quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Trilogia Tormenta

O cenário de RPG “Tormenta” possui certa fama em nosso país, principalmente por ser o primeiro cenário de RPG brasileiro. A partir deste cenário, muito foi desenvolvido na área do RPG, como um sistema de jogo, (no caso o famoso Defensores de Tóquio e suas edições) uma revista propria e até mesmo uma saga em HQ's (Holy Avenger) que fora grande febre anos atrás. Dentre outros suplementos e acessorios, todos dedicados ao cenário de Tormenta, que ganhava cada vez mais espaço. Mas, uma coisa que ninguém esperava era esse mesmo cenário de jogo ser explorado também por literatura! E ainda por cima em uma trilogia!

Eu levei cerca de um semestre para ler os três livros. E posso dizer que foram as primeiras obras literárias que eu tive contato, porque na verdade eu nunca tive gosto por literatura (me contentava muitas vezes com contos breves), e somente ano passado eu descobri os livros, que tinham como base um cenário que eu sempre gostei. Experimentei ler uns primeiros capítulos, e gamei de vez. Recentemente eu conclui a leitura, e não podia deixar de resenhar “O Inimigo do Mundo”, “O Crânio e o Corvo” e “O Terceiro Deus”.

Leonel Caldela é o nome da genialidade por trás da trilogia. Ele não fez somente uma nova bolha de dinheiro para o cenário, muito pelo contrario, ele usou o cenário para expor sua competência e criatividade, sendo hoje, considerado por alguns, um dos melhores escritores de fantasia (principalmente com seu mais novo trabalho – O Caçador de Apóstolos).

Antes, algumas explicações básicas.

Arton é o nome do mundo, ambientado em um clássico clima medieval, com deuses, dragões, espada e magia. Um mundo completamente rico em variedades.

O nome “Tormenta” faz alusão à uma ameaça que assola Arton. Uma cadeia de densas nuvens vermelhas que simplesmente surgem, como se fossem uma outra realidade independente, invadindo a realidade do mundo de Arton. Onde as nuvens pairam, existe uma série de fenômenos auto-destrutivos, dentre o mais característico temos chuvas de ácido e relâmpagos, e cataclísmas que destroem e recriam de forma bizarra a realidade a volta. Fora que, junto com esses efeitos, surgem seus habitantes: demônios horrendos, com fisionomia insetóide. A esses lugares foi dado o nome de “Área de Tormenta”. E uma pessoa que esteja dentro de uma Área de Tormenta sofre inúmeros danos, tanto físicos como mentais. E essas áreas surgiram em varios pontos do mundo, invadindo Arton, sendo então esta ameaça o centro do cenário.

Então, o primeiro livro da trilogia – O Inimigo do Mundo – tem como objetivo relatar a vinda da Tormenta, e porque ela veio. E o autor nos leva a uma época passada do mundo, para descobrirmos sobre a Tormenta.


Encontramos em O Inimigo do Mundo, um material perfeito, descrevendo o mundo sem muitas dificuldades conforme se resolve a trama. Destaque para os capítulos onde deuses interagem, ajudam e muito a ter uma ideia da personalidade de cada um, não que isso já não fosse possível antes, mas agora ficou muito mais claro, como por exemplo a insanidade de Nimb, o deus do Caus, e o orgulho de Thyatis o deus Fênix da Ressurreição e Profecia. Leonal explica tudo de forma bem sucedida, ao ponto de qualquer um entender bem o mundo, mesmo que esse não conheça o cenário ou RPG. É quase um livro independente, sem precisar de muito para compreende-lo.

A trama gira em torno de um grupo de aventureiros caçando um assassino procurado. Mais da metade do livro fica somente na perseguição, e esse tempo é muito bem aproveitado para que o leitor conheça a fundo cada personagem do grupo (são nove no total).

Ao mesmo tempo, vemos Glórienn, a deusa dos Elfos, arrasada por causa da queda do seu povo, após uma longa guerra contra os Goblinóides, crias de Ragnar, o deus da Morte. Glórienn é tomada por um sentimento de vingança, saindo em busca de uma arma, para usar contra o rival Ragnar. Ela ouve falar de uma chuva, e restava somente a permissão dos outros deuses para que sua arma, que seria essa chuva, chegasse á Arton. E essa chuva era a Tormenta. E mal sabia ela o estrago que causaria...

