

Morte dos Reis

"Nós pensamos nos reis como homens privilegiados que nos governam e têm a liberdade de criar, violar e alardear a lei, mas Alfredo jamais ficava acima da lei que ele adorava fazer. Via sua vida como um dever para com seu deus e com o povo de Wessex. Nunca vi um rei melhor, e duvido que meus filhos, netos e os filhos de seus filhos vejam um rei melhor. Jamais gostei dele, mas nunca parei de admirá-lo. Ele era o meu rei, e tudo o que tenho agora devo a ele."
O amado rei Alfredo está em seu leito de morte. Vendo os dias do soberano se aproximarem do fim, a nobreza saxônica está inquieta: o herdeiro ao trono, príncipe Eduardo, não possui a mesma popularidade do pai, e seus inimigos são numerosos. Enquanto candidatos à coroa surgem a todo momento, os vikings, antigos adversários dos saxões, se preparam para aproveitar a instabilidade em Wessex e atacar o reino rival.

Mas Alfredo fará de tudo para garantir que a paz que instaurou em seu território perdure após sua morte. Para isso, ele conta com Uhtred, guerreiro saxão que o serve há anos. A relação de desconfiança e ao mesmo tempo admiração estabelecida entre os dois tornou-se ainda mais complexa depois que Uhtred conquistou a filha de Alfredo, Ætheflaed, mulher casada que se tornou sua amante. É vontade do rei que Uhtred jure lealdade a Eduardo, mas o guerreiro tem outros planos: expulsar definitivamente a ameaça viking da Britânia.
Sua obstinação o levara a confrontar velhos inimigos e a ressuscitar antigas rivalidades. Cada passo em seu caminho parece esconder uma cilada, e, para sobreviver a uma das maiores crises do reino de Wessex, Uhtred precisará da ajuda de todos os seus amigos. Porém, em tempos difíceis, a linha entre lealdade e a traição torna-se cada vez mais tênue.

Então Alfredo, o Grande ─ o único monarca inglês a adquirir tal nomenclatura; o rei que sonhou em unificar o povo saxão e formar a Inglaterra; o rei que não era somente meticuloso nas batalhas e severo nas leis, mas também um homem justo, do tipo que inspirava seguidores; o rei que não conseguiu expulsar completamente os dinamarqueses de sua terra, mas ao menos impediu o total domínio deles, pois, se não fosse Alfredo, hoje, Inglaterra poderia se chamar Dinaterra; este homem, enfim, morreu. MORTE DOS REIS, sexto livro da série Crônicas Saxônicas, trata da virada do século 8, época da morte deste grande líder, que, lendo Cornwell, tem-se a impressão de ter sido o melhor rei que já existira.

Alfredo manteve um período de paz com os dinamarqueses. A maioria prevê que, dada a morte do rei, essa paz será quebrada. Eduardo, o novo rei, não é temido como o pai, de modo que o mais lógico é a vinda dos dinamarqueses e o reinicio da guerra entre os povos. Muitos homens influentes, os que aconselham Eduardo, não acreditam numa guerra: acham, apenas, que Deus silenciou o inimigo. Já Uhtred fala francamente ao seu rei, expondo que não, o inimigo não ficará em paz pelo resto dos dias. Disse que a paz é, na verdade, o período em que os senhores maquinam uma guerra. Os dinamarqueses não manteriam a paz. Então, depois de muito provocar líderes dinamarqueses fazendo ataques pequenos (mas nocivos) nos territórios alheios, Uhtred consegue provar para os seus que a guerra está vindo.

E a guerra é confusa. A guerra, num primeiro momento, são desencontros, exércitos enormes apenas se olhando, perseguições e cercos, ataques surpresas apenas para incitar o inimigo que não vem pois é paciente, traições em que saxões se veem livres do exercito saxão uma vez confirmada a morte de Alfredo, e por ai vai. Todos esses acontecimentos forjam o rei que Eduardo deve ser, além de expandir mais ainda a fama de Uhtred, agora com 45 anos, chamado de velho por um inimigo, mas tão perfeito em batalha quando um demônio jovem.

E para encerrar esse meu super breve comentário, destaco algo que Bernard Cornwell sempre dá um jeito de citar: a decadência do mundo no sentido de que, antigamente, os romanos dominavam o mundo com engenharias perfeitas, de casas pequenas à grandes salões, e, com o passar do tempo, essa engenharia foi se perdendo. A época destas crônicas, na ilha da Britânia do século 8, retém apenas uma sombra da tecnologia romana, e o homem, incapaz de desenvolver casas e fortificações melhores, consegue apenas preservar o pouco deixado pelos antigos senhores do mundo e reproduzir uma parcela da qualidade de outrora. Vez ou outra, em meio esse raciocínio, há a menção a religião, no que diz respeito ao mundo caminhar para um estágio melhor, quando na verdade parece estar cada vez mais cheio de trevas. Com a palavra, Uhtred:

Lugares como Rochestre me enchem de desânimo. Adoro construir, mas vejo o que os romanos fizeram e sei que não podemos construir nada que tenha ao menos metade daquela beleza. Construímos fortes salões de carvalho, fazemos muros de pedra, trazemos pedreiros da Frankia que erguem igrejas ou salões de festa com colunas grosseiras de pedra mal-acabada, mas os romanos construíam como deuses. Por toda a Britânia suas casas, pontes, palácios e templos ainda estão de pé, e foram feitos há centenas de anos! Os telhados caíram e o reboco está se soltando, mas continuam de pé, e eu imagino como pessoas capazes de fazer essas maravilhas puderam ser derrotadas. Os cristãos nos dizem que seguimos inexoravelmente na direção de tempos melhores, na direção do reino de seu deus na terra, mas meus deuses só prometem o caos do fim do mundo, e basta olhar ao redor para ver que tudo está desmoronando, apodrecendo, prova de que o caos se aproxima. Não estamos subindo a escada de Jacó até uma perfeição celestial, e sim despencando morro abaixo na direção do Ragnarok.


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