"O tsunami de informações de hoje intensifica a crise narrativa, afundando-nos no frenesi de atualidade. As informações fragmentam o tempo. O tempo é reduzido a uma faixa estreita de coisas atuais. Falta-lhe amplitude e profundidade temporais. A compulsão pela atualização desestabiliza a vida. O passado não produz mais qualquer efeito no presente. O futuro se reduz a um update permanente de coisas atuais. Assim, existimos sem história, porque a narração é uma história. Não só as experiências na forma de um tempo compactado, mas também as narrativas futuras na forma de um tempo a ser descoberto se perdem para nós. A vida que se desloca de um presente para o outro, de uma crise para a outra, de um problema para o outro, reduz-se a uma sobrevivência. A vida é mais do que solução de problemas. Aqueles que só solucionam problemas já não possuem futuro. Somente a narração desvela o futuro, somente ela nos dá esperança."
Sonata do Torinks
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Reduzido a uma faixa estreita de coisas atuais
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Esta é a sua arte
Parasita: é um verme, um verme rastejante que deseja engordar à custa de vossas feridas.
E esta é a sua arte: adivinhar os lugares cansados onde as almas ascendem: é na vossa dificuldade e no vosso desânimo, na vossa modéstia sensível que ele constrói o seu ninho repugnante.
Onde os fortes são fracos, onde o nobre é gentil — lá ele constrói seu ninho repugnante: o parasita vive onde o grande homem tem pequenas feridas.
— Nietzsche, em Assim falou Zaratustra.
sábado, 18 de novembro de 2023
Campina rasa
Montes à esquerda, próximos, verdes; montes à direita, longe, azuis; montes ao fundo, muito longe, brancos, quase invisíveis, para as bandas do S. Francisco. Ascendi um cigarro. E imaginei com desalento que havia em mim alguma coisa daquela paisagem: uma extensa planície que montanhas circulam. Voam-me desejos por toda parte, e caem, voam outros, tornam a cair, sem força para transpor não sei que barreiras. Ânsias que me devoram facilmente se exaurem em caminhadas curtas por essa campina rasa que é a minha vida.
— Graciliano Ramos, no Caetés
sábado, 18 de março de 2023
terça-feira, 27 de setembro de 2022
No fundo do poço... e eles não fazem nada
De uns tempos pra cá, temos falado só idiotices e isso se faz por ódio.
Matéi Visniec, gênio do teatro do absurdo, foi minha vítima da vez. Com os bolsos cheios de pão, uma peça curta que me deu meses de trabalho, é paradoxalmente um texto dinâmico e repetitivo em sua ideia principal. Amor verdadeiro logo na primeira página, aura que tentei manter até o último segundo.
Ouça "11 - Com os Bolsos Cheios de Pão" no Spreaker.