sábado, 7 de julho de 2012

A Tormenta de Espadas


O livro três d’As Crônicas de Gelo e Fogo poderia se chamar somente Tormenta. Ou melhor: Tormento. George R. R. Martin, em seu auge de criatividade e crueldade, escreveu um épico ligado no 220, que desafia o leitor a não parar de ler, deixando-o atormentado, alucinado, doido. Os tantos acontecimentos narrados em meio a tantos personagens realistas fez a critica mundial considerar A Tormenta de Espadas o melhor livro da série. Aqui, algumas tantas curiosidades são respondidas, pontas soltas são ligadas, e novas questões se levantam. Tudo em meio ao ápice da guerra que esta longe de ter um fim. Tudo em meio ao sobrenatural que se levanta com mais autoridade nas paginas deste tomo, lembrando a todos que o cenário medieval também é fantástico.

O sobrenatural é a cartada mestre neste livro três. Em A Guerra dos Tronos temos mortos voltando à vida pra lá da Muralha, dragões nascendo do outro lado do mundo e um rápido vislumbre dos tais Andarilhos Brancos. Já em A Fúria dos Reis temos Sacerdotes Vermelhos, visões esquisitas na Casa dos Imortais, mais Andarilhos e ligações estranhas entre lobo e homem. Então o leitor vai para A Tormenta e descobre que tudo de sobrenatural apresentado até o momento parece um mero aquecimento para a carga de magia que está por vim.

O prólogo, por exemplo, já é um baita tapa na cara, com os Andarilhos Brancos no encalço da Patrulha da Noite. Mais tarde temos um tipo de ritual sinistro encabeçado pela feiticeira Melisandre, uma macumba das braba, que de certa forma vence o poder das espadas de forma sutil. Mas esses dois pontos não são nada comparados a um certo Sor Beric...

Beric Dondarrion. “Mais quem é esse ai mesmo?” pergunta o leitor, forçando a memória até sangrar pelos ouvidos. Aquele mais atento vai se lembrar que Beric ganha muitas citações nos capítulos da Arya, no livro dois. Isso porque parte do reino estava buscando o Sor, tratado como um fora da lei. E finalmente Martin resolveu mostrar o cara, diretamente de um combate singular com o Cão de Caça, assistido pela Arya. E é durante essa primeira aparição que o sujeito demonstra seu talento sobrenatural...

Ainda falando de coisas míticas, Bran está a poucos passos de ter pleno domínio de sua habilidade de possessão. Além de variar consciência com seu lobo, em uma determinada passada Bran foi pra dentro de Hodor! E através de Sam (que ganha capítulos nesse livro) entendemos que a Muralha é tanto uma barreira mágica quanto física. Sor Porquinho também bate de frente com um tal de Mãos-Frias; um tipo estranho, que monta um alce e controla corvos (uma pulga atrás de minha orelha diz que o cara pode ser Benjen Stark). 

Ou seja, o sobrenatural grita com força nesse episódio da saga. Só que ainda não basta... pois perto do show pirotécnico que a política continua bancando, a magia parece estar no fundo do salão, ainda tímida pra vim dançar. Em outras palavras: os lances políticos ainda são o de melhor nesse mundo de gelo e fogo.

Nesse tópico continuamos com o mestre Tyrion, metido em Porto Real, em contato com as decisões políticas. Desta vez o Duende se aproxima muito mais do leitor, vivendo atribulações com seus familiares e conhecidos que tornam seus episódios bem próximos à realidade de qualquer um, sendo, então, um personagem de fácil identificação. Vejo Tyrion como o verdadeiro gigante da saga, um personagem prestigiado por um nível diferente de escrita. Já disse por aqui, e reforço: Martin é outro autor quando escreve capítulos deste Lannister anão.

Ainda sobre os Lannister, esse tomo traz capítulos do Jaime, vulgo Regicida. Antes, tudo que o leitor tinha era uma visão orgulhosa (e até vil) deste personagem. Só que Martin resolve mudar a perspectiva, mostrando que Jaime é muito mais que um guerreiro exibido e maldoso. Pra quem ama o Tyrion, será muito fácil admirar Jaime; os dois se parecem em muitos aspectos. O leitor também irá admirar aquela que acompanha Jaime por todo o livro: Brienne. Os dois juntos dão vida a diálogos bacanas, quase sempre brigando. Depois saem na porrada. E terminando o livro, vemos um tipo de amizade honrosa.

Agora, o que não é nada honroso, é o tratamento do autor com seus personagens... passando da metade do livro, tudo parece ir se encaixando, os personagens iniciais, longes um do outro, estão à metros de se reencontrarem. O clima é quase de final: Arya próxima de rever a mãe, Catelyn. Bran encontrando Jon, ainda que inconscientemente. Sansa, aparentemente livre de compromisso com os Lannister. E por ai vai...

“Vai dar tudo certo. Vai acabar tudo bem”. Isso é o que Martin induz, sorrindo, com os dedos entrelaçados na frente da barriga, enquanto da uma piscadela. “Confia em mim, vai dar tudo certo...”

Daí ele revela um explosivo. Um tipo nuclear, escondido lá pela quinta centena de páginas. E BUM. Explode o leitor e suas esperanças. Sai em temporada de caça, passando muitos personagens pela espada, arrasando corações. “Não! Como assim?”, grita o leitor, sem nada entender. Com aqueles que sobrevivem, Martin resolve brincar de corda bamba, metendo o personagem ora em boas condições ora face a face com a morte. E de repente ─ como disse a Arya na 2ª temporada da série ─ qualquer um pode ser morto. A guerra parece caminhar para um fim, mas então explode outra bomba lá na Muralha, e Martin avisa: “ainda não acabou a diversão!”

Daí o auge de criatividade e crueldade do autor. Heróis não salvam o dia nem vilões são levados à justiça. Aqui a banda toca diferente. O importante é alcançar poder, independete dos meios; logo heróis e vilões compartilham da mesma disputa, mas a glória é exclusiva de quem dá o golpe final.

É como vi num comentário: no jogo dos tronos é ganhar ou morrer ─ se tiver sorte. 

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