segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fantasticon 2011

E o bardo aqui esteve la! Ainda que somente por um dia, e somente por pouco tempo. Tempo este suficiente para eu querer comentar aqui o que absorvi do evento!

A Biblioteca Pública Viriato Corrêa (Vila Mariana – São Paulo, SP) abriu as portas para o dito cujo evento de literatura fantástica durante o fim de semana, tendo seu prólogo no fim da sexta (12/08). Estive presente somente na primeira parte de sábado, e o que me convidou a participar foi: 

Oficina: “Como Melhorar sua Criação Literária”
O editor Gianpaolo Celli apresentará não apenas os aspectos básicos da criação literária, como trabalhará de uma maneira que raramente acontece, os arquétipos, os modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique. Mostrará como elaborar estas “Imagens primordiais” que, existentes no inconsciente coletivo, podem ser encontradas na Mitologia de praticamente todas as culturas, independente do momento histórico e local.

Quando se fala de criação literária, consideramos que todo personagem é uma ‘pessoa’, que todo livro é a aventura de uma ‘vida’, e que a busca de alguém pela literatura é trabalhar aspectos da vida que não se consegue no cotidiano. E nada mais lógico que utilizarmos da Mitologia e da Psicologia para suprir as necessidades do leitor. 

Gianpaolo Celli é escritor e editor, além de administrador de empresas. Tem se dedicado ao estudo de ocultismo, esoterismo e mitologia. É colunista do site de neopaganismo “Tribos de Gaia”; co-autor da coleção Necrópole: “Histórias de Vampiros” (2005), “Histórias de Fantasmas” (2007) e “Histórias de Bruxaria” (2008); das coletâneas “Visões de São Paulo – Ensaios Urbanos” (2006) e “Paradigmas, volume 3″ (2009), e co-editor e co-autor dos livros “Histórias do Tarô” (2008) e “Steampunk” (2009).

Senti que o tempo foi muito curto para um assunto tão rico e extenso como o proposto. A impressão que tive é que Celli conseguiu desenvolver apenas 1/3 do assunto que tinha preparado. E talvez por isso que eu tenha ficado com uma terrivel sensação de quero mais. Mas, o que foi dito me pareceu uma boa dica  não somente para criação de personagens na literatura, mas também para a criação de personagens em geral, a melhor exemplo: no RPG.

Acho que uma palavra seria o centro perfeito do raciocínio da oficina: Verossimilidade.

Criar personagens com pé no chão é o espirito da coisa. Mesmo para literatura fantástica, a verossimilidade de fatores como o personagens e suas faculdades e o ambiente em que vive, parece ser o melhor ponto de partida para ganhar um público em suas histórias.

Que professor de história é quase atirador de elite? Ele, Tom Mason, é claro.
Há coisas que de cara são longe de serem verossímeis, mas ainda assim agradam, mesmo não fazendo sentido. Como por exemplo, acompanho a série Falling Skies, que tem como cenário uma invasão extraterrestre ao nosso planeta e um grupo de sobreviventes humanos. O protagonista da série chamado Tom Mason era nada mais nada menos que um professor universitário de história, no entanto ele assume o importante posto de combatente dentre o grupo de sobreviventes. E não é preciso muitos episódios pra ver que o sujeito sabe o que fazer com uma arma de fogo, calibre baixa ou não. E então eu me pergunto quando que um professor de história teria aprendido a usar armas de fogo? É algo necessário para osua sobrevivência nesse mundo dominado, mas que não tem sentido, e pra ter algum sentido deveria existir uma explicação muito boa da vida do personagem, do seu envolvimento com armas. Me lembro agora, também, da série Lost, com o doutor Jack Shephard, um dos principais. Doutor, cirurgião. E usava armas de fogo tão bem que me fazia pensar se ele já fora doutor em alguma Guerra, pois não houve explicação de como o doutor aprendeu a atirar (até parece ser algo universal, uma coisa que todos aprendem nas escolas).

No entanto, essa falta de verossimilidade (gostei desta palavra) não é uma penalidade muito grande, ao menos para estas séries (e só é notada por chatos que se sentem criticos, como o bardo aqui). Mas na literatura isso pode ter um peso monstro. Daí a importância de explicar bem o que é o personagem, e o que ele sabe. Criar um personagem para uma história não é nada diferente de criar um personagem para RPG. Você seleciona suas proezas, suas capacidades, monta seu passado e todo o resto, tudo de acordo com o ambiente. Como por exemplo, se você desenvolve um conto de vampiro, onde o protagonista veio ao Brasil junto às embarcações de Portugal, e vive por aqui desde então, é de se esperar que o nome original dele seja português, como um Manoel ou Joaquim, e talvez ele tenha conhecimentos de navegação e concerteza de história.

Walter White. Pra ele vale a frase "Gostamos dos personagens por suas qualidades, o amamos por seus defeitos" (ou quase isso).
Um personagem que gosto muito, que é bem verossímil, é o doutor Walter White, protagonista da série Breaking Bed. O senhor é professor de química, altamente graduado na ciência, que calhou de se tornar traficante, mas traficante raiz, literalmente, pois ele cria a droga graças ao seu conhecimento químico. Ou seja, ele faz coisas que não se encaixam em seu perfil social mas que fazem sentido, pois é uma área que ele domina muito bem. Já usar armas de fogo não é um talento que ele tem pois de fato nunca treinou tiro ao alvo. Isso é verossimilidade!

No RPG é terrivelmente comum acontecer essas faltas de “realismo” também. É como o jogador que cria um bárbaro dotado de conhecimentos arcanos, inteligência popular, música e ainda sabe decifrar criptografias. Além de ser bom lutador, é claro. (Bom, se ele conseguir explicar todo esse conhecimento e ainda conseguir fazer sentido ele ser um bárbaro e não um paladino, ai sim ele merece até um bônus em Diplomacia...)

Celli ainda citou que para ganhar um maior público, é sempre bom trabalhar com muitos personagens. Trabalhando com mais personagens, você explora mais arquétipos, como aquele que é herói, o outro que é cômico, o outro que engraçado, o outro que é anti-herói, e por ai vai. Geralmente quando lemos alguma história de muitos personagens, acabamos por nos apaixonar por alquele que mais se assemelham conosco ou que ao menos são o tipo que gostaríamos de ser. E se escrevemos algo com muitos arquétipos, as chances de um leitor encontrar seu “semelhante” dentro da história é consideravelmente maior, e as chances de conquistar diferentes tipos de leitores também é grande, pelo justo fato de terem diferentes tipos de personagens na trama.

E dai que o "protagonista" morreu. Ainda têm o Duende!
Daí, muitos exemplos. Como Guerra dos Tronos. Com muitos personagens e bem distintos. Sem muito esforço você adquiri paixão por determinado personagem, e sem muito esforço a série consegue prender diferentes tipos de fãs. E então aquele que parece ser o protagonista morre; aquele que mais apareceu e que mais contagiou. E então, automaticamente você busca se “apaixonar” por outro personagem. E consegue sem muitas dificuldades pois a série tem muitos arquétipos.

Houve outras citações que eu simplesmente não lembro, ou que não possuo argumentos para completar. Mas enfim, eis uma baita experiência de como melhorar uma criação literária, observando os arquétipos para personagens e a importância da verossimilidade. Esses foram os pontos que eu mais absorvi.

Mesmo aparentando ser 1/3, foi bem frutífero.

Um comentário:

  1. Pelas minhas barbas! Deve mesmo ter sido uma experiência muito interessante!

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