2ª Edição do 1º Livro.
 Uma coisa que me chamou atenção é que Leonel Caldela não tem dó de suas crias. Todos os personagens são bem criados e desenvolvidos no decorrer do livro, e chega a ser surpreendente como eles são descartados, mortos. Os combates dão grande atenção para detalhes realistas, como a perda de um dente ou olho; pois nesta história não existe aqueles personagens que no fim de um combate permanecem com o corpo e a roupa conservada; aqui os personagens principais podem morrer de forma crua e pouco heróica. Temos então um clima de drama que flerta com o terror da realidade medieval do mundo, onde as certezas são poucas. Simplesmente genial.

E essa visão do mundo, uma fantasia medieval sombria, colaborou e muito para melhorar a fama do cenário, tornando as coisas mais sérias, mais adultas.

“O Inimigo do Mundo” é um livro que – apesar de fazer parte de uma trilogia e deixar muitas pontas soltas na trama – tem um final. Mas para ler o seguinte é preciso estar ciente dos eventos contidos neste.


O 2º livro, intitulado “O Cranio e o Corvo”, nos deixa na época atual, onde o Reinado (em outras palavras, as civilizações) monta um exercito para enfrentar uma Área da Tormenta e seus demônios, nas fronteiras de um reino. Em um primeiro confronto os artonianos não obtém sucesso, e o livro parte dai. Pós batalha, muitos soldados tiveram contato com simbiontes criados da própria Tormenta. Esses simbiontes agem como parasitas, corrompendo a mente e o corpo de quem fosse “picado”.

“O Crânio e o Corvo” é um livro de guerras. No primeiro, eram nove aventureiros; aqui temos hordas e um comandante inspirado. Aqui temos guerra contra a Tormenta, guerra contra um exercito corrompido, intrigas e estratégias politicas, personagens marcantes, e um bom nível de violência.

Neste livro, se nota certa liberdade do autor, em usar personagens, em ampliar a trama colocando mais e mais coisas para se resolver. Chegou uma hora que pensei ser impossível resolver tudo já criado em um único livro. Grande engano.

"O Terceiro Deus" e sua arte fenômenal!
 “O Terceiro Deus” é simplesmente uma progressão do seu antecessor em todos os sentidos, tudo esta melhor e mais intenso. Personagens do primeiro livro reaparecem. A Tormenta se mostra cada vez mais imbatível, espalhando sua influencia pelo mundo. Um exercito de deuses menores é criado para combater a terrível ameaça. Um deus desperta de um longo sono. Os reinos se encontram a beira de um colapso politico. Mortes. Vinganças. Promessas. Aqui é onde tudo se resolve!

Enquanto o primeiro livro trata de explicar a chegada da Tormenta no mundo de Arton, “O Terceiro Deus” explica sua verdadeira origem, e apresenta o principal criador deste universo paralélo, daí o nome do livro, pois verdades sobre um deus outrora banido são reveladas, sendo ele o único capaz de deter a ameaça.

A grande responsabilidade de encerrar uma trilogia passou longe de ser um problema para Leonel. O livro é cuidadoso com cada personagem principal, sabendo dar um devido final para cada um, sem alterar muito o cenário. Como por exemplo, a própria Tormenta sofreu uma grande perda, mas ainda não esta extinta por completo. E muitas coisas são deixadas soltas, para que sejam aproveitadas em futuros eventos. Simplesmente genial.

Enfim. A Trilogia Tormenta amplia a criatividade de um cenário de RPG e ao mesmo tempo faz a literatura fantástica nacional respirar. Chega a ser difícil destacar o que mais encanta em todo romance, por ter inúmeros pontos altos. O máximo que posso fazer é recomenda-lo. Tenho certeza que qualquer amante de fantasia medieval, do cenário de Tormenta e de RPG, irá apreciar esta fantástica obra!

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