sábado, 7 de maio de 2011

Pontos de Vida x Condições de Dano

Minha carreira de mestre ainda é super curta e inexperiente pelo fato de, até hoje, eu só ter usado 3 sistemas na minha mesa: D20, 3D&T e M&M.

Do ano passado pra cá eu só tenho usado M&M em meus jogos. Por ter encontrado nele um tipo de equilíbrio que une o complexo de um sistema D20 com o simples sistema de distribuição de pontos que muito me lembra 3D&T. E talvez o que mais me agradou fora o sistema de Condições de Dano, substituindo os manjados Pontos de Vida.

Minhas sessões ocorrem de 3 em 3 semanas. É bom pois tenho tempo para planejar, e viver menos intensamente no hobby que as vezes gostamos tanto que passamos a respira-lo mais que oxigênio, o que faz mau a saúde, e aos estudos, e ao trabalho... Pois bem, o que acontece é que recentemente notei certa lentidão durante as minhas sessões. Algo que em determinado momento fazia o jogo parar, por que eu tinha que pensar, e/ou folear o livro.

Por um instante imaginei que minha qualidade de mestre estava caindo, eu estava ficando lento, não tinha o sistema todo em mente o que infelizmente me tornava dependente demais de consultas ao livro básico, o que atrasava o jogo. Mas pensando logicamente, o que deveria acontecer era exatamente o contrário; uma vez que os intervalos de uma sessão para outra são longos, o resultado deveria bom, afinal tive um bom tempo de “descanso” e preparo.

Então, o que me fazia perder a linha em meio ao jogo?

Na busca da resposta desta terrivel pergunta, eu fui levado a lembrar dos dias em que as minhas sessões davam certo. Aqueles “bons tempos” de antigamente. E então descobri que nesses bons tempos, eu usava sistemas como 3D&T e D20. De primeira me lembrei da característica que já a um tempo eu não trabalhava – pois ele não era presente no M&M – os Pontos de Vida. Cavando mais fundo, notei que os meus “momentos de pausa” eram nos combates; logo eles, os momentos que querendo ou não mais agradam, tanto mestre quanto jogador. E daí pra frente não foi difícil perceber que o que estava comprometendo minhas sessões era a pausa que eu fazia para descobrir a Condição de Dano que o personagem havia ficado, após receber um ataque.

E no fim eu me perguntei o que seria melhor: Condições de Dano ou Pontos de Vida?

O sistema M&M, como já disse, usa no lugar de pontos de vida, condições como machucado, abatido, moribundo. O que torna as coisas um pouco mais realistas, em relação a vitalidade dos personagens. M&M apresenta um sistema de combate rápido e nervoso, onde aplicar um único golpe bem dado pode lhe conceder uma vitória prematura. Algo que lembra mais a temática de HQ's (combates rápidos, resumidos em poucas paginas) tanto que o sistema é inspirado nelas (daí o nome Mutantes & Malfeitores).

Call Of Duty 3. Nada de barra medindo a vida; levou uns dois tiros já pode reiniciar.
 Eu uso o sistema pra jogar fantasia medieval, no caso, no cenário de Tormenta. E o realismo é ainda mais profundo, se pensarmos em fantasia medieval: Geralmente, é difícil ver personagens de filmes e series do estilo resistindo uma certa quantidade de cortes de espada, ou até mesmo mais de uma flechada. O sistema providencia exatamente os limites do seu personagem, onde uma simples flecha pode infligir dano fatal. O maior problema nesse realismo é o grande risco que o mestre corre em ter um chefe de fase – elaborado e trabalhado com cuidado de mãe – derrotado em poucos golpes. Isso é no minimo frustrante, mas por outro lado, força o mestre a tornar os combates mais dinâmicos, com outros testes e desafios (ambientais talvez) além do simples ataque e defesa.

Cada Condição de Dano inflige uma determinada penalidade cumulativa, que representa o tanto que o dano esta prejudicando o personagem. No meu caso, o problema fora justamente esse, parar e buscar saber como o personagem ficou, quais as penalidades que deveriam ser adicionadas à sua ficha. As listas de penalidade nem são grandes, lotadas de numeros e calculos; não, é tudo bem simples, mas que ainda assim me “atrasaram a vida”. Coisa que certamente não aconteceria com os Pontos de Vida.

Sim. Com os Pontos de Vida o mestre via o dano no dado e no papel, menos algum numero base de defesa do alvo, e pronto; é só pegar esse resultado e subtrair do total de Pontos de Vida. Rápido, sem consulta, quase que mecânico. E o combate flui empolgante e sem muito pesar de consciência em relação a vitalidade do personagem.

