sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Como aprender sobre a Roma de César e se entreter ao mesmo tempo


Um antigo e amado professor, numa conversa qualquer sobre filmes, séries e afins, me dissera:

─ Cara, assiste Rome. É doido.

E eu anotei no meu bloco de notas imaginário, em cima, no canto das “prioridades”. Pois uma recomendação daquele professor não era qualquer coisa. Merecia extrema urgência!

Daí, quatro ou cinco anos depois (tipo, no atual mês desta postagem) fui assistir. E eu queria poder encontrar esse meu antigo mestre para agradecer a recomendação, lamentar o meu hiato pachorrento de quatro ou cinco anos e falar:

─ Viu só, tá passando na Band! Ah, e tenho a impressão que nem na escola eu aprendi tanto sobre a Roma antiga!

Essa última afirmação, veja bem, pode ser deficiência minha e facilmente explicada: trata-se do jovem nada interessado nas aulas de história e nunca disposto a ler os livros didáticos com aqueles textos que embaralhavam a vista em apenas dez segundos de corrida ocular... Ou, talvez seja mérito desta produção da HBO/BBC, que foi para mim como um telecurso abençoado, me tirando da ignorância de manjar somente da tal traição em que César foi vítima, de quando suspirou a famosa “até tú, Brutus, meu filho?!”.

Claro, pode ser um seriado exaustivo para alguns menos inclinados à assuntos históricos, mas mesmo para esses, há uma boa quantidade de amarras e conflitos entre os personagens principais, fator responsável pelo entretenimento. Para os acostumados com o seriado Spartacus, Rome acaba sendo um grande acréscimo ao conhecimento dos títulos políticos, dos longos nomes, das saudações, dos xingamentos, dos deuses; mas, ao passo que Spartacus foca nos gladiadores e em suas lutas barbaras, Rome cai nos braços da politica e, quando rola uma luta, há extrema técnica nos atores, que, inspirados ao máximo no estilo romano, atacam com a borda do escudo; usam a espada mais para estocar do que cortar, sempre mirando por cima do escudo inimigo ou por baixo, buscando uma perna ou a virilha; e, quando estão na parede de escudos, permanecem trincados e firmes, revezando os homens da primeira fila com os de trás, conforme o calor da batalha e o cansaço, tudo numa disciplina que os tornavam imbatíveis nos campos de morte. E tanto uma como a outra possuem suas cenas de nudez, embora Rome não precise apelar tanto ─ como faz Spartacus ─ para desenvolver uma boa filmagem com carnes e curvas à mostra.

E é impressionante como séries e filmes (alguns) conseguem recrutar atores que parecem ter nascido para o personagem medieval. Seja a moça que usa longas tranças e longos vestidos tão naturalmente que sem ambas as coisas ─ quando sentada para uma entrevista ─ ela fica muito, mas muito estranha. Ou o homem que se cobre de cota de malha e cavalga como um veterano soldado. Pois bem, em Rome temos bons destaques: Ciarán Hinds, Kevin McKidd, Ray Stevenson. São, respectivamente, Julius César, Lucius Vorenus e Titus Pullo.

Hinds, o César, faz uma cara de quem já viu muitas coisas na vida e é quase um deus na Terra. Quando conversa com alguém, ele consegue de alguma forma fazer com que a pessoa seja menor do que ele; pois olha de cima, altivo, superior, deus. Mas ele não chega a ser hostil; geralmente, termina a conversa com um sorriso e aquilo compra qualquer um para a sua causa. A série mostra um grande líder, um conquistador que não recua em seus propósitos, abraça as oportunidades e, mesmo na guerra, mantem um grande senso de honra contra o inimigo. E o ator consegue expressar tudo isso com o simples fato de respirar vestido em sua armadura, ou em seus mantos nobres. E, santo Juno, a cena final do ator foi perfeita! Uma das melhores mortes que já vi nas telas, sem dúvida!

Já os outros dois, Vorenus e Pullo, são soldados comuns que protagonizam ao lado de César. E que dupla curiosa! Um é avoado, sem disciplina, cheio de piadas na ponta da língua. O outro é carrancudo, pavio curto, honrado. McKidd, que faz o soldado carrancudo, é perito na arte de franzir o cenho, de olhar para os lados e respirar pesadamente quando está nervoso, de olhar para baixo ou desviar o olhar quando está falando com um superior, de gritar uma ordem raivosa ou de gritar o seu título de centurião da 13ª legião do exército. Mas o melhor desempenho do ator aparece quando ele tenta lidar com sua esposa, Niobe. Os personagens se casaram muito jovens, e ele foi pra guerra, e mal conhece ela por passar muito tempo fora de casa. E agora, num período em que ele está de volta, há uma grande dificuldade no relacionamento, que é um dos melhores conflitos da série.

Enfim: Vale a pena.

Tem show de pantomima, tem luta na arena, tem sacrifícios e rituais, tem cirurgia arcaica do tipo que dói em quem assiste, tem uma Cleópatra embriagada de luxúria e desejo, tem incesto, tem um arauto que sobe num banquinho na praça e anuncia as últimas noticias, tem os senadores chiando leis e discursos naquele primeiro sistema democrático, e tem a promessa do dobro de tudo isso na 2ª temporada, que irei ver antes que se passem mais quatro ou cinco anos. Com licença.

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