sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Deus Máquina

Leonel Caldela é sem sombra de dúvidas o Bernard Cornwell brasileiro.
Eduardo Spohr

Sabe aquela pessoa que você não conhece, não acompanha carreira nem nada, só que já ouviu falar tanto a respeito, que é como se conhecesse o sujeito e o seu talento? Gosto de chamar isso de respeito anônimo. Mesmo não conhecendo a pessoa, tem-se certo respeito por ela, pela fama que ela espalhou e chegou aos seus ouvidos.

É o meu caso, em relação ao Bernard Cornwell. Suas Crônicas do Arthur estão em 4º na minha lista de futuras leituras. Então, por hora, tudo que conheço é sua fama como autor perito em cenas de combate e verossimilhança medieval. Logo, não sei avaliar o comentário do Eduardo Spohr. Mas se este fora franco ao comparar Leonel Caldela com o autor britânico, então Conrwell deve ser realmente um animal selvagem em sua literatura.

Pois do Leonel Caldela eu entendo, e ele é um redemoinho mortal em seus livros.

Praticamente, quando falei d’O Caçador de Apóstolos, esgotei todos meus bons comentários sobre As Profecias de Urag (nome dado a série). Como já disse, o livro trata de um mundo medieval, sujo e pobre, que tem como centro a religião e o culto à Urag, que é o nome do deus. Um perfeito retrato desbotado da Europa Medieval. Só que com um cargo incomum: A Voz de Urag, que é uma pessoa (geralmente donzelas virgens) capaz de ouvir a deus. Uma mediadora, que lidera a igreja junto dos cardeais.

Já no primeiro livro muitas coisas são reveladas em relação à Igreja. Deixando clara a manipulação exercida sobre o povo, com a maior das armas: mentiras. Além da tirania absurda, como por exemplo, o extermínio de uma escola por ensinarem coisas além da religião, o que foi considerado, cruamente, como heresia. Logo, soldados santos surgiram de espadas em punho e mataram crianças e professores; todos acusados de darem lugar ao diabo. (Aquele capitulo foi de longe uma das passagens mais cruéis que Caldela escreveu).

Só que, em Deus Máquina a coisa afunila. Descobrir sobre a Igreja é pouco, quando, neste livro, a verdade sobre deus é revelada. Digamos que deus existe. Mas não do jeito que imaginavam... Um conceito que poderia estar facilmente em um livro de ficção cientifica.

Iago, o narrador da historia, vive maus momentos de inicio a fim. E é através dele – quando em determinado momento foi impactado por uma estranha energia sobrenatural – enxergamos outra realidade do mundo. Não. Não era outra realidade, mas sim a antiga civilização, que espantosamente possuía tecnologia avançada. E, com essa tecnologia, eles descobriram deus. Então, através dos delírios de Iago, temos a revelação do passado, onde tudo começou.

E após descobrir as verdades, temos os desfechos. Praticamente 1/3 do livro dedicado a concluir a saga. E que final! Primeiro eu estava crente que a historia seria concluída de tal forma. Assim como qualquer outra saga, é fácil moldar um final na mente. Mas então, perto do fim, não se tem mais certeza de nada. E eu comecei a duvidar do que já esperava do livro. Tudo para, no ultimo capitulo, Caldela apresentar um caminho óbvio que estava camuflado pelas circunstâncias. O que, mais uma vez, me surpreendeu.

Em comparação com O Caçador, Deus Máquina parece um pouco mais contido. Não chega a ser tão violento e sujo. Parte da narrativa deixou de ser rápida e nervosa. Isso porque em Deus Máquina há que se explicar as coisas, e boas explicações necessitam de muitas palavras. Mas, há também um numero maior de combates. E, a apresentação do mesmo cenário, só que ha ciclos atrás, o que desvia o leitor do que já vinha se acostumando.

As Profecias de Urag apresentam um autor cheio de bagagem literária. Os dois livros tinham de tudo para serem centrados em uma única coisa, mas não, apresentam diversos elementos, sendo alguns mal explicados, só para deixar o charme do desconhecido. E mais do que tudo, os conceitos apresentados parecem querer sair da ficção, e atingir a nossa realidade. É um romance que questiona o leitor, e que pode ou não ser influenciável. Como já disse, Leonel Caldela trabalha com meias palavras, o resto quem faz é a mente do leitor. 

Trecho da sinopse:

Deus Máquina, quinto romance de Leonel Caldela, conclui a narrativa de Iago sobre o levante contra uma teocracia opressora e as verdades e mentiras de ambos os lados. Os segredos são revelados, as origens são descobertas. Espadas, lanças, ideias e orações são as armas na guerra entre hereges e cardeais, entre fé e razão.

Entre Deus e os homens.

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