Por um bom tempo eu mestrei 3D&T. E eu me lembro muito bem de um jogador que usava e abusava dos pontos de vida. O sujeito havia comprado umas 5 vezes a vantagem Pontos de Vida Extra, e ainda por cima era um bárbaro (uma das classes que mais fornece pontos de vida). Resultado: ele chegou a alcançar 68 pontos de vida, sendo um personagem de 10 pontos!

Agora imagina a dor de cabeça que isso pode causar para um mestre. Por exemplo, um golpe em área que afetava o grupo com um grande dano, não era tão grande assim para ele.

E então, chegamos ao outro lado da moeda: “o menor nível de realismo”, digamos assim.

O sistema 3D&T foi uma criação genérica, de jogo rápido e simples e preço baixo. A inspiração desse veio dos animes e mangas, onde os poderes são monstruosos e ilimitados. É um sistema que com facilidade pode-se criar uma maquina mortífera: Para esse meu jogador, só ficou faltando as vantagens Regeneração e Imortal...

E quando ocorre algo “diferente” nos combates, como um membro quebrado ou decepado, o personagem teoricamente continuara firme se ainda possuir uma boa quantidade de pontos de vida; independente do tipo de dano que recebeu, o que manda é se ele tem ou não pontos de vida.

Não adianta Milena, você pode quebrar a mandibula do Cage varias vezes, mas enquanto não zerar a barra de vida ele num vai cair.
Não sou a pessoa certa para falar de forma geral, pois não joguei outros sistemas que usam pontos de vida. Mas arrisco dizer que todos sistemas que usam pontos de vida devem sofrer desta falta de realismo, em um momento ou outro.

E no fim eu me perguntei (novamente) o que seria melhor: Condições de Dano ou Pontos de Vida?

Enxerguei em cada um suas vantagens e desvantagens. Mas não consigo enxergar qual é melhor, pois ambos são ferramentas para o mesmo fim: a diversão, que é o jogar do RPG. Logo, não há um melhor, mas sim o que melhor se adapta ao estilo de campanha, ou ao próprio mestre (ou ao contrario? Ou não?).

Eu ainda estou na busca do que usar daqui pra frente (pois o sistema M&M fornece a opção de Pontos de Vida). Quando notar que o divertimento voltou como nos “tempos de antigamente”, ai sim terei encontrado a ferramenta certa para minha mesa.

Enfim, não foi um post didático como poderia (ficou mais como um testemunho), mas quem sabe seja identificado por alguns, que como eu, passou ou passa por tais dilemas.

5 comentários:

  1. Hahaha, ótimo pergaminho!

    Pensei muito na questão dos pontos de vida quando comecei a criar o sistema ASGARD RPG, e no final decidi que eles deveriam ser fixos e reduzidos, afim de garantir mais "realismo" às aventuras de fantasia medieval, como vemos em O Senhor dos Anéis.

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  2. Acho que está levando Pontos de Vida de maneira muito "concreta", mais do que deveria.

    Usando o exemplo do 3D&T, Poder de Fogo pode significar infinitas coisas, de armas a raios de energia ou PIOR. O mesmo ocorre com PVs. Não é porque alguém recebe dano que ele de fato RECEBE dano.

    A tradução de PVs é HP (Hit Point) e isso é diferente de "Life Point", ou seja, é o quanto você aguenta em combate, porém não necessariamente sofrendo ferimentos. Na verdade o ferimento pode ser somente o ultimo ataque, o que te deixa com 0PVs, o resto é interpretativo: arranhões, acertos de raspão, cortes na roupa, ofensiva bem sucedida do inimigo, cansaço do personagem, QUALQUER COISA que mostre que o personagem está em desvantagem em relação ao combate ou o contrário perante o inimigo.

    É o que eu acho pelo menos ~~

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  3. Estou tentando imaginar o trabalho que teve, caro Odin.

    E realmente Hunter, talvez eu tenha uma visão um tanto severa em relação aos pontos de vida. Mas concorde que no meu exemplo citado, do personagem com muito PVS, seria meio dificl considerar o numero de danos que ele aguentava como "interpretativo". Mas enfim, entendi o que quis dizer e valeu o comentario!

    (hm... Sempre pensei que HP fose "Health Points")

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  4. Torinks, recomendo o sistema de Rolagens de Dano proposto pelo Manual do Malfeitor, é muito mais rápido (não precisa consultar nenhuma tabela) e usa o mesmo sistema de condições do Mutantes & Malfeitores.

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  5. Opa, ainda estou pra adquirir este livro, justamente pela variedade de regras. Valeu a dica!

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