segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Caçador de Apóstolos

O Caçador explora um mundo medieval regido pela teocracia, conflitos civis, paredes de escudos em batalhas sanguinolentas, fanatismo religioso (e não religioso).
Leonel Caldela seria censurado se fosse um escritor de outra época. A forma como trata a violência e a imoralidade é simplesmente criminosa, como um bom observador da escrita de Rubem Fonseca faria. Pior: tudo parece mais direcionado a partir do momento que o cenário tem a religião como centro de trama. A violência e a imoralidade, em alguns pontos, incomodam por serem tão próximos da nossa realidade. Gritos de rebeldia contidos na ficção. Personalidades politicamente corretas poderiam considerar queimar um livro desses, para preservar a moralidade e os bons costumes.

Por isso O Caçador de Apóstolos é um livro perverso.

Um dos melhores que já li.

É duro lançar uma opinião dessas, mas, francamente, aconteceu o impossível: Leonel Caldela conseguiu escrever algo mais incrível que A Trilogia Tormenta. A Trilogia foi grandiosa, importantíssima para o cenário de RPG Tormenta. Houve personagens de tirar o fôlego e acontecimentos que jamais irão sair da mente dos fãs. Mas, em O Caçador, Leonel criou um mundo novo, não precisando se apoiar em um cenário pronto. Pesquisou e apurou noticias, conseguindo usar a religião como seu playground particular, e mesmo sendo um tema universal e gasto, no livro parecia coisa nova, registrada pela primeira vez. E, o principal: a forma original de narrar tudo.

Iago, dramaturgo com humor negro destilado na ponta da pena, é quem conta tudo. Muito da história ele não sabe exatamente como foi, então especula — o que torna seu relato questionável. É comum, por exemplo, ver ele se referindo ao próprio trabalho com um “e se for tudo mentira?”.
"E vou continuar mentindo, porque sempre saio impune. Não presenciei nada do que vou narrar agora; só ouvi relatos de uns poucos trechos. Nem conheço alguns dos personagens. Mas vou imaginar o que ocorreu. E não há outra versão. Este é um ato de tirania. Eu escrevo a história.”

Rápido e raivoso, o sangue esguicha. Mas também há discurso, amor. A arte suprema do autor é escrever meias palavras, o resto quem faz é a própria mente de quem lê. As cenas curtas ganham peso. De repente, esse mundo de espada e dogmas se mostra mais do que isso, com algo de fantástico, fragmentos de ficção científica, vira um mosaico.

Caldela cometeu seu melhor livro, simples assim. Quando pensei que o cara era bom, descobri que ele era melhor.

“O Caçador de Apóstolos é o primeiro livro de uma série que promete emoções fortes, realizações literárias instigantes e que pode se tornar uma referencia do gênero entre nós.”
— Roberto de Sousa Causo.

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