quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Hell On Wheels: 2ª temporada ─ "manda as crianças dormirem, pois o show vai ficar nervoso"


Ano passado, numa época distante, eu repudiei essa série. Assisti a 1ª temporada com sofreguidão, não me adaptando à forma que as coisas aconteciam na estória. Não curti. E poderia apostar alto que Hell On Wheels não seria renovada. E errei...

...de novo (tive a mesma crença a respeito de uma continuação para Falling Skies). Moral da prosa: às vezes, algo que parece ruim pode ser ruim só pra você, não para os outros...

... Pois nos EUA, a série ganhou boas críticas. Certamente, em razão do cenário: 1865; época pós-guerra civil; construções de ferrovias; guerra com índios.

Então: 2ª temporada confirmada, 10 episódios e, a mim, a esperança de um melhor entretenimento.

Tive sorte logo no primeiro episódio. Lá, a coisa já começa com um ar mais cruel, e temos sangue. Sangue! Coisa que não me lembro de ter visto na primeira temporada. Geralmente um cowboy atirava no outro e o alvejado rolava para chão, morto. Não se via o rombo da bala; nem a cor do sangue; o cara só morria. Ou, num certo episódio que teve pancadaria entre dois personagens, ninguém sangrou pela boca ou perdeu algum dente, ou quebrou o nariz. Nada. Apenas fadiga comum que um briga deixa. Sangue, nunca.

Nessa temporada, no entanto, o telespectador não deve se alimentar enquanto assiste. Por exemplo: no terceiro episódio rola um assassinato grotesco, e alguns porcos são alimentados com as tripas do morto. Uma cena animal. “Amém”, pensei, convertido, depois de ver esse episódio.

Então a violência ganhou um ar denso. Não que eu goste de paixão de cenas fortes, mas em alguns cenários esse é um fator que simplesmente não pode ficar de fora, como no faroeste em questão. E é em meio os instintos primitivos dos seres humanos que entendemos melhor cada um:

O reverendo Cole pira: seu nível de dependência de álcool equivale a dependência de oxigênio; a todo momento com uma garrafa na mão, falando besteira e dando um show de interpretação; sóbrio, só quando dorme. Em pensar que, antes, ele era um homem de Deus... O ator Tom Noonan, que encarna o personagem, é um dos melhores do elenco.

Elam Ferguson é um personagem interessante: um negro que quer um lugar perto do sol, mesmo que tenha de demonstrar certo racismo pelos seus irmãos ex-escravos. Consequência: se torna um cara rejeitado, nem aceito pelos brancos nem pelos negros. Acompanhar o drama de identidade dele é um dos altos da série.

Para emprestar uma realidade maior à série temos cenas como a Ruth, em pranto, derramando lágrimas e com o nariz escorrendo! (Com o nariz escorrendo! Nunca tinha visto uma cena de choro tão real, ou ao menos não me lembro.) Temos Ferguson dando uma cusparada em que alguns perdigotos ficaram em sua barba. Temos o Suéco dando uma gargalhada histérica em que podemos ver acumulo de saliva nos cantos de sua boca. Ou seja, há cenas precisas em que os atores são submetidos ao extremo da interpretação. Ponto positivo.

A trama continua girando em torno da construção de uma ferrovia, mas agora num ritmo nervoso. Num episódio temos roubos, noutro, ataque indígena. A coisa fica frenética e quando alguns personagens morrem, parece ser pegadinha. Mas não... Vai ser difícil imaginar uma 3ª temporada sem alguns... Farão grande falta.

Os dez episódios da primeira temporada parecem um mero piloto, uma apresentação, preparando terreno para a ação que explode nos novos dez episódios da segunda temporada. Consegue criar aquela sensação de desconforto em ter de esperar o próximo episódio pra ver o que acontece. Explora de forma suficiente a realidade da época. Acerta nos diálogos e na trilha sonora e nos figurinos. E encerra com um prologo confuso, que não permite profecia sobre o que virá no futuro.

Hell On Wheels ficou tenso. Virou um grande show da TV atual.

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