terça-feira, 10 de julho de 2012

O Festim dos Corvos


Imagine a seguinte ilustração:

Iron Maiden sobe no palco e abre o show com “Aces High”. Logo depois, “The Trooper” engatada com “Fear Of The Dark”. Delírio puro ─ a banda levantou o animo do mundo com esse inicio de show, alçando altos coros. Aí, pense só no que poderia vir agora. Talvez “Hallowed Be Thy Name” ou “Sing Of The Cross” ou “Moonchild”. Seria fenomenal. Mas não é o que acontece. A banda para tudo: Bruce bebe água; Nicko seca o suor do rosto com uma toalha; Steve e o Adrian pegam violões e sentam em cadeiras; Janick e Dave pegam violões e ficam de pé. Surgem as primeiras dedilhadas nas cordas e o Bruce vai ao microfone anunciar a balada “Journeyman”, matando o ritmo explosivo criado pelas 3 primeiras músicas.

Agora, pense nas diferentes reações dos fãs. Pois então, esse é o caminho pra entender o livro quatro d’As Crônicas de Gelo e Fogo: A saga começa com A Guerra, depois A Fúria, depois A Tormenta. Delírio puro, como num show destruidor. Aí temos uma pausa... uma pausa para a entrada d’O Festim.

O que eu quero dizer é que O Festim dos Corvos é uma balada calma, se comparada com o compasso rápido dos três primeiros livros. Note, até o titulo é o menos progressivo, em termo literário.

O principal fator para uma queda de ritmo na leitura é o fato do livro ser dividido geograficamente, narrando acontecimentos no Sul de Westeros, nas Ilhas de Ferro e em Bravos. O restante (Norte, Muralha, pra lá da Muralha, Meereen) foi separado e dedicado ao quinto livro, A Dança dos Dragões. George R. R. Martin estava com fome de grandeza, inspirado, escrevendo a continuação de suas Crônicas a mil por hora. Só que o livro adquiriu um tamanho absurdo, ainda sem ser concluído. Aí os editores, quase enfartando ao ver o tamanho da coisa, falaram “divide isso, pelo amor dos Sete”, e o Martin obedeceu, dividindo o que seria um único livro em dois ─ O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões. Então, uma nota importante: O Festim segue paralelo aos acontecimentos d’A Dança. Narram o mesmo tempo, só que em diferentes espaços.

Então, para fechar o buraco deixado pela ausência de Tyrion, Dany, Jon (os preferidos do povo), surgem personagens novos e outros já apresentados ganham capítulos, como é o caso de Cersei e Brienne. Esta ultima é uma ótima personagem, o espírito de cavaleiro personificado em uma mulher, que deve ter ganhado admiradores ainda no livro dois. Porem, algo na formula sai errado: a partir do momento que Brienne virou personagem de ponto de vista, a imagem da personagem ficou chata e previsível. Acontece que seus capítulos são arrastados e pouco interessantes. O fato da personagem percorrer o reino em um pós guerra, colabora para que não haja tanta emoção em suas passagens. Depois de muito chão, faltando 4 capítulos dela, é que a coisa começa a ficar realmente intrigante. “Estou escondendo o jogo”, diz o autor, brincando, pois de repente revela um ótimo final para Brienne neste livro quatro.

Mesma coisa para a Rainha Cersei. Só que ver ela regendo, no decorrer das páginas, é bem melhor do que assistir as caminhadas de Brienne. Cersei se mostra uma mulher descontrolada. Tem o poder e acha que sabe como mantê-lo em suas mãos, mas acaba tropeçando nas saias. Mas antes de cair em algum erro, a vilã tem pente fino pra levar outros à desgraça, jamais se ferrando sozinha. Paranóica, senta no Trono de Ferro suspeitando da própria sombra. Até então, tudo bem. Afinal, é sabido que a primeira regra do jogo dos tronos é não confiar em ninguém. E Cersei conhece a regra de cor. Conspira, faz maldade, manda outros sujarem as mãos em seu lugar; é uma tirana de nível épico. Martin a manipula como quer, para atingir o leitor, provocando fúria e ódio. Tantas qualidades abafam algum cansaço que o leitor possa encontrar em seus capítulos.

Sobre os novos personagens e lugares: Finalmente conhecemos Dorne, ao sul do continente. Lugar árido, cheio de areia e sol quente; um contraste exato do Norte. Conhecemos o príncipe Doran Martell, que logo de primeira revela-se um personagem cheio de segredos antigos. E sua filha, Arianne, que é, simplesmente, mais uma mulher impressionante, capaz de arrebatar o leitor.

Mas deixe Dorne pra lá. Quer um lugar thrash de verdade? Vide as Ilhas de Ferro, que ganhou até a ilustração da capa. Lá, Martin despeja uma disputa familiar pelo domínio das Ilhas, apresentando um personagem melhor que o outro, em capítulos inéditos. Eu já tinha paixão por Asha Greyjoy, mas são os seus tios que comandam no carisma. O Afogado, O Porfeta, O Cabelo Molhado, ele, Aeron Greyjoy: Certamente o homem mais religioso de Westeros. Doido de fé por seu Deus Afogado, apaixonado pelo mar, sempre carregando um odre de água salgada do qual da alguns tragos e batiza seus discípulos, e, sempre ditando o poderoso lema “o que está morto não pode morrer, mas volta a erguer-se, mais duro e mais forte”. Outro sujeito bacana é o Victarion Greyjoy, o capitão de ferro. Seu estilo de luta chama os holofotes: todo coberto de cota de malha (coisa incomum à piratas, geralmente para prevenir afogamentos), Victarion se torna uma muralha impenetrável que mal se dá o trabalho de bloquear ataques. Para matar, usa seus punhos como se fossem armas, também cobertos de cota de malha. Sua personalidade é bem indiferente, e ele deixa claro que o que faz de melhor na vida é matar com os punhos. É, pra mim, um dos mais ilustres combatentes até o momento, mais pelo estilo do que pela qualidade.

Pois bem. Mesmo uma simples balada tem seus momentos impressionantes. E não é diferente com O Festim dos Corvos. Mesmo privado de personagens importantes e da magia (que não surge neste livro), o show mantém o nível quando o assunto é surpreender, apresentar novos personagens cativantes e desenvolver os antigos.

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