sábado, 15 de setembro de 2012

Breaking Bad: "I'am the danger!"


Na cena, Skyler demonstra sua preocupação com Walter. Diz que ele pode estar em perigo. Walter se vira, destemido, e frisa: “eu não estou em perigo, Skyler. Eu sou o perigo”.

Na véspera dessa cena, um importante sujeito do cartel foi assassinado com uma bala na cabeça ao atender quem batia na porta de sua casa. Diante dessa questão, Walter explica: “Eu sou aquele que bate na porta”.

Isso foi na 4ª temporada. E lá mesmo, o personagem matou sua humanidade, e escondeu o que restava de seu caráter embaixo do tapete. “Nada mais importa”, disse. Restava apenas a sobrevivência.

Tudo começou em 2008. Walter White, pai de família e professor universitário de química, descobre um câncer maligno. O médico estipula o tempo que lhe resta, e Walter fica desiludido com a sina. Resolve se arriscar na fabricação de drogas, o que, graças ao seu conhecimento químico, é mamata pra ele. Finalmente, decidi seu objetivo: arrecadar o máximo de dinheiro possível, deixando um futuro garantido para a família, quando o câncer enfim lhe matar.

Nesse meio termo, o professor se mete com altos traficantes e, num piscar, o seu produto é o mais badalado no Novo México. No fim, o câncer diminuiu e diminuiu, e Walter não morre. E a essa altura, o homem já esta envolvido com chefes do cartel, além, é claro, de tirar uma grana absurda. E na 4ª temporada, Walter bate cabeça contra os grandes, se vendo ameaçado por saber muito mais do que devia. Então: planeja, corre, atropela, faz bomba caseira. E enfim consegue se livrar do cartel da única maneira possível: matando as ameaças.

Tudo isso pra falar sobre a 5ª temporada, que fechou período a uma semana, com 8 episódios. Na programação, mais 8 devem vir ano que vem, dando o tão esperado epilogo de toda produção.

Dessa vez o ritmo das coisas diminuiu. Walter não tem mais obstáculos. Livre do cartel, tudo que precisa é empreender o próprio negócio. Fabricar e distribuir. Seu único problema é lavar todo o dinheiro que ganha. Perigo de morte, zero.

O grande enfoque, então, cai para os conflitos casuais dos personagens.

Skyler, sua esposa e recente cumplice, sofre com uma vida criminosa e teme pela segurança dos filhos. Seu aliado, Jesse, entra em colapso conforme as coisas andam: as mortes, as coisas difíceis que teve de fazer; tudo pesando em seus ombros. Ao fim, seu desejo é só parar. As ameaças acabaram. O mais certo seria uma boa férias nos negócios.

Mas Walter se mostra possessivo. Quer por que quer continuar com as vendas. Tenta conviver com a esposa como se não houvesse nada de errado e faz de tudo para manter Jesse nos negócios. E o telespectador se deleita com o drama que cada um vive, pondo a teste a cada segundo os valores que ainda restam neles.

Mas tudo isso só pode ser louvável por causa do talento artístico do elenco. Bryan Cranston, que interpreta Walter White, já levou 9 prêmios para casa, desde que encarnou o químico. Dentre os troféus, 4 são de melhor ator de drama, e 1, anunciado este ano, é de melhor ator da televisão.

Breaking Bad sabe como contar uma história. Mostra a dureza do mundo traficante e a grandeza do mundo da química. Deixa todos personagens a ponto da insanidade, vivendo situações que exigem ação rápida e egoísmo. As filmagens usam de câmeras estrategicamente posicionadas, dentro de copos, em reflexos, através de coisas; inúmeras amostras de criatividade e técnica audiovisual. A trilha sonora é irônica: sempre uma musiquinha pacata aparece nas cenas mais violentas (como por exemplo, na rápida chacina de gente ligada ao cartel. Fazer o que, algumas coisas precisam ser remediadas. Acontece todo dia).

Não fico fissurado em algo assim desde Lost. É, no momento, minha série preferida (Spartacus, Game Of Thrones e The Walking Dead que me perdoem), justamente por apresentar dificuldades próximas e ao mesmo tempo distantes da realidade, através de personagens que esbanjam o eterno e primitivo instinto humano de sobrevivência. Tudo com a mesma beleza de um dragão de dez cabeças.

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